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[WILLIAM]

Irmão, eu dormi pra caralho. Também, depois de ter ficado sozinho na patrulha a madrugada toda, eu precisava apagar como eu tinha feiro agora. Acordei era quase 20h, por causa da campainha que tava tocando pra cacete lá em baixo. Levantei da cama e peguei meu celular, achando umas 30 mensagens e ligações perdidas do Russo. Que que tinha rolado?

Calcei um chinelo e sai do quarto, deixando a Marina ainda apagada por lá. Ela parecia até mais cansada que eu, então, nem me liguei em acordar ela. Desci as escadas rápido, porque o barulho de sino o tempo todo tava me irritando pra cacete. Botei a Glock na cintura e fui abrir o portão da frente. Eu nem fiquei surpreso em encontrar lá o Russo e a irmã dele Dalila. Não depois das 30 ligações. Certeza que eles tavam ali por causa da Marina.

— E ai, irmão? Qual foi?

— E ai, cara. — O Russo apertou minha mão. — Tu tava dormindo? Porra, desculpa te acordar ai, parceiro. É que eu tô puto e desesperado aqui, irmão.

— Que que foi? — Perguntei de uma vez, me escorando no portão aberto.

— Fala pra ele ai o que tu me disse, Dalila. Bora. — O Russo pressionou o mina de cabelos cacheados a contar alguma coisa.

— É o seguinte, Barbás. A Nina meio que não quis contar pro Wallace que ela foi trabalhar na tua boca, então só eu tava sabendo da parada. Ele fica fora o dia todo, então deu pra manter assim essa semana toda, até a hora dela criar coragem pra contar. Acontece que teve a operação de ontem e ela sumiu, ai eu tive que falar pro Russo, pra gente poder procurar por ela.

— Na boa, parceiro, a Nina não sabe se virar sozinha nessas porras de horas. Ela é maluca, nunca se envolveu antes com nada da firma. Cara, se alguma coisa tiver acontecido com ela... — O Russo começou. Ele tava puta agoniado.

— Relaxa, irmão. Ela tá dormindo ai dentro. Eu tirei ela da merda da situação ontem e levei pra ⁸mata. Passamo a noite lá no acampamento. — Expliquei só o grosso da noite passada. — De manhã eu passei pra deixar ela lá na tua casa, mas vocês não tavam, achei que tu tivesse escondido. Pra não deixar ela sozinha na rua, eu deixei ela cair aqui em casa.

— Caralho, graças a Deus. — A Dalila respirou fundo depois que eu contei, eles dois tinham uma cara de alívio no rosto. — Ela tava sem celular? A Nina não atendeu nenhuma das minhas ligações, essa puta.

— Não vi não. — Desconversei. — Mas pera ai, ela não falou nada pra tu não Russo?

— Nada, parceiro. Essa filha da puta ingrata do caralho... — Ele parecia puto de verdade, triste e decepcionado também. Eu quase sacava o sentimento dele ali, parceiro. Ninguém queria ver alguém da família envolvido com uma parada que podia te matar em 3 meses se tu não fosse esperto o suficiente... ou se tu não tivesse sorte. A vida errada era aquilo ali mesmo. Ele tinha toda a razão de ficar puto, a mina só vacilava.

— Entra ai, vou lá mandar ela descer. — Falei, abrindo e portão e entrando pra dentro de casa de novo. Peguei um cigarro no balcão da sala e acendi enquanto subia as escadas. A dona Maria, a tia que vinha limpar a casa, ia ficar puta falando que a casa ficava com cheiro de cigarro, que não dava pra tirar depois e uma porrada de coisa. Eu tinha prometido que não ia mais fumar ali dentro, mas depois de ontem eu tava estressado. Ainda mais por ter que lidar com cao de família dos outros. Eu não tinha nem mais a minha pra não ter que ficar aturando essas porras... não sabia lidar com isso não, filho.

— Marina! Acorda ai, tu tem que ralar. — Chamei, parando do lado dela e mexendo no lençol.

— Que? — Ela se mexeu um pouco no lugar e abriu os olhos. — Tá me expulsando?

— Russo e a Dalila tão ai, putos contigo. — Na hora que eu falei, a mina parecia que ia ter uma síncope. Ela se moveu rápido, até onde ela podia, pra sair da cama. Ai ela olhou pro próprio corpo, vendo que tava só com a minha blusa. Começou a procurar as próprias roupas no quarto. Vestiu o short de novo, mas a blusa tava nastante manchada de sangue.

— Se eles virem isso, eles vão surtar. Posso ficar com a sua blusa? Eu devolvo amanhã, juro.

— Leva. — Falei com a voz apática, esperando na porta do quarto.

Ela terminou de pegar as coisas no quarto e tava indo pras escadas, quando eu segurei ela pelo cotovelo assim que passou por mim.

— Cuida dessa porra ai, passa na UPA depois. — Falei pra ele, apontando pra lateral da barriga.

— Vou ficar de boa. — Ela concordou com a cabeça e eu soltei o braço. Ao invés dela seguir em frente, ela ficou parada, depois virou pra mim e se aproximou. — Obrigada por ter cuidado de mim. — Disse com um sorriso no rosto e beijou a minha boca. Eu não tava esperando por aquilo, mas não deixei a oportunidade ralar. Passei o braço pela cintura dela e uma das mão foi na sua nuca, respondendo ao beijo da mesma forma suave. Não durou muita coisa não, ela tava com pressa e logo desceu as escadas pra achar os dois "irmãos" dela.

A merda tava feita quando ela chegou na sala. A Dalila pulou em cima da mina pra abraçar ela, ai ela deu uma chorada, ficou claro que tava machucada. Os dois ficaram em choque, quando ela começou a contar a história de como aquilo tinha acontecido e de como ela tinha deixado o celular na boca de fumo. O Russo foi ficando vermelho, roxo, sei lá, tanto que ele nem ficou pra ouvir a explicação dela pra ele. Depois de constatar que ela tava bem, o cara virou as costas e meteu o pé. Marina ficou com cara de choro, mas sustentou bem a fita e foi embora com a Dalila, que parecia chateada, mas muito mais de boa.

Fechei o portão e fiquei ali na área do lado de fora. Sentei numa cadeira e terminei de fumar o meu cigarro. Na minha cabeça ficou o sorriso dela... a filha da puta tava mexendo com a minha cabeça. Eu tinha segurado minha onda até onde deu, mas era foda, ela era linda e tinha alguma coisa nas coisas que ela fazia que me deixava maluco, que me fazia ficar pensando nela. Porra, eu tava fazendo coisas que eu não fazia com mais ninguém. Irmão, o que eu tava na cabeça quando achei que ia ser namoral dormir com ela na minha cama?

Depois do que aconteceu com a Larissa, eu tava correndo de laço, de amor. Eu nunca foi um cara romântico, mas na boa? Agora eu achava que estava perto de vender minha alma. Parceiro, eu não servia pra casar, pra viver junto com alguém. Aquela puta tinha me estragado pra essas coisas, pra sempre. Eu não era bom pra ninguém, irmão. Nem queria alguém... Mesmo assim, tava foda de tirar o rosto dela da cabeça.

Meu rádio bipou lá dentro, eu entrei pra ver que merda tinha dado dessa vez. 

Amor na GuerraOnde histórias criam vida. Descubra agora