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A gente conseguiu pegar as motos e subir pela principal sem muita dificuldade depois daquilo. Como eu não era lá uma boa pilota, eu fui de carona com o Suda e fiquei com a pistola na mão, caso tivesse que defender a gente. O tiroteio tava comendo firme na parte baixa, mas as áreas de cima ainda estavam tranquilas. Ainda não tinha chegado ali, o que significava que a contenção dos soldados da Rocinha tava firme ainda. No fim a gente tinha conseguido tirar o Caburé da merda, então, a plano dos caras tinha falhado. O CR continuava vivo e atirando.

A gente parou a moto no inicio da Rua 1 e subimos correndo a rua, enquanto uma parte do grupo ia ficando de guarda nas esquinas. Eu ia ficar numa dessas, mas ele fez questão que eu continuasse com ele. Era esquisito da parte dele, mas eu nem quis questionar. Ele já tava nervoso com a situação toda, todos nós, na verdade. Quando a gente chegou ali na Rua 1, por outro lado, a gente soube que tinha marcado um golasso. Ia ser muito mais difícil eles botarem a mão no Caburé agora. Ainda mais porque eles tavam tendo dificuldade lá no ínicio da favela ainda.

O CR entrou pra dentro da sala dele e eu fiquei ali do lado de fora, sendo vigiada pelo Suda, segundo as ordens do próprio Salvador.

— Qual é, porque cês tão me tratando como se fossem minha babá? — Botei a mão na cintura, puta com aquilo. — Que porra, mano.

— Tô só seguindo o que o patrão falou. — Se defendeu o Suda.

— E qual a porra do problema dele comigo? — Quis saber.

— Sei lá, India. Depois tu pergunta pra ele.

— O meu nome não é Índia, é Marina. — Rebati, puta.

— O CR te chama assim, filha. Eu só tô repetindo. — Se defendeu, virando pra frente e passando um rádio pro pessoal da linha de frente, pra saber o que tava rolando.

O meu celular tocou no bolso e eu virei pra atender. Na tela, o nome do Barbás brilhava... Caralho, finalmente! Pressionei no verde e coloquei o aparelho no ouvido.

— Onde você tá? — Perguntei, sentindo meu corpo ficar gelado de preocupação.

— Tava tentando sair da Vila Verde. Tá uma merda lá em baixo. Se liga... — Falou e eu sai pra interromper ele de novo.

— Tá e o que tu tava fazendo antes de tentarem matar o Caburé? Aliás, mano, o que tu teve fazendo a semana toda?

— Porra, não interessa, dá pra me escutar? — Rebateu com uma grosseria do caralho. — Vai ficar desconfiando de mim nessa porra?

— Não tô desconfiando, eu...

— Cala a boca e me escuta, caralho. — Dessa vez foi ele quem me interrompeu. Pelo jeito como ele falou, parecia que ele tava gritando e aquilo não parecia nada com o jeito dele agir normalmente. Ele também tava nervoso, isso dava pra saber só pelo tom na voz dele, e isso tava tomando conta dele. Era estranho pra alguém que parecia estar sempre em controle.

— Fala.

— Onde tá o Caburé?

— Tá na sala dele. A gente tá aqui guardando ele.

— Então é o seguinte, não deixa ninguém entrar. Pode ser a porra do Papa, não é pra deixar ninguém chegar perto dele. Ninguém mesmo. — Mandou. — Passa isso pros seguranças dele e fala que é eu quem tô falando. Eu tô chegando ai.

— Beleza. — E ele desligou sem nem se despedir. Babaca. — Coé, gente. O William falou que não é pra deixar ninguém entrar na sala e que ele tá chegando ai.

— William? — O Suda perguntou e eu olhei pra ele como se fosse óbvio. Ai eu lembrei do lance de que todo mundo achava que o nome do Barbás era Barbás... Realmente, ninguém chamava ele pelo nome de batismo.

— O Barbás, po. — Corrigi, me apoiando no muro da escritório.

Nos primeiros minutos foi tudo de boa. A gente ficou ali, esperando a morte da bezerra, só tendo notícias do que tava rolando nas entradas. Tava tudo de boa, aparentemente, os alemão pareciam estar recuando para a saída e parecia que era mais um gol nosso. Alguns gerentes, incluindo o Russo, passaram pela gente pra ver como tava as coisas e desceram pra ajudar a terminar de escorraçar os invasores e levar os irmão baleado pro hospital. O M7 chegou por último, com a tropa dos próprios seguranças dele, dentro de um carro preto.

Ele veio pra nossa frente, querendo passar e nenhum de nós se mexeu da entrada da sala.

— Tenho que falar com o Caburé, circula. — Mandou.

— Ele mandou não deixar ninguém entrar. — Falei, quando o Suda fraquejou. Botei aquela ordem na conta do CR pra atrasar aquele filho da puta.

— Foda-se, eu tenho que falar com ele, porra. — Disse e como eu não me mexi, ele aproximou o rosto do meu, pra me intimidar. Eu engoli em seco, mas não me movi um centímetro sequer. — Tá surda, puta?

Eu não respondi, mas não me mexi também. Quando ele ameaçou fazer qualquer coisa contra mim, eu meti a mão na cintura e tirei a pistola, apontando pra ele.

— Ninguém vai entrar, mano. — Repeti.

Ele espumou, eu senti isso. Espumou pra caralho, mas se segurou. Ele se afastou vários metros e coçou a cabeça. Eu continuei firme.

— Então chama ele. — Mandou, voltando mais calmo uns segundos depois. — Fala que eu peguei o X9.

Olhei pros seguranças do Caburé desconfiada, depois, olhei pro grupo que vinha com o Misael e que foi cobrindo as partes onde os do CR estavam em falta, ajudando a reforçar a segurança da rua. Não tinha nada de errado ali... se pá, eu só estava sendo implicante com o M7 porque eu queria muito dar um tiro nele. Então, eu me virei e subi as escadas pro escritório sozinha, batendo na porta e entrando em seguida.

— Salvador, o Misael tá ai. — Falei e ele largou o rádio. — Ele falou que pegou o cara que x9vou onde tu tava.

— Pegou? — Ele mesmo parecia surpreso e tomou a iniciativa de ir pra fora ele mesmo.

Amor na GuerraOnde histórias criam vida. Descubra agora