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[NINA]

[...]

Era no meio da tarde e eu tava na fronteira da Rua 2. Eu tava ali, patrulhando uma viela e pensando em como eu queria estar em casa... É, eu tava me sentindo meio pra baixo, se pá fosse a preocupação com a nossa segurança, com o Pedro, de quem eu não tinha tido notícias até agora... Além disso, eu tinha um desafio próprio com o qual eu ia ter que lidar mais cedo ou mais tarde. Como eu pretendia convencer um homem que eu nem conhecia a não apoiar o aliado dele pra me favorecer? Em troco de que ele faria isso? Entre eu e ele só tinha um vínculo sanguíneo. Só...

E eu nem sabia por onde começar a procurar. Na verdade, o verdadeiro desafio era convencer a única pessoa que podia estabelecer uma comunicação segura com ele à colaborar comigo. Essa pessoa era a minha mãe e eu tinha certeza que daquele mato não ia sair coelho. Mesmo assim, eu ia ter que tentar. Era isso ou fazer "uni-duni-tê" entre o Pavão e o Galo e meter a cara em um deles, torcendo pro Carlos estar lá e acreditar na minha história. Isso se os homens dele não me matassem antes... Era um plano horroroso.

Peguei meu celular e liguei pra dona Cláudia. Chamou, chamou, chamou e nada. Ai eu liguei pro fixo de casa. Nada. Bom, eles não deviam estar em casa, né?! Nada demais, eu ia tentar mais tarde. Só isso.

É... Devia ser, mas minha mente se incomodou com falta de sinal de vida da minha família. Tipo, era dia de semana? Depois do horário de escola dos meus irmãos. Não tinha ninguém em casa? Eram 4 pessoas e o namorado da minha mãe. Ninguém? E mesmo que ela não tivesse em casa, porque não atendia o celular? Passei a mão no rosto em um gesto nervoso e tentei ligar de novo, tanto pro fixo, quanto pro celular da minha mãe. Chama, chama e nada.

— Tudo de boa ai, Índia? — Um soldado da baixa que tava ali vigiando comigo me perguntou.

— Tudo suave, é que minha mãe não me atende. Nem os meus irmãos.

— Né nada não, relaxa. Minha mãe faz isso comigo o tempo todo.

— É, mas eu vou ficar doida se eles não me deram um caralho de uma resposta logo. — Disse, sentindo a preocupação me consumir.

Concordei com a cabeça e deixei aquilo de lado por um tempinho. Nada tava acontecendo daquele lado, era um tédio do caralho. Passei muitos minutos com a arma na mão, olhando fixamente praquela maldita viela.

Foi ai que o meu telefone tocou e eu rapidinho puxei o celular do bolso. Na tela, um número que eu não conhecia.

— Alô. — Atendi com um certo receio. — Alô?

— Nina. — Ouvi a vozinha fraca de alguém que eu conhecia bem. Meu irmão.

— Andrei? — Perguntei. — Oi Drei. Liguei pra vocês, mas ninguém me atendeu. Tá tudo bem?

— Nina, pegaram o nosso celular, eu tô falando escondido aqui no celular do Luan, que mentiu pra poder ficar vendo vídeo. — Acontou. — Olha, tem uns caras aqui na porta da nossa casa e não deixam a gente sair. Minha mãe tentou até falar com eles, mas eles falam que a gente não pode.

— Que? — Levei uma mão à testa na hora e arregalei os olhos, comecei a andar em círculos. PORRA! Eu devia saber que o Misael ia fazer isso. Inferno do caralho... Por causa das coisas que aconteceram com o Pedrinho, eu não consegui pensar na segurança da minha família, dos meus irmãos... Nem da minha mãe, que ia me ser muito útil. Porra, porra, porra.

— Não deixa eles te verem falando nesse telefone. Me passa informação. Eles tão machucando vocês? — Perguntei e ele demorou pra responder. — Anda, Drei.

— Não, não. Eles não tão fazendo nada com nós não, até trazem comida aqui e pá. A gente não pode sair só, mas a minha mãe tá com medo. Ela não fala pra gente, mas eu sei que ela tá. Tira a gente daqui, Nina... e se eles quiserem matar nós? — Perguntou e eu fechei os olhos, sentindo uma pontada no coração. Como eu fui tão negligente com eles, porra?

— Calma. Fica tranquilo e tranquiliza os meninos também. A casa é a mesma onde a gente morava ainda? — Quis saber.

— Calma. Fica tranquilo e tranquiliza os meninos também. A casa é a mesma onde a gente morava ainda? — Quis saber.

— É.

— Tá bom. Que horas eles entram pra levar comida?

— Na hora do almoço e da janta, não tem hora certa.

— Tá, tá. — Primeira ideia, descartada. — Sabe quantos são? Se eles saem dai alguma hora?

— Eu vi 4, mas não sei se é só isso. Eles ficam no nosso portão. Não sei se eles saem, minha mãe não deixa a gente sair pra falar com eles. — Disse. Inferno.

— Escuta, Drei. Não fala isso alto, nem perto de nenhum dos nossos irmãos. Eu vou dar um jeito de tirar vocês dai, mas ninguém pode saber, tá me ouvindo? Se ouvirem, vai dar merda e eu não vou conseguir mais ajudar vocês, então, pelo amor de Deus, toma cuidado. Tô indo ver isso agora. — Garanti.

— Por favor, Nina. Vem rápido.

— Eu vou, Drei. Deixa o celular na reserva e no silêncioso pra eles não verem, esconde bem ele, mas fica de olho. Se tu conseguir alguma informação pra mim, me manda muito rápido por SMS, tá? Vou desligar aqui, mas espera, a gente vai se ver logo logo.

Ele não falou nada, mas eu ouvi um fungar no fundo e aquilo quebrou o meu coração de muitas maneiras. Eu ouvi o seu choro disfarçado e uma lágrima solitária desceu pelo meu rosto, a qual eu limpei muito rapidamente. Não podia fraquejar agora.

— Drei, seja forte, eu vou ai te buscar. Eu te amo, tá? — Sussurrei. — Fica calmo.

Amor na GuerraOnde histórias criam vida. Descubra agora