Fiquei ali, atônita, quando o Russo saiu. E lembrei dos meus sonhos e intuições... Eu sonhei com uma criança me chamando de mãe, eu me atraí por coisas que nunca antes tinham me enchido os olhos. Pisquei, subitamente me dando conta de pequenas coisas, algumas sobre o meu corpo, outras que nem eu e nem ninguém poderíamos explicar sobre mim. Me afundei no sofá, levando as duas mãos ao rosto. Cacete!
Ok, eu queria ser mãe, mas não agora. Não nesse momento, principalmente, não sem o pai querer. Eu nunca tinha me preocupado com isso, por acreditar que estava protegida. Pra mim aquilo tudo era absurdo de tão surreal. Além de tomar meus remédios, supostamente eu deveria ter dificuldades de engravidar já que meu ciclo era ridiculamente desregulado e meus hormônios não eram lá muito bem ajustados... isso era o que meu ginecologista tinha dito. Por que isso agora? Eu não entendia e tava difícil entrar na minha cabeça.
Eu me senti ansiosa, depois, eu senti medo. Não fazia muito tempo que eu e o Barbás tínhamos conversado sobre aquele assunto: filhos. E, bem, ele não tinha se mostrado muito aberto naquele quesito, mesmo que não absolutamente averso à ideia. É certo que ele não ia surtar e me deixar sozinha, ou me sugerir o aborto, mas mesmo assim... filhos eram pra ser mais que conveniência, eles eram pra ser desejados, eram pra vir ao mundo como uma benção. A família que eu tive, com uma mãe solteira e 4 filhos de pais diferentes, que não puderem ou não quiseram fazer parte da vida das crianças me ensinou muitas coisas sobre carência afetiva, sobre a importância no planejamento. Eu fui o pai dos meus irmãos e eu sabia o quanto isso era grave... O quanto eles, mesmo que não falassem, sentiam o peso do desprezo ou indiferença do homem que os colocou no mundo.
Além disso, e se eu não quisesse? Tipo, se eu visse que não conseguiria ser mãe? Tava ok eu tirar? A visão daquela menininha de olhos escuros e brilhantes ia me deixar?
— Nina? — Dalila me chamou um tempo depois. — Tudo bem? Tu tá meio pálida.
— Sei lá, eu só... — Neguei com a cabeça, apoiando a cabeça nas mãos. — Se pá eu possa estar grávida mesmo.
— Era nisso que tu tava pensando? — Ela voltou a sentar do meu lado. — Lembrou de alguma coisa.
— Eu sonhei com uma criança. — Contei, sentindo um arrepio bizarro me percorrer de novo.
Ela comprimiu os lábios e passou os dedos nos meus cabelos. Eu tava nervosa, muito nervosa, mas não queria chorar. Bebê nenhum merecia ter as lágrimas da mãe na suspeita da sua existência. Me controlei, guardei todas as expressões de tristeza pra mim e esperei, me agarrando à ideia de que aquilo podia ser só a mente fértil da Dalila. No meu coração, entretanto, eu sabia que algo estava fora do lugar. Agora eu conseguia enxergar... Fiquei calada até a volta do Russo, que jogou uma bolsa de farmácia na minha frente. Tinha uns 3 lá dentro. A Dalila pegou e foi analisando.— A dona lá mandou trazer mais de um pra ter certeza. Peguei um digital desse ai que tu mandou e mais dois simples de fita. Foi o que ela mandou. — Falou.
— Tá bom demais. — Disse minha irmã, tirando todos eles da caixa. — Sabe usar, Nina?
— Eu me viro. — Respondi, pegando da mão dela e indo na direção do banheiro.
A teoria era bem simples, você abria os trequinhos, fazia xixi no lugar indicado, fechava, lavava a embalagem por fora e esperava. Foi exatamente o que eu fiz com os três, foi bem rapidinho até. Voltei pra sala e joguei os aparelhinhos na mesinha de centro e a Dalila analisou. Bom... 3 minutos no mínimo, em até 10 minutos ia aparecer o resultado. Deixei meus irmãos vendo os negócios e voltei a mergulhar minhas costas no sofá, abraçando uma almofada. Eu ainda tava com aquela cólica chatinha no pé da barriga. Me fechei numa bolinha e esperei em silêncio.
— É... — A Dalila murmurou e eu a vi olhando pro Russo. — Eu tenho quase certeza de que tem um segundo risco aparecendo aqui.
— E isso significa o que? — Quis saber.
— Vamo esperar os outros, tá? — Ela não quis falar, mas eu conhecia bem a Lila. Sempre que ela hesitava, boas notícias não eram... Resolvi me mexer. Olhei o primeiro que tinha um segundo risco ficando forte. O segundo, parecia um segundo risco aparecendo também, apesar de não estar exatamente bem demarcado. Esperamos pelo digital, que nele não tinha meio termo. Ou era ou não era.
Segurei o maior entre os meus dedos e aguardei com meus olhos no visor. E apareceu... Engoli em seco, soltando o ar dos meus pulmões de uma vez só com o que estava no visor. 'Grávida. 3+ semanas'
— Ai, meu Deus, Nina. Marina, porra. — A Dalila falou, o tom subindo bastante conforme a empolgação dela crescia também. Ela ficou de joelhos no sofá e me abraçou. A princípio, eu não tive reação nenhuma a não sei olhar pra aquelas benditas palavras.
— Deu positivo? — O Russo se aproximou, pegando o treco da minha mão. — Eita, porra. Caralho, Nina, eu vou ser tio?!

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Amor na Guerra
Romanceㅤㅤ ㅤ"Geral quer ser rei, conspiram pro tempo que não espera. Impérios caem com novos reis, os tempos passam a ser de guerra." MC Marechal ㅤㅤ ㅤO sonho do moleque é ser chefe, o do vapor, do gerente e do segurança também é. O sonho do chefe é sobreviv...