Ele não falou nada, só piscou e não esboçou mais nenhuma reação. Parecia chocado.
— Posso ter sua rota? — Perguntei, insistindo na questão. — Assim eu posso continuar trabalhando de qualquer jeito, fazendo o que eu sei fazer de melhor, e não vou me sentir inútil. Deixa eu assumir a frente do seu contrabando, eu mando entregar sua droga aqui todo mês, sem falta.
— Você tem que descansar, Nina. Não tá grávida?
— Meu filho vai nascer uma hora, e ai? Eu não sou mulher de ficar parada, me dedicando à maternidade. Eu quero a rota de contrabando, eu vou me dar bem lá, vai ser ótimo pra nós dois. Posso? — Insisti. — Carlos, você me deve isso. Tu sabe que deve... Eu quero o seu negócio do Paraguai.
Ele suspirou, parecendo cansado e indisposto demais pra recusar. Carlos concordou com a cabeça, juntando as mãos na frente do corpo.
— É seu, se você quiser. O Rogier pode ir lá contigo e te apresentar meus homens e a minha família. Meu irmão, que tá a frente lá agora, já tá reclamando a um tempo que tá ficando velho mesmo... — Disse e eu senti que tinha conseguido uma pequena vitória. Um raio de luz incidiu sobre mim. — Ele te apresenta o serviço e você toca em frente. Se você achar que não consegue, só me avisar.
— Eu vou conseguir. Comigo não tem caô. — Falei e ele concordou com a cabeça outra vez, com um sorrisinho escondida por trás da expressão exausta.
— Então tá beleza. Vamos arrumar as coisas pra vocês todos viajarem no final de semana. — Decretou.
Abracei meus irmãos, sentindo que, mais uma vez, eles eram a minha rocha. Era como se, essencialmente, fossemos sempre nós três. Quando tudo dava errado, só eles estavam comigo. Éramos nós, contra o mundo todo...[...]
Três dias depois e eu, Russo, Dalila e Rogier estávamos de malas prontas. Mais tarde naquele dia, nós viajariamos, cada um pro seu destino. Pra mim... eu tinha comprado passagens só de ida, já que não fazia a menor ideia quando eu teria a oportunidade de voltar. Minha mãe e meus dois irmãos vieram se despedir de mim no Galo.— Vocês se cuidem, hein?! Vou ligar todo dia pra saber como tão indo na escola. — Abracei os meus dois mosqueteiros, os dois que haviam me sobrado. — E cuidem da mãe também, tá? Vocês são homens fortes, vão ficar bem.
— Prometo, Nina. Eu vou cuidar de todo mundo. — Andrei assumiu a responsabilidade de um homem naquela hora e eu me emocionei, abraçando ele de novo, depois o Luan.
— Eu amo vocês. — Garanti aos dois, indo em direção à minha mãe. — E eu amo você também. Fica firme e cuida bem dos meninos.
— Eu vou, minha filha. — Ela comprimiu os lábios no que eu sabia que tinha sido uma tentativa de sorrir. — Prometo.
Beijei as mãos dela e depois a testa.
— Vou procurar mandar dinheiro e te ligar sempre. Fica tranquila. Assim que eu começar a faturar alguma coisa lá, vocês vão receber. — Prometi.
— Não se preocupa com isso, só foca em ter o meu neto bem e a ser feliz. — Disse e eu senti a verdade nas suas palavras. — É verdade que não é esse o meu sonho pra você, que eu não queria que você levasse a vida envolvida com essas coisas, mas é assim que você é. Eu tenho aprendido a te amar mesmo assim, Nina. — Confessou, suspirando e levando uma das mãos ao meu rosto. — Me perdoa por ter virado as costas quando você precisou de mim. Me custou a entender que uma mãe não pode controlar o destino da sua filha.
— Não tem o que se desculpar. — Sussurrei, com a voz embargando pela emoção. Eu odiava despedidas... — Eu te amo você também, tá? Daqui há um tempo vocês vão lá me visitar.
Fiquei um tempo abraçada com a minha mãe, depois, veio o Carlos. Eu sabia que ele queria de mim um abraço também, mas eu não ia ser capaz... não depois de tudo o que tinha acontecido. Eu era grata sim, por tudo o que ele tinha feito pelos meus irmãos e pela minha família, mas o amor que eu sentia, a consideração, o respeito e admiração... Isso tudo ele tinha matado quando decidiu ficar do lado do Parma apesar das coisas que ele fez à mim. No final do dia, ele ainda teria o seu milhão por mês, vindo da Rocinha, mas não o meu afeto.

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Amor na Guerra
Romanceㅤㅤ ㅤ"Geral quer ser rei, conspiram pro tempo que não espera. Impérios caem com novos reis, os tempos passam a ser de guerra." MC Marechal ㅤㅤ ㅤO sonho do moleque é ser chefe, o do vapor, do gerente e do segurança também é. O sonho do chefe é sobreviv...