Ela não demorou a chegar e o efeito que ela teve sobre o cara foi exatamente o que eu imaginei. Eu só peguei a Nina, falei pra ela entrar no jogo e coloquei ela na frente dele. Quando ele reconheceu a mina, começou a chorar real oficial. Chorar de chorar pra caralho mesmo, era só o que eu precisava. Ajoelhei na frente dele e esperei, só isso.
— Tu vai falar ou eu vou ter que mandar buscar teu filho? — Perguntei, levantando a cabeça dele. — Por quê tu tá aqui, irmão?
— Porque... — Ele parou, respirando fundo.
— Por quê? — Repeti.
— Porque eu era leal à outro grupo. — Falou, soluçando. — E esse grupo queria tomar a Rocinha.
É irmão... Isso era uma merda e das grandes. Se nego queria entrar aqui dentro, significava que a gestão do Caburé tava indo de ralo. Isso era um sinal de que ia dar merda... Chamei os seguranças dele com a mão pra ouvir o que o cara tava falando. Um deles pegou o celular e começou a pegar o celular e começou a gravar.
— Tomar como, irmão? Explica direito.
— Eu só sei que eles queriam derrubar o dono do morro e eu ia ajudar nisso. Eu tinha acesso ao Caburé, aos caras do comando da favela. O plano era entrar aqui numa hora que tivesse todo mundo distraído, eu ia abrir passagem pros caras entrarem comigo aqui, e matar o chefe. Depois, eles iam invadir e tomar no resto da favela.
— Isso quando?
— Eu tinha marcado com o Salvador de vir aqui no final de semana que vem. Provavelmente ia ser nesse dia.
— Final de semana que vem que horas?
— De tarde, perto da troca de turno dos olheiro da favela. Pra ficar mais fácil de invadirem depois. — Falou, tossindo sangue de novo. Ele tava na merda já. — Ia estar todo mundo ocupado com o baile, ninguém ia notar. Ia se rápido.
— Quem quer invadir a favela? — Perguntei e ele demorou pra responder. — Bora, irmão. Termina de falar de uma vez.
— O comando do PPG, cara. — Falou agoniado. — Eu só tava em contato com eles, mas tinha mais gente envolvida. — Claro que tinha. O PPG, o Cabritos, a Tabajara e a Babilônia eram todos chefiados por um mesmo comando. E esse comando queria a cabeça do Caburé...O M7 brotou ali pra verificar como tinha terminado e dar um fim no corpo. Ele tava putinho porque queria ter queimado o cara no microondas, mas tinha chegado tarde, porque eu já tinha matado ele com a ordem do CR. A cara virada daquele filho da puta não tava me descendo.
Ele e os seguranças do Caburé pegaram o Siqueira e levaram pra fora do galpão, enquanto eu fiquei ali passando rádio pro Salvador, que tava no escritório, pra passar os detalhes do que eu tinha conseguido. Terminou que eu marquei de passar lá na 1 no dia seguinte pra conversar com ele sobre o que eu achava daquela porra. Ele queria escutar o que eu tinha pra dizer... Pra uma cara tão cheio de si, como o Caburé era, querer ouvir a opinião dos outros, ele devia estar com o cu na mão.
Quando eu saí com o TK pro lado de fora, eu acabei pegando uma cena que deixou nós dois desconfiados pra caralho. O M7 tava rindo e segurando a Nina pelo pulso, ela parecia puta pra caralho e tava indo com a mão na arma dela. Eu não tinha sacado bem qual era o contexto, mas nem precisava, tava na cara que ela tava incomodada. Depois eu ia saber qual era a dele com ela.
A Nina era marrenta pra caralho, ela não pensou nem duas vezes, antes de pegar a pistola pra ele. Na hora, ela chamou a atenção dos seguranças do Caburé, que ficaram a alerta pra caso alguma coisa acontecesse.
— Aponta essa porra pra mim, putinha. Aponta, pra tu ver. — Ameaçou e eu cheguei perto deles com um sorriso de canto no rosto. Ele ai achar que tava entre amigos.
— Qual é, Misael? Tudo tranquilo ai? — Perguntei e ele soltou ela. — TK, vai descendo a Laborieux com a mina ai. — Mandei e ele tirou ela dali. Eu vi ela me fuzilando com os olhos por ter chamado ela de 'a mina'.
— Tudo em cima, po. — Respondeu, dando uma de doido.
— Tua namorada? — Ri, apontando pra direção dela com a cabeça. Queria ver o que ele ia responder.
— Essa ai? Nem. — Ele negou com a cabeça, dando um sorriso também. — Mas até que podia, ela é gostosa pra caralho. — E bateu a porta do carro, onde ele tinha jogado do corpo no banco de trás.
— Fiquei sabendo. — Concordei com a cabeça, achando aquilo engraçado pra caralho. — Vem cá, foi tu que bateu e marcou a cara dela?
E aquilo foi como se eu tivesse jogado um balde de água gelada na cara dele. Na hora o sorrisinho do rosto dele sumiu e ele me olhou sério. Ele tinha entendido que eu tava jogando com ele desde o início ali.

VOCÊ ESTÁ LENDO
Amor na Guerra
Romanceㅤㅤ ㅤ"Geral quer ser rei, conspiram pro tempo que não espera. Impérios caem com novos reis, os tempos passam a ser de guerra." MC Marechal ㅤㅤ ㅤO sonho do moleque é ser chefe, o do vapor, do gerente e do segurança também é. O sonho do chefe é sobreviv...