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A percepção me caiu como uma bomba... uma que eu não tava disposta a aceitar. O meu irmão não ia morrer, porra. Ele é uma criança, um menino. Nunca tinha feito nada pra merecer um destino como aquele. Deus não ia levar ele de mim, ele não ia morrer. Não ia.

— Ah não, Jean. Não, não, não. — Neguei com a cabeça. — Fica aqui, não vai embora, por favor, eu tô pedindo. — Fiquei ali, meio aninhada com ele, apoiada nos meus joelhos e ninando meu menino por um tempo que eu não consegui quantificar. Minha mãe se levantou em algum momento e me fez um carinho no rosto, se afastando de nós. Ele caminhou uns metros à frente e começou a andar em círculos, agarrada com os meus outros irmãos. Túlio veio tentar me tirar dele e eu me revoltei, gritei e esperneei. Ninguém ia me tirar do meu garoto, foda-se. Eu só ia sair daqui se fosse pra levar ele pro hospital. Só.

O TK se afastou também, pegando telefone e ligando pra alguém. Eu não prestei a atenção nas coisas que ele dizia e nem queria saber, não... eu só queria ficar ali, fazendo um carinho no Je e contando coisas pra ele.

— Eu vou te levar pra conhecer aquele parque aquático que você queria, juro. Esses últimos meses eu tive trabalhando pra caralho, mas eu juro que vou arranjar um tempinho pra gente passear. A Shirley foi e ela contou que tem um tobogã que desce reto, tipo... reto. Deve dar medo... — Comentei, olhando pro rosto dele. Parecia um anjinho, dormindo profundamente. — Você ia ficar com medo? Não, né?! Tu não tem medo de nada, é super corajoso. Eu teria medo.

Continuei falando e perdi o ritmo das coisas. Eu voltava a chorar, depois parava um pouco e depois chorava mais. Enquanto isso, eu ia sentindo ele ficar mais e mais frio embaixo das minhas mãos. Quando me virei pra pedir pra alguém pegar um cobertor, eu vi o Barbás. Ele tava lá, vindo andando na minha direção com os lábios comprimidos uns contra os outros e o cenho franzido. Ele parecia triste... Triste?

— Will, a gente... — Começei a falar, mas não soube como completar aquela frase. Meus pensamentos tavam meio confusos.

— Vem cá, Nina. — Chamou, pegando no meu braço.

— Não, eu não posso sair daqui, se não ele vai ficar sozinho. — Rebati. Ele continuou me puxando. Dessa vez, engatou os dois braços nos meus e me puxou pra trás. Eu me debatei contra ele. — Me solta, me solta, caralho. O meu irmão não pode ficar sem mim mais...

Ele não falou nada, mas continuou me agarrando. Me virei pra socar ele, que segurou meus punhos e me abraçou, me imobilizando com as mãos pra trás. Enquanto Will segurava meus pulsos com uma mão, a outra ele colocou na parte de trás da minha cabeça, me amparando. Eu não entendi... Não consegui entender...

— Shiii, calma, Nina. — Ele repetiu pra mim. Por cima dos ombros dele, eu vi um dos homens dele segurando meu irmão no colo. Eu me debati, de novo, da melhor maneira que eu consegui, o que não era muito, já que ele tava me prendendo.

— Barbás, eles tão levando o Jean. Barbás! — Gritei e ele me pressionou mais forte ainda contra ele. Minha mãe seguiu eles, com os meus outros dois irmãos junto com ela. Eu fiquei ali vendo todos eles se afastarem em desespero. — Pra onde eles tão indo?

— Pro hospital da Gávea, Nina. Já mandei tirar a Dalila pra lá também. — Explicou. Nessa hora, eu parei de lutar e amoleci nos braços dele, deitando minha cabeça no peito dele. — Pra fazer exame, ver se tá tudo mundo bem. Os outros três pareciam bem, né Túlio? — Conversou com o TK.

— A Lila tá bem? — Perguntei.

— Ela vai ficar. — Confirmou. — O menino que eu mandei lá falou que já tinham imobilizado ela. O Túlio disse que sua mãe, o Andrei e o Luan tão bem também...

— E o Jean? — Perguntei, cortando ele.

— O Jean? — Ele perguntou sem entender. — A gente vai preparar tudo pra você se despedir dele, eu vou cuidar de tudo pra nem você e nem a sua mãe terem que...

— Eu não vou me despedir dele. — Rebati, indignada. Ele piscou, com uma expressão confusa. O TK negou com a cabeça pra ela e eu não entendi. Comecei a ficar nervosa. — Do que você tá falando?

— Nada, Nina. — Ele negou com a cabeça, me fazendo um carinho no rosto. — Eu vou te mandar pro Vidigal também, tá? Pra você descansar.

— Não quero ir pro Vidigal. — Protestei de novo. — Eu tenho que ir ver os meus dois irmãos no hospital. A Dalila e o Jean tão lá. — Disse como se fosse óbvio. — Mas antes a gente tem que tomar a Rua 1. Já acabou? — Perguntei tudo de uma vez e ele ficou sem ter o que responder.

— Não, não acabou, por isso eu tenho que voltar. Seu pai tá sozinho com a minha tropa e a dele lá na principal. — Falou, mexendo nos meus cabelos. — Vem, um braço meu vai te deixar lá no Vidigal, assim que acabar tudo aqui eu vou lá te encontrar.

— Não, mano. De jeito nenhum é a minha missão, eu vou contigo. — Disse com firmeza. Minha cabeça tava uma confusão. Parecia que alguém tinha vindo e batido a mão por cima do meu quebra-cabeças, agora tinha peças por todo lado. — Depois eu vou pro hospital. Tu disse que eles tavam bem, né? Então. Eles tão bem. Vamo arrumar essa favela de uma vez, pra eles poderem voltar pra cá em paz.

Amor na GuerraOnde histórias criam vida. Descubra agora