Ele deu de ombros e bufou. Eu passei a me preocupar a partir dai...
— A questão não é nem se eu teria um filho contigo, é se eu teria outro filho. — Disse depois de um tempo, eu joguei a cabeça pra trás no banco. Fiquei em silêncio por um tempo, sentindo o baque das palavras dele.
— Não teria? — Perguntei, perguntando porque aquilo me incomodava tanto. Era só uma ideia, uma ideia futura...
— Po, Nina... — Ele pareceu cansado por um momento. — Olha como que a gente tá vivendo. Meu filho tomou um tiro por minha causa, tá há quase dois meses ai e eu só consegui sair pra visitar ele agora. Agora tá lá dependendo daquela máquina pra viver por causa da vida que eu e a mãe dele levamos.
— Não precisa ser assim, Barbás. — Neguei com a cabeça. Eu odiava como ele era sempre pessimista e desconfiado em relação à tudo.
— Mas é assim que é, Nina. Não precisa, mas olha ai... Pode chegar amanhã e eu tomar um tiro, ser preso de novo... Tanta coisa, po. Meu filho vai ficar desamparado ai. — Ele segurou o volante com mais força e eu suspirei com o gesto. O que ele tava falando era verdade... Po, eu não podia negar aquilo. A nossa vida era uma bagunça do caralho, hoje a gente tava de boa, mas um mês atrás, tava geral dando de cara com a morte. — Tem como criar um filho namoral nessas condições?
Dei de ombros também, olhando pra janela e desviando os olhos dele. Eu não sabia se dava, mas vontade eu tinha, ué... fazer o quê? Eu não queria deixar que o nosso "trampo" interferisse na vida pessoal que a gente ia ter. Tanto amigo nas mesmas condições que a gente tinha um monte de filho ai, não era nada anormal. Beleza que as vezes eles acabavam que meu pai, sem poder criar os filhos... Isso também não era anormal. Ele não tava errado, mas, mesmo assim, a recusa não dita dele me deixava meio mal.
— O Pedro foi acidente? — Perguntei baixinho, olhando as ruas se escurecendo pela noite.
— Mais ou menos. — Disse no mesmo tom, concentrado na estrada. — Eu e a Larissa, a gente nunca ligou muito pra evitar que acontecesse. Ai aconteceu. Ele morou com a gente nos primeiros anos, mas depois o negócio apertou e ele foi morar a mãe dela.
Concordei com a cabeça, sem dizer nada. Me distraí com as luzes dos postes da autoestrada, que passavam rápido como vagalumes. Notei os olhos do Barbás desviando rapidamente pra mim, mas fingi não perceber.— O que que foi? — Ele perguntou, parecendo preocupado. — Você acha que...
— Nada disso. — Interrompi ele, sabia que ele ia perguntar se eu tava daquele jeito por desconfiar que tava grávida. — Não tem nada a ver.
— Tu tá tomando remédio? — Questionou, desviando os olhos da estrada pra me olhar várias vezes.
— Tô, ué. — Esfreguei a testa lembrando todas as vezes que eu tinha tomado remédio nos últimos meses. Tirando nas semanas finais da treta, que eu acabava perdendo a hora porque tava defendendo nossa frente, eu tinha tomado sempre regradinho. Sempre! Nos dias que eu atrasei, eu sempre tomava quando chegava em casa e na época a gente não tinha lá muito tempo pra ficar trepando o tempo todo... Então, tudo certo.
— Irmão, eu odeio quando tô falando um bagulho sério e tu quer ficar dando resposta curta. — Reclamou. — Fala direito, porra.
— Eu tô falando, Barbás. — Me exaltei também, virando pra ele. — Só que não tem muito o que dizer. Não, eu não tô grávida, eu tô tomando o remédio, tá tudo certo.
Ele ainda parecia meio desconfiado, notei isso só pelo olhar dele. Nessa hora, ele saiu do túnel e do meu lado, eu já conseguia ver as luzes da Rocinha morro acima.
— Ô Nina, não é porque eu não quero pensar nessa porra agora que se rolar, eu vou mandar tu tirar. — Falou e eu pisquei algumas vezes. — Não tem porque tu ficar com medo da minha reação, se tu tiver com alguma dúvida, me fala, irmão.
— Dá pra tu acreditar no que eu tô falando pra você? Tá foda assim de confiar em mim? — Me irritei com a insistência dele.
— Eu que te pergunto, Nina. Tá foda assim de se abrir comigo, de confiar em mim? — Ele subiu lentamente pela principal. — Tu tá ai toda quieta, vem com uns papo estranho, quer que eu pense o quê, porra?
É verdade que as últimas tretas, dos últimos meses, tinha abalado um pouco a nossa noção de confiança um no outro. Eu sentia que a gente tava sempre com um pé atrás e isso era péssimo... Resultava numas discussões nada a ver que nem a que tava rolando ali. Eu e ele teríamos que resolver aquilo em algum momento, ou as coisas só iam piorar.
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Amor na Guerra
Romanceㅤㅤ ㅤ"Geral quer ser rei, conspiram pro tempo que não espera. Impérios caem com novos reis, os tempos passam a ser de guerra." MC Marechal ㅤㅤ ㅤO sonho do moleque é ser chefe, o do vapor, do gerente e do segurança também é. O sonho do chefe é sobreviv...