[NA ROCINHNA]
O homem de meia idade adentrou o escritório da Rua 1 em silêncio, sendo seguido de perto pelos seus seguranças. Mandarim desconfiou de ter sido chamado ali tão tarde da noite e só aceitou subir a favela com os seus escudeiros armados ao lado. No centro da mesa, estava Parma com o Rogier ao seu lado, com cara de poucos amigos.
— Resolveu trair os teus parceiros, Parma? — Mandarim perguntou. Ele sabia bem como funcionava aquele mundo, já tinha passado por isso muitas vezes na sua vida. Desde o primeiro momento, quando decidiram pelos três assumirem a frente da favela numa situação onde nenhum deles realmente tinha a moral do chefe, ele viu a merda feita. Mais cedo ou mais tarde um dos piões ia derrubar os outros. Os homens eram assim...
— Tu tinha razão, Mandarim. — Estendeu a mão para a cadeira na sua frente. Carlos recusou o convite para se sentar. — Um reino não pode ter mais que um rei.
— Sabia que isso ia acontecer. — O mais velho confirmou com a cabeça. — Mas eu não vou me meter, então, não sei pra que eu estou aqui. Eu já tinha dito antes que os problemas internos de vocês eram problemas de vocês, não tenho nada a ver.
— É... Mas eu tenho um negócio que é do teu interesse.
— Não quero saber, Parma. Você vai tentar matar o marido da minha filha, eu não quero me envolver nisso.
— Quem falou em matar? — Ele fingiu se ofender. — Não, eu só quero que eles passem uns anos refletindo na cadeia. É simples, eu nem preciso sujar as mãos como fez o Caburé e depois M7.
— E no que isso pode me interessar? Eu não tenho como te impedir de ser um filho da puta, tenho? — Rebateu Mandarim, parecendo desconfortável.
— Eu só quero saber como tá a situação da tua filha na polícia. — Disse de uma vez. — Isso te interessa, né?— A Marina terminou a pena dela tem dois meses. Ela não deve mais nada. — Disse.
— Que bom, olha só... — Parma sorriu, abrindo os braços. — Sua filhinha vai sair ilesa. Aproveita pra tirar ela dessa favela, quem precisa de marido quando ganhou um pai novo, né não? — E riu.
Carlos não se divertiu. Na verdade, ele estava preocupado com o que se seguiria dali... Se afundassem a Rocinha em outra guerra, ele não se meteria. Já tava farto dos problemas daquele lugar... Pegaria sua ex-mulher, a sua filha e os irmãos dela e os levaria pra morar num lugar mais calmo. Começava a pensar que o chão que estava pisando era amaldiçoado. Homem nenhum jamais deveria ser dono naquele pedaço de terra.
— Como é comigo que tu vai tratar daqui pra frente, do valor da tua amizade, eu quero que tu fique atento dos problemas que a gente pode ter com os outros.
— Já disse que os problemas daqui de dentro são problemas seus.
— Não tô falando daqui de dentro. — Parma apontou para o celular no bolso do outro, que o pegou. — Liga pra sua filha e avisa pra ela deitar no chão, caso veja alguma movimentação estranha, mas ô... não dá bandeira pro Barbás não desconfiar, hein?! Se ela fizer direitinho, nem pra delegacia vão levar ela e a Índia não vai ter nem que se explicar pro delegado.
O mais velho pegou o celular com desconfiança e discou o número da filha. Enquanto isso, Parma ligava pro comandante do batalhão da Gávea, que tava em linha direta com o da Barra.
— Fala ai, meu parceiro. É o seguinte, manda aquelas equipes que a gente combinou lá pros lugares que eu te passei. Um é num sítio ali perto do túnel pra Guaratiba, o outro é lá perto do parque do Camorim, te passei certinho tudo por SMS. Avisa pra eles só que os carros são daquele negocinho que a gente já combinou, então, não é pra dar flagrante por causa disso não que se não vai me complicar. Tem três homens e duas mulheres, três tão foragido, então tu pega e dá prosseguimento, valeu? — Murmurou ao telefone, muito bem humorado. — É nós, meu amigo. Vai me informando ai.
O que ninguém ali dentro da sala sabia, porém, é que escondido atrás da porta, escutando a parte final da conversa, estava alguém que deveria estar há muitos quilômetros distante da favela. Túlio se afastou, descendo as escadas rapidamente e embarcando na moto sem responder nenhuma pergunta. Chegando em um ponto que considerou mais seguro, ele pegou seu celular.
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Amor na Guerra
Storie d'amoreㅤㅤ ㅤ"Geral quer ser rei, conspiram pro tempo que não espera. Impérios caem com novos reis, os tempos passam a ser de guerra." MC Marechal ㅤㅤ ㅤO sonho do moleque é ser chefe, o do vapor, do gerente e do segurança também é. O sonho do chefe é sobreviv...