— Tá bem? Tá machucada? — Escondi o meu rosto no ombro dele, apertando meu irmão por vários segundos.
— Tô bem, Wallace.
— Tu não parece bem não, o que que houve? Como que isso aconteceu, Nina? Pelo amor de Deus, porra.
— Não quero falar disso hoje. — Pedi, me separando dele um tempo depois. Eu não ia chorar na frente dele, na boa mesmo. Ele não merecia isso. Foi quando eu vi o Barbás parado atrás de nós. Apesar daquela parte da rua estar meio escura, já que a iluminação não favorecia, eu conseguia ver alguma coisa diferente na cara sempre impassível dele. Ele franzia a testa e parecia sério com as sobrancelhas mais juntas. Se eu não conhecesse bem a peça, eu diria que era uma expressão contida de preocupação... ou de tristeza? Mas por quê? por mim?
— Russo, o CR tá te chamando. — Falou baixo, botando a mão no ombro dele. — Vai lá ver o que ele quer, irmão. Eu levo lá pra casa pra tu. — Prometeu. Depois de mais um abraço e uma conferida completa em mim, ele meio que se convenceu de que eu estava falando a verdade e me deixou com aquele que considerava um amigo.
William se aproximou de mim, mas não me tocou de nenhum forma. Só parou na minha frente e me encarou. Ele não fez da mesma forma que o Russo, que fez quase um exame em mim, mas estava olhando pro meu rosto. Eu sustentei o olhar dele o quanto eu pude, antes de passar a mão nos cabelos e desviar o foco da minha visão para os meus pés. Ele passou a ponta dos dedos no meu rosto, em algo que parecia um carinho... Me afastei dele, dando muitos passos pra longe, parando na entrada de um dos muitos becos daquela favela, encostando no muro.
— Vamo, vou te levar pra casa. — Falou em um tom baixinho, parando há vários centímetros afastado de mim. Acho que tinha entendido que eu precisava de espaço pra respirar.
— Eu não quero ir pra minha casa. Não quero que a Lila me veja assim. — Cruzei os braços, olhando pro céus, esperando que os meus olhos secassem.
— Bora pra minha então, vem. — E estendeu a mão na minha direção. Fiquei um tempão olhando pra ela, não sabendo bem o que fazer. — Eu sei que tu tá puta comigo, mas porra, vem comigo. — Pediu, controlando a própria impaciência.
— Qual o nome do seu filho? — Perguntei, ainda me sentindo irritada com ele. Muito irritada. Eu não ia ceder sozinha, nem fodendo... mesmo que eu precisasse muito disso.
— Sérião? Agora?
— É. — Murmurei, puxando o ar para os meus pulmões de novo. Era uma noite fria pra caralho.
— É Pedro.Eu tentei dar um sorrisinho de canto, mas o meu corpo me traiu. É provável que parecesse mais uma careta de dor do que um sorriso de verdade. Eu peguei a mão dele e ele me levou até a moto, eu nem prestei a atenção no trajeto até a Dioneia, onde ficava a casa dele, mas pela demora, eu sabia que tivemos que ir por dentro das vielas da favela até chegar lá também. Dia de baile era foda... Eu só tava me perguntando porque caralhos ele tinha escolhido bem aquele dia pra fazer essa porra. Por quê não um dia de semana?
Barbás colocou a moto pra dentro e nós dois descemos, entrando na sala dele. Eu me sentia muito mal, mas aquele filho da puta fazia eu me sentir segura de alguma maneira. Melhorava um pouco as coisas...
— Eu não tenho outra roupa pra vestir. — Falei, parada no meio da sala, enquanto ele ia acendendo as luzes todas e jogava o fuzil dele em cima do móvel de madeira do bar.
— E desde quando isso foi um problema pra tu aqui em casa? — Respondeu, me chamando com a mão para o 2° andar, onde ficava a suite dele.
Eu subi e entrei pro banheiro já arrancando todas as roupas do corpo. Ficar com aquelas coisas ensopadas de sangue no meu corpo estava me dando agonia. A parte boa de ser o William ali comigo é que ele já tinha me visto pelada tantas vezes que eu nem me importava de fazer aquilo na frente dele. Eu quase corri pra dentro do box, ligando a água quente e entrando debaixo do chuveiro de uma vez só.
E foi ali, sentindo aquela sujeira escorrer pra longe de mim, que eu finalmente relaxei. E quando eu finalmente relaxei, foi quando eu desmontei. Completamente. Eu encostei no piso frio da parede e só chorei. Deixei que tudo aquilo que eu tinha guardado dentro de mim durante todo aquele tempo fosse pra fora também, indo embora com a água morna que lavava o meu corpo. Eu chorava alto, não querendo mais controlar aquela sensação de pressão no meu peito. O dia tinha sido uma merda, eu tinha feito coisas que eu não imaginei nunca que eu faria na vida... Eu me sentia mal pra caralho.
Barbás, que até então estava só observando do lado de fora, tirou a roupa também e entrou comigo no box. Eu quis empurrar ele pra fora, mas eu não tive força pra isso.
— Shhh, fica quietinha. — Falou, me virando de costas. Eu só senti ele lavando meu couro cabeludo no momento seguinte. Senti o cheiro de lavanda do shampoo e o movimento suave sobre os meus cabelos. A cor da água que deixava o meu corpo era marrom, de tão suja de lama e sangue que eu estava, mas ele não pareceu realmente se importar com aquilo. Também não havia nada de sexual naquele toque. Era só... cuidado?
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Amor na Guerra
Romanceㅤㅤ ㅤ"Geral quer ser rei, conspiram pro tempo que não espera. Impérios caem com novos reis, os tempos passam a ser de guerra." MC Marechal ㅤㅤ ㅤO sonho do moleque é ser chefe, o do vapor, do gerente e do segurança também é. O sonho do chefe é sobreviv...