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— Eu vou sobreviver. Tenho que ir ver como tá o Barbás, como tá a situação dele... — Comecei falando.

— Nina... — Quem me chamou foi meu irmão. — Não dá. Você tem que sair daqui por um tempo, pra esperar a poeira baixar.

Estranhei o papo dele. Sentei ao seu lado, segurando a sua mão.

— Me conta como tão as coisas lá. Por que eu tenho que sair daqui?

— Pra você poder criar o meu sobrinho ou sobrinha bem. Olha isso aqui, Nina. Como as coisas ficaram... — Ele começou e eu concordei com a cabeça. Dalila sentou na chão, na nossa frente. — Eu tô desde de moleque no corre e teu pai, que é velho também, vai poder te confirmar as coisas que eu vou falar aqui. A gente vive de períodos. Tem tempos que a gente fica anos e anos sem ouvir um tiro direito na favela, vivendo tranquilamente, feliz... Mas tem épocas que o tempo fecha. O tempo tá fechado agora, Nina.

Concordei com a cabeça, passando a mão nos ombros dele.

— Me conta tudo. — Sussurrei pra ele.

— O Túlio ouviu uma parte da conversa e pediu pro Barbás tomar cuidado. Todo mundo lá viu o seu pai e tiraram as conclusões deles. — Disse e eu suspirei pesadamente. — Depois o Barbás foi preso contigo do lado. Os policiais nem pra delegacia te levaram, não averiguaram nada, só pegaram e deixaram no hospital. Enquanto todos nós ficamos fodido, nem a Larissa que também tava limpa, saiu ilesa. Ela tá até agora lá dando depoimento e explicando o que tava fazendo comigo naquele lugar. Aliás, foi só por causa dela, que se entregou, que eu consegui fugir.

Comprimi os lábios, assimilando tudo. Era difícil ouvir aquelas coisa e ficar de boa, mas não tinha mais o que fazer.

— Depois, tu veio pra cá. Teu pai, que tava lá e, na cabeça deles, ajudou o Parma na judaria, tá te protegendo. Tu entendeu como ficou estranho essa história?

— Eu tô entendendo. — Engoli em seco, sentindo a garganta arranhar. — Eles querem me matar?

— Difícil dizer isso, porque é você. Tu que tava lá com os homens todo dia, é foda a gente querer tirar a vida de uma pessoa que conviveu com a gente. — Explicou. — Mas o certo é isso. Se tu traiu, então, a lei é tu pagar por isso com a sua vida. Tu sabe como funciona, Nina. Judas e X9 é vala.

— Sei bem... — Concordei com a cabeça.

— Os homens que tavam leal ao Barbás, os das bocas dele, sairam hoje e foram lá pro Vidigal. Todos eles, com o TK na frente. Tomaram a favela e vão resistir lá, até achar uma outro lugar onde eles consigam ficar mais tranquilos. — Contou. — Ele tão com raiva, Nina. O Barbás caiu de um jeito muito feio, foi na covardia mesmo.

— Eu mais que ninguém sei disso. — Murmurei, sentindo um buraco no coração.

— Eu tenho medo de alguém tentar alguma coisa contra você. Se tu escolher ficar, tu não vai ter a paz que precisa pro bebê. — Disse, colocando uma mecha de cabelo meu atrás da orelha. — Tu tem que sair daqui, só por um tempinho, Nina, por favor.

— Eu não quero deixar o Barbás, Wallace. — Sussurrei.

— O Barbás tá preso, Nina. E vai ficar lá um tempo. Ele não tem como fazer alguma coisa por você nem que ele queira. Além disso, a gente nem sabe como tá o coração dele. — Rebateu, esfregando a verdade na minha cara. Engoli o choro mais uma vez. Eu não sabia de onde tava vindo aquela força colossal que me mantinha firme de pé ali, ouvindo todas aquelas coisas. — Eu e a Dalila vamos nos afastar por um tempo também. A gente tem o sítio dos nossos avós lá em Nossa Senhora do Amparo, em Barra Mansa. Deixar a poeira baixar bem, sair de cena pra tirar a polícia da minha cola. Depois... Depois eu vou voltar e vou me juntar ao TK. Quando o Barbás sair da cadeia, se depender de mim, ele não vai estar sozinho. Isso eu te prometo.

Concordei com a cabeça, deitando no ombro dele.

— Mesmo que tu não queira ir, fica pelo menos uns meses longe. Vai ser melhor. — Pediu e eu não tive como negar. A verdade é que aquela era a única alternativa. — Só pro bebê nascer.

— Nina. — Meu pai chamou depois de um tempo, virei meus olhos pra ele, sem levantar a cabeça. — Tu lembra que eu te falei que tinha uma rota de contrabando que vinha lá do Paraguai? Por onde eu pegava a droga que eu vendo aqui, pra não ter que ficar dependendo de fornecedor?

— Lembro. — Ele tinha me contado disso quando eu fiquei aqueles dias aqui conhecendo ele.

— Então, é lá em Foz do Iguaçu, fronteira com Ciudad Del Este. Lá eu tenho uns familiares meus, pessoal de confiança total. Lá tu vai estar completamente segura, a cidade é tranquila, tu vai pode descansar e ter o bebê que você tá esperando em paz. — Sugeriu e eu entendi aquilo meu coração. Eu não queria aceitar muitas mais coisas dele, mas aquela era a minha melhor opção. O foda era eu ficar dependente dos outros, de dinheiro, de segurança... Eu não gostava disso. Não queria ficar na mão de ninguém nunca mais. — Tenho uma casa muito boa lá, grande, arejada, espaçosa. É sua, se tu quiser.

— Eu quero. — Disse, ajeitando minha postura no sofá. — Mas eu não quero só a sua casa.

— Como assim? — Perguntou Carlos, parecendo confuso.

— Eu quero a sua rota de contrabando também. — Falei de uma vez, com firmeza. — Quero fazer meu dinheiro, não ficar dependendo de você que nem um bebê. Eu aprendo rápido o serviço, te garanto.

Amor na GuerraOnde histórias criam vida. Descubra agora