Prólogo

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[NO FUTURO]

Guerra. Aquela que fazia os homens descerem ao ponto mais baixo da sua moral. Honra era papo furado. Código de conduta era combustível pra fogueira, era lenha pra manter a chama acesa. Tudo o que importava no final do dia era vencer... era matar os seus inimigos, subir os degraus da hierarquia... ganhar. Quando a sua própria vida entrava na jogada, a lealdade era uma lenda de contos de fadas. Ninguém era amigo de ninguém, nem cúmplice ou companheiro. No momento em que você tinha uma pistola apontada na sua cara, era cada um por si e Deus por todos. Agora eu sabia disso, depois de ter aguentado todas as traições e facadas nas costas, no final do dia, só havia eu... e ele.

Eu estava acabada. Fazia meses que não conseguia dormir direito, vivendo constantemente com o medo de ser pega, com o medo de falhar. Nós estivemos em guerra contra o mundo.

— Barbás! — Chamei, respirando audívelmente. Não recebi resposta e a minha pulsação acelerou. Caralho... Eu não podia sair do meu esconderijo, mas não aguentaria ficar ali sem saber como ele estava. — William, porra! — Me estiquei para olhar lá fora, mas um tiro acima da minha cabeça me faz voltar. Havia um rombo na parede de tijolos acima da minha cabeça e um no meu peito. — Will? — Ouvi um barulho na porta e corri para lá. Quem eu encontrei naquele lugar, porém, não foi quem eu esperava. — Você?

— Não tava me esperando, cachorra? — Perguntou com um sorriso debochado e uma pistola apontada na minha cara.

Eu sabia que ia morrer naquele momento, por isso, o meu corpo se pôs todo em "modo ameaça". Nem sei o que tinha dado em mim para reagir da maneira como eu fiz... talvez a doideira sempre tenha sido um pouco o meu forte. Eu abaixei no primeiro estampido e me joguei contra ele, forçando os meus braços pra cima, com os punhos fechados em torno do pulso com a arma, apontando o bico dela para o teto. Graças à Deus pelas aulas de defesa pessoal que eu tinha sido obrigada a fazer. Ele, infelizmente, era muito mais forte que eu e, naquela posição, foi fácil me passar uma banda e me levar pro chão. Minhas pernas, entretanto, grudaram nos calcanhares dele, e eu não larguei a mão da arma de jeito nenhum, terminei por desequilibrá-lo também.

Nós dois no chão, eu tentei arrancar a pistola dele mordendo a seu braço e terminei recebendo um soco no rosto que me deixou zonza.

— Filha de uma puta. — Xingou, me dando uma coronhada. Foi mais ou menos ali que eu perdi a força pra lutar e o sangue escorreu do couro cabeludo, prejudicando minha visão ao se misturarem com o suor da minha testa e acumularem-se na minha pálpebra. Me ergui para cuspir no rosto do corno como um último gesto de rebeldia. Ele apontou o cano na minha cabeça e eu já estava quase sentido a minha passagem... Foi quando eu ouvi o barulho de estompidos de tiros... e não perdi a consciência.

O peso de um corpo caiu sobre mim e eu perdi a respiração, mas não tive forças pra me livrar daquilo. Alguém teve que vir o retirar de cima de mim... e esse sim era o alguém por quem eu esperava todo o tempo. Esse homem grosso, escroto e orgulhoso, que não tinha se esquecido de mim, mesmo naquele momento merda. Ele foi segurando em meu pulso e me levantando de uma vez só. Na boa, eu não devia ser a visão mais bonita naquele momento, já que eu tinha certeza de estar coberta de sangue da cabeça aos pés.

— Acorda ai, Nina. Bora. — Mandou, passando a mão na minha cara para afastar o líquido vermelho dos meus olhos. Tudo estava meio desfocado e as minhas pernas moles, eu achei que fosse cair a qualquer momento. — Volta. — E chacoalhou meus ombros, quando eu consegui o enxergar direito, pisquei meus olhos, que se encheram de água, ao notar que ele tava bem. Foi ai que ele se inclinou e beijou minha testa e segurou meu rosto nas mãos. — Aguenta só mais um pouco. Falta pouco agora.

— Pouco? Para de sacanagem comigo. — Sussurrei descrente.

— Tô falando, porra. Tô te pedindo pra sustentar só mais um pouco, amor. — Solucei diante daquela demonstração de afeto. Não acontecia com frequência, levando em consideração a personalidade orgulhosa que tinha o Barbás. — Sustenta, que nós vamos tomar essa favela hoje, eu e você.

Amor na GuerraOnde histórias criam vida. Descubra agora