Eu e a mulher nos olhamos de novo. Ela com uma cara puta no rosto e eu sustentando o olhar dela. O Caburé queria jogar lenha na fogueira mesmo, que pau no cu. Eu não tinha cabeça nem pros dramas da minha família, imagina a dos outros. Nem fodendo.
— Vai falar com ele não, Cláudia? Ele é...
— Que sogra o que, irmão. Viaja não. — Cortei ele, sentando na cadeira de frente pra ele. — Ela vai participar? — Perguntei, apontando na direção da mulher com a cabeça.
— Ela tá de saída já, né não? — Falou, olhando pra ela, que negou com a cabeça.
A mulher morena deu uma última olhada pra ele, depois pra mim e fui na direção da porta, parando nela antes de sair.
— Tu tá fazendo merda, Salvador. Tu sabe que tá. — E saiu. Eu virei pra ele na mesma hora.
— Essa era a mãe da Marina? — Perguntei, deixando o fuzil no chão do meu lado.
— Ela mermo. — Concordou com a cabeça.
— E ela veio te encher porque a Nina entrou pro tráfico?
— É essa porra ai mesmo. Cláudia é doida pra caralho. — Falou e eu notei que ele sabia alguma coisa que não ia me falar. O tal do esquema com a mulher. Que esquema?
— A Nina sabe disso ai? — Falei, sabendo que ele ia entender do que eu tava falando.
— Parceiro, se eu fosse tu, eu nem me metia nessa merda ai não. Aproveita que tu pode e fica de fora. — Falou e aquilo me deixou com a pulga atrás da orelha. Eu sabia que significava que a Marina provavelmente não sabia de nada do lance dele e da mãe dela. Alguma coisa tava errada pra caralho... — Agora bora pro que importa de verdade. O que tu acha do lance que tu ouviu do Siqueira?
— Eu? Eu acho que tem mais alguém aqui dentro dando a planta pros caras dos alemão. Ele não ia ter tanta certeza se fosse só ele pra dar conta da porra toda.Ele parou por um tempo, parece que tava pensando de acordo com a linha que eu ia dando pra ele.
— Tá me dizendo que tem um rato na minha favela?
— Eu acho que tem, mas certeza mesmo eu não tenho nenhuma. — Dei de ombros. — Nem o Siqueira sabia direito, mas eu acho e nada tira essa porra da minha cabeça.
— Quem tu acha que é? — Perguntou.
— Pode ser qualquer um, irmão. É pra tu ficar de olho. — Dei de ombros.
— Então corre atrás de saber isso ai pra mim. — Mandou.
— Tu quer que eu investigue os irmão? Todo mundo?
— É, po, mas faz na encolha. — Falou, concordando com a cabeça. — Vai atrás de saber o que esses caras tão fazendo, principalmente os que tão mais perto de mim, tá ligado? Se tu tiver alguém agindo esquisito ou se pegar no erro, tu me fala na hora. — Ele abriu uma gaveta da mesa dele e jogou um rádio menor na minha frente. Ele era pequeno e só tinha um par, o dele.
— Suave. Vou deixar o TK gerenciando a Barcelos essa semana, então. — Avisei.
— Tá tranquilo, só fica na atividade se for sair da favela. Tu sabe que o negócio lá com o batalhão ainda tá uma merda. — Avisou, se recostando na cadeira de novo. — Tô contando contigo parceiro.
— De boa. — Levantei e apertei a mão dele, depois, coloquei o rádio na cintura e sai dali, pensando por onde eu ia começar. Podia ser qualquer um nessa porra e podia ser ninguém também. Era procurar uma agulha num palheiro, mas é o que tinha pra hoje. Se tinham me dado um serviço, eu ia fazer e ia fazer bem feito.

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Amor na Guerra
Romanceㅤㅤ ㅤ"Geral quer ser rei, conspiram pro tempo que não espera. Impérios caem com novos reis, os tempos passam a ser de guerra." MC Marechal ㅤㅤ ㅤO sonho do moleque é ser chefe, o do vapor, do gerente e do segurança também é. O sonho do chefe é sobreviv...