— Vai ficar ai? — Perguntou, alguns metros na minha frente. Eu nem tinha conseguido reparar no exato momento em que ele tinha chegado ali.
— A gente vai entrar? — Apontei pro monte de mato com a cabeça.
— É, a gente vai se esconder na mata. Tava esperando um hotel, fi? — Falou como se fosse óbvio. Eu nem discuti, só segui ele, enquanto seguia a passos largos para a proteção das árvores de copas altas e densas. Ali ninguém conseguiria ver a gente, era inteligente. A merda é que minha bateria tava acabando e eu não ia aguentar muito mais tempo subindo aquela ladeira úmida e escorregadia cheia de folhas secas e lama. Ali já estava escuro, era um lugar puta medonho, mas que o Barbás parecia conhecer de cor e salteado.
Sério, a gente passou mais uns 10 minutos andando, antes de eu pedir pra parar. Eu não queria, aguentei até além do que eu achei que suportaria, mas eu não aguentava mais.
— Não dá, não dá, eu não consigo mais. — Falei com a voz sofrida pra cacete. Eu não podia nem me dobrar pra descansar as mãos nos joelhos, por causa do machucado. Minha respiração estava descompassada, eu puxava o ar rápido e fundo, ela vinha ao poucos. — Eu não aguento.
O tatuado virou pra mim com o olhar de pura raiva, mas acabou suavizando a carranca quando viu a situação precária em que eu me encontrava.
— Desculpa, eu não quero te atrasar. Vai indo na frente. Eu vou... — Eu nem completei, eu não ia a lugar nenhum.
Acho que ele realmente começou a ponderar se me deixava ali ou tomava alguma outra atitude. Passou um tempo olha pra minha cara chorosa, enquanto eu encontrava um tronco pra escorar. William se aproximou devagar e pegou a barra da minha blusa, levantando ela pra ver do que eu tanto me queixava. Pela careta que ele fez, eu soube que tava bizarro... devia estão tão feio quanto estava dolorido.
— O que foi isso aqui? — Falou num tom baixo e ainda mais rouco do que o normal. Eu acabei me surpreendendo por não encontrar nenhum resquício de raiva ou irritação na sua voz. — Foi o porco do BOPE?
— Foi. — Falei simplesmente, ainda parando pra respirar em grandes lufadas de ar.
Ai ele não disse mais nada, só passou um dos meus braços pelo ombro dele e abraçou minha cintura, evitando a área machucada do abdômem, e foi me levando junto com ele. O nosso ritmo reduziu há uma velocidade quase ridícula, mas nós seguimos avançando devagar. Eu realmente tinha gastando cada molécula de energia que o meu corpo tinha no restante da caminhada, mas o que eu achava impossível, acabou por acontecer. Nós chegamos até o lugar planejado. Era uma barraca improvisada no meio do mato, não tinha quase nada lá além de alguns colchonetes já gastos e um toldo que servia para proteger da chuva. Bom... qualquer coisa era melhor que nada.Ele me botou sentada no colchonete envolto pelas paredes de lona, enquanto ele foi lá fora passar um rádio. Fiquei de olhos fechados ali, respirando e pensando em coisas bonitas, numa tentativa de me esquecer o quão acabada eu tava. Parei pra dar uma boa olhada nas minhas mãos, que estavam repletas de sangue seco... o menino... mano, nessa hora tudo o que eu tinha passado até ali voltou como um soco na meu estômago, daqueles que fazia a gente vomitar tudo o que comeu, sabe? Ai eu chorei. Chorei tudo o que eu queria ter chorado naquelas últimas horas, tudo o que eu tinha prendido dentro de mim.
— Eu devia ter escutado minha mãe. — Sussurrei pra mim mesma, remexendo-me desconfortavelmente na posição em que eu estava.
— Todo mundo fala isso uma hora, mina. Mais cedo ou mais tarde. — Ele respondeu, parado na parte aberta da barraca. Ai, ele pegou um colchonete enrolado e se sentou em cima dele, ao meu lado.
— Eu não sei se vi vir mais algum amigo pra esse acampamento aqui. Eles tão todos espalhados pela mata ai. Se vier alguém ainda, eu passei um rádio avisando que tava precisando de pomada e coisa pra curativo. — Explicou, enquanto tirava o fuzil das costas e largava ele nos seus pés. — Agora o jeito é ficar aqui até a hora que os cu fardado resolverem sair da favela.
— Você teve notícia da Xica ou do TK? Eles estão bem? — Perguntei, de olhos fechados.
— TK tá na mata também. Falei com ele agora, ele tá do outro lado da pedra. A Xica tá em casa, a mãe dela falou comigo por telefone. — Contou, esticando as pernas pra frente. — Relaxa aí, vai ficar tudo de boa. Não é a primeira e nem vai ser a última vez que isso rolou.
— Eu sei, é que... — Suspirei, limpando a lágrimas de novo. Eu devia estar deplorável, toda suja de lama e sangue seco...
— É melhor tu deitar ai e descansar pra esse roxo não ficar pior. — Falou com o jeito mandão dele, levantando e indo pra área não coberta de novo. — Pode dormir, se tu conseguir. Eu vou ficar na atividade aqui.Ele me botou sentada no colchonete envolto pelas paredes de lona, enquanto ele foi lá fora passar um rádio. Fiquei de olhos fechados ali, respirando e pensando em coisas bonitas, numa tentativa de me esquecer o quão acabada eu tava. Parei pra dar uma boa olhada nas minhas mãos, que estavam repletas de sangue seco... o menino... mano, nessa hora tudo o que eu tinha passado até ali voltou como um soco na meu estômago, daqueles que fazia a gente vomitar tudo o que comeu, sabe? Ai eu chorei. Chorei tudo o que eu queria ter chorado naquelas últimas horas, tudo o que eu tinha prendido dentro de mim.
— Eu devia ter escutado minha mãe. — Sussurrei pra mim mesma, remexendo-me desconfortavelmente na posição em que eu estava.
— Todo mundo fala isso uma hora, mina. Mais cedo ou mais tarde. — Ele respondeu, parado na parte aberta da barraca. Ai, ele pegou um colchonete enrolado e se sentou em cima dele, ao meu lado.
— Eu não sei se vi vir mais algum amigo pra esse acampamento aqui. Eles tão todos espalhados pela mata ai. Se vier alguém ainda, eu passei um rádio avisando que tava precisando de pomada e coisa pra curativo. — Explicou, enquanto tirava o fuzil das costas e largava ele nos seus pés. — Agora o jeito é ficar aqui até a hora que os cu fardado resolverem sair da favela.
— Você teve notícia da Xica ou do TK? Eles estão bem? — Perguntei, de olhos fechados.
— TK tá na mata também. Falei com ele agora, ele tá do outro lado da pedra. A Xica tá em casa, a mãe dela falou comigo por telefone. — Contou, esticando as pernas pra frente. — Relaxa aí, vai ficar tudo de boa. Não é a primeira e nem vai ser a última vez que isso rolou.
— Eu sei, é que... — Suspirei, limpando a lágrimas de novo. Eu devia estar deplorável, toda suja de lama e sangue seco...
— É melhor tu deitar ai e descansar pra esse roxo não ficar pior. — Falou com o jeito mandão dele, levantando e indo pra área não coberta de novo. — Pode dormir, se tu conseguir. Eu vou ficar na atividade aqui.
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Amor na Guerra
Romanceㅤㅤ ㅤ"Geral quer ser rei, conspiram pro tempo que não espera. Impérios caem com novos reis, os tempos passam a ser de guerra." MC Marechal ㅤㅤ ㅤO sonho do moleque é ser chefe, o do vapor, do gerente e do segurança também é. O sonho do chefe é sobreviv...