Nina, Shirley e Larissa olhavam de longe e conversavam entre si, fiquei curioso com o que elas tanto falavam depois de um tempo e fiz um sinal com a cabeça na direção delas.
— É que daqui a pouco a gente vai ter que ir pra outra sala. — Larissa olhou no relógio de pulso. — Ele tem hemodiálise pra fazer.
— Hemodiálise? — Perguntei, resgatando na memória o que aquilo queria dizer. Não era a porra de uma máquina que as pessoas ficavam conectadas por uns fios? O que fazia, eu não tinha a menor ideia.
— É, tem que filtrar o sangue dele. — Explicou rápido, apontando para a porta, de onde vinha uma enfermeira que passou do meu lado e começou a desconectar os cabos e fios que estavam grudados nele. Ai veio a Larissa e pegou ele no colo, saindo com ele pela porta. Nina me chamou com a mão e eu segui o grupo pelo corredor. Xica avisou que ia aproveitar pra ir pra casa tomar um banho e pegar a roupa para a próxima semana. Olhei pra Nina esperando explicações.
— Como assim filtrar o sangue dele? — Perguntei. — Não fiquei sabendo disso.
— É... — Ela deu de ombros. — É meio notícia nova. Ele começou faz uma semana.
— E o que que tem de errado com ele pra precisar disso?
— A infecção que ele teve por causa do tiro foi bem grave. Deu trabalho pra controlar, ele ficou um tempão lutando contra ela... Acabou dando problema nos rins dele. — Explicou direito. — Ele já não consegue filtrar o sangue sozinho, então, precisa da máquina pra fazer por ele. Foi o que o médico falou pra gente.
— E o que mais? — Eu tinha a sensação de que ela não tava falando tudo.
— Tem a colostomia também. É tipo... um desvio do intestino... Fica uma bolsinha aqui... — E apontou para a barriga. — Coisa de médico, Barbás.
— E quanto tempo ele vai precisar dessa máquina e a bolsa? — Eu quis saber.— A colostomia daqui há uns meses vai fazer uma cirurgia pra reverter e devolver o intestino pro lugar dele, quando a lesão do tiro já tiver sarado toda. E a máquina... — Ela deu de ombros. — A gente não sabe, talvez nunca. O médico diz que insuficiência renal assim muito dificilmente é reversível, mas ele ainda não fez todos os exames, então, não dá pra dizer com certeza.
— Calma ai, como assim? — Parei ela na porta da sala onde a Larissa entrou com meu filho. Ficamos do lado de fora. — Quer dizer que o Pedro vai passar a vida toda dependendo daquela porra ali? — Apontei lá pra dentro, falando alto.
— Shiii, fala baixo, porra. — Ela brigou, agarrando minhas mãos. — E não é assim também. A ideia é que ele vai precisar de um rim novo, se os dele não funcionarem mais. Ai ele para de fazer a hemodiálise e volta a ter uma vida normal.
Me escorei na parede com o cotovelo e levei a mão livre os olhos, apertando com força. Caralho...
— Em casa a gente conversa melhor, a gente... sei lá... pesquisa direito sobre isso no Google. O que importa é que ele tá vivo e tá bem, fora de perigo. E todos os problemas dele agora são reversíveis de algum modo, com o tempo, tudo vai entrar nos conformes e ele vai crescer saudável. O pior já passou, Barbás. — Garantiu, passando a mão nos meus braços em um consolo silencioso. — Vamos lá ver ele, o bichinho tá feliz que você veio.
Eu não tinha engolido bem o que tava rolando. Então quer dizer que meu filho ia ficar com sequela da porra do tiro?! Irmão... Pra mim, como pai, era uma barra entender aquela porra. Meu filho, porra, meu garoto, ia ficar tendo que viver grudado com aquela caralha de máquina pra poder viver sei lá por quando tempo...
Engoli minhas perguntas e minhas indignações, entrei na sala, onde vi, ligarem ums negócios no braço do Pedro e o sangue sair. Ele não parecia estar incomodado, pelo contrário, na verdade ele estava até bem de boa sentadinho na poltrona, levando um livro que a enfermeira tinha trago pra ele. Ali, naquela sala, tinha um monte de brinquedo e bagulho infantil, enquanto tinha algumas outras crianças passando pelo mesmo procedimento que ele.
— Tudo bem, garotão? — Perguntei, abaixando na frente dele.
— Tudo, pai. Lê comigo aqui. — Chamou e eu não neguei. Me posicionei do lado dele e ele ficou me explicando a história do livro um tempão...

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Amor na Guerra
Romanceㅤㅤ ㅤ"Geral quer ser rei, conspiram pro tempo que não espera. Impérios caem com novos reis, os tempos passam a ser de guerra." MC Marechal ㅤㅤ ㅤO sonho do moleque é ser chefe, o do vapor, do gerente e do segurança também é. O sonho do chefe é sobreviv...