Amor na Guerra

37

Naquele mesmo dia, eu fui para a casa do Russo, no andar de cima, e fiquei esperando ele de tocaia na porta. Fiquei uns bons minutos esperando ele ali, antes do danado finalmente dar as caras. Ele pareceu surpreso e puto de me ver ali.

— Tá começando a chover, tá fazendo o que aqui nesse frio? — Perguntou, de cara fechada. Óbvio que ele tava puto comigo ainda.

— Eu quero falar contigo, po. Quero muito, mas tu me ignora, então eu vim aqui e não vou sair até tu me ouvir. — Falei, puta decidida.

Eu vi um monte de coisas passar no rosto dele, ele ficou brabo, depois suavizou e abriu a porta pra mim.

— Tá, mas entra ai que tá frio. — Mandou, dando passagem.

Sentei no sofá, sustentando o olhar dele com muita dignidade. Já fazia um tempo que eu tinha entrado de cabeça na vida errada, ele tinha que superar essa chateação comigo uma hora.

— Olha, eu sei que tu não esperava que eu fosse entrar pra boca, mas mano, se põe na minha pele... é a única coisa que vem na minha cabeça agora. — Falei de uma vez. — Porra, Wallace, eu tenho a ficha suja. Eu tô no regime aberto, ainda cumprindo pena.

— Por isso mermo, Nina. Se tu é pega pela polícia, tu volta pro fechado direto e vai ficar lá por muito tempo, porra.

— Irmão, eu tenho que sobreviver. — Ele me olhou meio torto com o "irmão". Saiu meio no automático a gíria que o Barbás usava sempre... é, eu tava passando mesmo muito tempo com ele. Tava foda. — Eu preciso de dinheiro, cê sabe que eu não posso depender de você pra sempre. Eu tenho que ter minhas coisas, tenho que ajudar meus irmãos, tenho que me reerguer. Eu já entrei nessa porra, já tô cumprindo pena por tráfico, não tem o que eu fazer. Me deixa ao menos viver daquilo que eu tô pagando na justiça. — Falei rápido, quase me engasgando com as palavras. — Eu te amo, Wallace. Você é meu irmão de coração, eu te devo a minha vida e tu sabe... Não fica assim comigo.

— Eu tô puto porque eu também te amo, Nina. Não quero que tu sofra o que eu sofro sempre. Tu já se imaginou levantando de madrugada pra trocar tiro? Indo dormir na mata? Não sabendo se tu vai amanhecer viva? Tomando esculacho de polícia? Porra, Nina.

— Eu sei, Russo, mas eu quero isso. Se tu tá preocupado comigo, então cuida de mim, po. Me treina, pra eu saber em virar sozinha... Não faz chantagem emocional comigo, po.

— Não é chantagem, caralho.

— É o que, então? Eu não posso voltar atrás agora e eu nem quero. Fala comigo direito, eu sou tua irmã. Não passa na rua e finge que não me viu. — Briguei, já segurando um monte de lágrimas que estavam querendo descer. Como eu disse... chorona.

Ele suspirou cansado, sentando do meu lado no sofá e olhando pra mim por um tempão. Ai ele me abraçou... Um abraço que eu tava a uma semana sem conhecer. E eu enlacei os meus braços ao redor dele. Isso significava que ele tinha me perdoado, né?

— Tu vai ter que ser forte, baixinha. O caminho que tu escolher... que a gente escolheu... não é mole não, parceiro. Se tu escolheu isso, tu vai ter que aguentar e ir até o final.

— Eu sou forte. — Dei uma risinho de canto, sem muito humor. A verdade é que tudo o que ele falava era verdade... Era uma vida fodida do cacete. Só eu sabia as coisas que eu tinha passado nesse primeiro mês. Apesar dos apesares, eu gostava do dinheiro que eu ganhava, gostava das coisas que eu fazia, dos amigos que eu fiz. Eu já tava envolvida. — Vamo' descer? Eu vou fazer um negócio legal pra gente jantar hoje, nós tá precisando mesmo de um tempo juntos de novo. Eu, você e a Lila.

— Bora. — Ele deu um sorrisinho e desceu comigo.

De repente, tudo parecia bem e em paz. Era como se tudo estivesse nos eixos de novo. Meus irmãos, os de sangue e os de coração, estavam ao meu lado, meus amigos também... E tinha ele. É, ele. Eu não sabia bem o que ele tava fazendo com o meu coração, mas tinha uma coisa diferente. Paz...

Eu só não sabia quanto tempo ela ia durar.