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▷ 1 MÊS DEPOIS ◁

[WILLIAM]

— E ai, irmão, já tá pronto pra me falar o que eu quero saber? — Perguntei, abaixando na frente dele. Esse tava me dando um trabalho fodido e eu tava começando perder a paciência com ele. Sabia que o cara tava no fim na resistência dele também, eu só precisava apertar um pouco mais firme, botar uma pressão mais forte.

Ele cambaleou um pouco, deixando a cabeça pender pra frente. Empurrei ele pela testa pra trás. Puxei o encosto da cadeira pra trás, fazendo ela virar e cair no chão com ele em cima. Botei o pé em cima do peito dele e abaixei, apontando a faca pro rosto dele.

— Tô sem saco, irmão. Vou te ser bem sincero. Eu não vou te deixar morrer, tu não vai ir pra lugar nenhum até me falar o que eu quero saber, então vamos ficar eu e tu aqui a porra da semana toda. Eu de mau humor e você se fodendo até arregar, o que vai acontecer mais cedo ou mais tarde. — Falei, passando a lâmina de leve pelo rosto dele na horizontal, numa gesto de ameaça. — E eu não sou moleque, eu sei bem o que eu tô fazendo. Se poupa de mais sofrimento e fala de uma vez, irmão.

Ele já tava meio na merda, meio cansado. Há 3 dias naquela merda ali já, sem comer, só na água, eu vi o cansaço dele.

— Vai sofrer pra proteger um cara que não tá nem ai pra que, irmão? Vale a pena não. — E eu vi a concordância nos olhos dele. — Onde tá o Misael?

— Eu... — Ele começou e eu estreitei os olhos pra ele. — Eu não sei onde tá certo, mas eu tô ligado em como ele tá.

— Fala o que tu sabe.

— Ele tá escondido na casa de um irmão dele. — Falou. — Tá protegido lá, mas ninguém sabe onde é. Ele não contou pra ninguém. — Até ai eu já imaginava que alguém tava protegendo esse filho da puta.

— Quem tá protegendo? Protegendo onde?


— É num bairro chique ali. Ali na... Na... ali depois do túnel.

— Que túnel, irmão?

— Aquele que vai lá pra Zona Oeste.

— O Joá. — Respondi e ele concordou. — Ele tá na Barra? — E veio mais uma concordância da parte dele.

— Onde da Barra? — Insisti. — Quem é o irmão? É irmão de sangue?

— Não sei onde, mas eu acho que... — Ele parou pra respirar um pouco e eu tirei a pressão do pé do peito dele. — É irmão de sangue, eu acho. Se for o que eu tô pensando que é, parece muito com ele. Chamavam ele de Lió, o nome não deve ser esse. — Balançou a cabeça parecendo transtornado. — É tudo o que eu sei, eu juro.

Concordei com a cabeça, satisfeito com o que tinha conseguido. Aquilo era mais que o suficiente. Eu sabia o codinome, sabia onde devia morar, sabia que era irmão do M7, provavelmente de sangue. Se eu tivesse sorte, o contato na polícia conseguia bater esse filho da puta pra mim. Levantei e olhei pra ele uma última vez. Fiz um sinal com a mão pro Túlio ir terminar o trabalho, eu tinha que estar em outro lugar agora.

Assim que botei os pés pra fora do porão do escritório, a Nina apareceu na minha vista, balançando uma identidade na minha frente.

— Fui lá pegar. — Ela anunciou, parecendo verdadeiramente feliz. Fazia um tempo que ela não ficava tão sorridente daquele jeito. Desde a morte e o enterro do irmão, Marina vinha se recuperando devagar do baque que levou. Nas primeiras semanas, ela parecia morta por dentro, depois, ela foi voltando à rotina e aceitando que haviam coisas na vida que não davam pra mudar. Antes de dormir, eu sempre via ela rezando pelo irmão... às vezes acordava durante a noite chorando. Era assim que ela ia lidando com o luto dela, da maneira mais firme que conseguia. — Agora a gente pode ver o Pedro.

Peguei o documento da mão dela. Tinha a minha foto nele, atrás, o nome Antônio estava escrito em letra garrafais. Eu precisava daquilo pra apresentar na recepção e poder subir pro quarto dele sem levantar suspeitas ou correr o risco de chamarem a polícia. Antônio não existia e, por isso, não tinha passagem pela polícia, nem era procurado. Essa semana, eu mesmo tinha tratado o arrego pro batalhão da Gávea, o acordo com eles tava fresco, recente, sem divergências até então. Era o cenário mais seguro que eu podia ter pra sair da favela e ir visitar o meu filho.

— Tu ainda tem trabalho pra fazer? — Ela perguntou.

— Eu sempre tenho trabalho pra fazer agora, Nina. — Levei uma mão ao rosto dela. — Mas tá de boa, amanhã eu passo o pente nos cadernos de venda, vamo lá ver meu filho que eu tô esperando por isso há uma pá de tempo já.

Amor na GuerraOnde histórias criam vida. Descubra agora