Virei devagar pra olhar o Misael, que tava recostado no carro de braços cruzados e olhando com diversão pra cena.
— Tá feito, M7. — Ele falou, olhando diretamente para ele.
— Feito. — Concordou, vindo pro nosso lado e checando o corpo do CR. — Sobe com essa merda aqui pra mata. — Mandou pra um dos seguranças dele. — Vamo dar um fim namoral pra esse bosta.
— Tu é o chefe agora. — Deduziu o Suda.
— Depois do Caburé vem eu, né? Se ele caiu, eu sou o chefe agora. — Falou, todo sorridente. Olhei-o com ódio. Como ele conseguia ser tão frio assim, porra? Ele tinha acabado de trair um cara que era amigo dele. E pra que? Por que ele queria ser o chefe? Eu tinha vontade de enfiar o meu punho na cara dele com toda a força... Porra, essa história tava muito mal contada. — Barbás, a Larica tu pode levar pra casa.
— O que que ela teve a ver com essa história? — Perguntou.
— Pergunta tu pra ela, ué. — Ele riu, indo na direção do carro e abrindo a porta do outro lado pra falar com quem estava no banco de trás. A luz da rua iluminou o passageiro e mano... Eu gelei. Gelei dos pés a cabeça e paralisei. Eu vi as postas de um cabelo escuro, a pele chocolate, o corpo feminino e todos os pelos do meu corpo se eriçaram. Na hora, eu me debrucei pra dentro do veículo e dei uma boa olhada naquela pessoa... aquela que tinha dado o primeiro tiro no Caburé. Caralho? Caralho! Eu tava alucinando? Mano, eu tava fora de mim certeza.
— Mãe? — Falei, engolindo em seco. A mulher nem olhou pra mim, fingiu não ter me escutado, mas eu conhecia bem aquela silhueta e aquela voz. Eu conhecia aquela pessoa. Ca ra lho. — Mãe? — Eu insisti, chamando num tom mais incisivo, duvidando sériamente do que eu tava vendo. Será que depois daquilo tudo, tudo o que eu tinha passado, eu sentia falta da minha mãe? Era por isso que eu via ela ali? Por que eu sentia falta de um colo, da segurança dos braços da minha mãe?
— Tira ela daqui, Misael. Agora. — Ouvi ela sussurrar para ele.
— Bora, mina. Circula nessa porra ai que eu tenho muito coisa pra fazer aqui ainda. — O M7 deu a volta no carro e me pegou pelo braço, me puxando com força pra longe dali. Eu não consegui parar de olhar lá pra dentro, mesmo quando eu não consegui ver mais a pessoa.
— Eu tô ficando doida? — Perguntei, quando ele me soltou de maneira brusca.Ele não me respondeu, mas falou com um dos caras dele, que entrou no carro e meteu o pé. Enquanto isso, um outro pessoal arrastava o corpo do Caburé rua acima numa cena nojenta, já que um rastro de sangue ia marcando o chão no caminho. Era um filme de terror... Olhei desolada ao redor e parei meus olhos perto do grupo que tava desamarrando e amparando a Larissa. Queria chegar perto pra ver se ela tava bem, mas meu estômago tava revirando muito, um enjôo absurdo me balançou. Me afastei vários metros e abaixei perto de um poste do outro lado da rua e simplesmente coloquei tudo o que tinha comido pra fora. Foi automático, eu vomitei de nojo e incredulidade. Que porra foi essa? Eu ia me internar depois que tudo isso acabasse. Sei lá, ia tomar um pancadão pra cabeça...
— Nina? Tudo bem? — Perguntou o TK, passando a mão nas minhas costas.
— Tô de boa, me dá um tempo ai, por favor. — Pedi, pedindo pra ele ir embora com a mão. — Eu já vou.
Ele saiu de perto e eu me coloquei no lugar de novo. Levantei, me sentindo mais apresentável alguns minutos depois e voltei pra perto do pessoal. Eles tavam falando um pouco sobre o que tinha acontecido e combinando de ir todo mundo pra casa seguro. Ninguém queria dar as costas e tomar um tiro, ainda mais que quem tava de frente agora era um cara que todo mundo tinha meio a cara virada. Eu tava me sentindo mal e já tava ansiando pela minha cama. De novo... Quantas mais vezes o meu dia ia ser cheio de merda, que nem aquele, e eu ia chegar no final querendo só ir pra cama e apagar? Mais que isso, eu precisava digerir o que tinha rolado. Precisava de um tempo pra pensar... De ter certeza de que eu não tava só não aguentando o tranco e surtando, por isso, vendo e ouvindo coisas.
— Tu tá de boa mesmo? — Barbás perguntou, quando passou seus olhos por mim.
— Tu duvida?
— Lógico, tu tá palida, acabou de vomitar. — Senti a mão dele passar suavemente pela minha cintura, num gesto super discreto.
— Eu tô de boa. Mesmo. — Passei a mão no rosto, sabendo que tava na minha cara que era mentira.
— Vamo geral dormir lá em casa hoje, minha sala tem espaço pra todo mundo. É melhor ficar todo mundo junto, só pro caso do cuzão do M7 querer fazer a limpa nessa favela antes do dia amanhecer. — Propôs o Barbás e, como o Russo concordou de primeira e disse que buscaria a Lila, só me restou concordar também. Tinha sido assim também quando o Caburé chegou de frente, eu fiquei sabendo. As "limpas" aconteciam na calada da madrugada das primeiras noites, preparação de terreno pro novo rei.
Da minha cabeça a imagem que eu tinha tido não saia. Não podia ser minha mãe naquele carro, podia? O que que tava acontecendo? Só de pensar, eu já sentia vontade de vomitar de novo.
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Amor na Guerra
Romanceㅤㅤ ㅤ"Geral quer ser rei, conspiram pro tempo que não espera. Impérios caem com novos reis, os tempos passam a ser de guerra." MC Marechal ㅤㅤ ㅤO sonho do moleque é ser chefe, o do vapor, do gerente e do segurança também é. O sonho do chefe é sobreviv...