[...]
[NINA]
Eu e o Barbás ficamos a tarde toda com o Pedrinho no hospital, até quase o final do horário de visitas. Larissa depois explicou pra gente que não sabia se ele ia precisar de um rim novo realmente, que o médico dizia que inicialmente era teria que ver como ia desenrolar o caso dele. O fato é que o saúde dele estava se restaurando em tempo recorde agora. Há algumas semanas, ele ainda estava saindo do quadro de infecção, agora já estava alegre e agitado. Ele era forte, ia ficar bem... Eu acreditava nisso e ia rezar por ele toda noite.
Me despedi do Pedrinho e deixei o Barbás ter um pouco de privacidade com o menino dele. Combinei de o encontrar na recepção principal pra gente ir embora juntos, enquanto isso, eu desci sozinha as escadarias do hospital e andei pelos corredores até a cafeteria. Lá eu comprei um daqueles cappuccinos de máquina que eu amava e fui dar uma volta no hospital. Segui o corredor da saída, atenta aos setores daquele lugar. Tinha um cheiro de limpeza, de químicos, eu não sabia explicar... Não era exatamente um ambiente agradável, o branco puro das paredes me incomodavam, fazia os meus olhos doerem um pouco, mas não era ruim também. Vaguei pelo lugar vendo pessoas indo e vindo de suas tarefas, médicos, enfermeiros, pacientes... E grávidas.
Uma moça com um barrigão andava até uma sala à minha esquerda. Ela tinha uma expressão dolorida no rosto, ao passo de que sorria também. Fiquei em choque com a dualidade estranha de sentimentos. Ela estava com dor e tava rindo? Também andava meio esquisito, segurandando a base da barriga. A mulher de aparência meio jovial se apoiou no corrimão da parede, fechando os olhos com força. Eu me aproximei para amparar ela...
— Tudo bem, moça? — Perguntei, ajudando ela a endireitar a coluna um tempo depois.
— Tudo ótimo. — Ela voltou aos ares de felicidade. — É só... — Sorriu de novo. — O meu bebê tá vindo, finalmente.
— Ah. — Lhe retribui o sorriso, ajudando ela a completar o caminho até a sala. — Que venha com muita saúde.
— Vai vir sim. — Ela concordou com a cabeça, se apoiando na maçaneta da sala e se virando pra mim. — Que o seu venha saudável também, mãezinha. — E se virou, caminhando com seu jeito meio desengonçado de volta para os braços de enfermeira.
— Eu não tô... — Tentei me justificar, mas ela já tinha ido. — grávida. — Completei a frase, olhando o ambiente ao redor. Mulheres em diferentes estágios de gestação. Umas com a barriga pequena, outras que pareciam estar com uma bexiga enorme na barriga. Outras, já estavam até andando pra tentar aumentar as contrações do trabalho de parto, como a menina com quem eu tinha esbarrado. Todas elas tinham uma luz nos rostos, uma aura que dizia 'mãe'. Pareciam felizes... Observei a meia luz, todas as revistas de maternidade e os objetos infantis. Me juntei a elas, sentando em um dos sofás claros que tinham ali.Eu gostaria de ser mãe? Essa era uma pergunta que eu nunca tinha feito à mim mesma. Acho que nunca tinha nem cogitado a maternidade como algo realmente sério. Agora, eu olhava ao redor e sentia uma vontade esquisita crescendo em mim. Eu não sabia nem se estava pronta pra trazer uma pessoa ao mundo, era muita responsabilidade. Mesmo assim, era algo tão lindo e iluminado... Ter um bebezinho crescendo ali... Levei as mãos ao ventre, imaginando como seria ver ele dilatar e expandir como estava acontecendo com as moças...
Eu não sabia quanto tempo tinha perdido ali, fantasiando sobre aquelas coisas, mas eu sai dos meus delírios quando uma batida vigorosa no vidro atrás de mim me chamou a atenção. Me virei pra ver o Barbás me chamando pra fora. Fiquei vermelha na hora, que vergonhoso ser pega por ele numa situação daquelas... Me levantei com a cara no chão e andei apressada pro lado de fora, saindo quase que correndo na frente dele, que veio me acompanhando com um olhar estranho no rosto.
— O que tu tava fazendo lá? — Perguntou, enquanto a gente passava pela recepção e ia direto para a porta de saída.
— Nada não. — Respondi meio subita, parecendo suspeita.
— Nada não? — Ele não tinha gostado muito da resposta.
— É, ué. Não foi nada, eu nem sei o que eu tava fazendo lá. Por quê? — Rebati.
— Por que tu tá na defensiva assim, irmão? Foi só uma pergunta. — Disse, parecendo confuso com meu comportamento, enquanto desbloqueava o carro com a chave. Entrei e bati a porta atrás de mim, apoiando o cotovelo na janela a testa na mão. Ele entrou logo depois de mim e deu partida.
— Uma moça que tava em trabalho de parto tava vindo na minha direção e eu ajudei ela à voltar pra enfermeira. — Contei. — Acabei ficando presa na aura da maternidade daquela sala.
— Hm. — Ele disse, desviando os olhos do trânsito pra mim por um segundo. — Tu parecia estar envolvida mesmo. — Comentou, fazendo a curva pra voltar pra Mário Ribeiro. — Você quer? Ser mãe? — Perguntou, quase como se tivesse lendo minha mente.
— Sei lá, eu nunca tinha pensado nisso até então. — Confessei, piscando. Minha mão, inconscientemente estava sobre a minha barriga. — Mas lá dentro, eu achei que sim. — Virei pra olhar ele e estudar sua reação. — Você teria outro filho comigo?

VOCÊ ESTÁ LENDO
Amor na Guerra
Romanceㅤㅤ ㅤ"Geral quer ser rei, conspiram pro tempo que não espera. Impérios caem com novos reis, os tempos passam a ser de guerra." MC Marechal ㅤㅤ ㅤO sonho do moleque é ser chefe, o do vapor, do gerente e do segurança também é. O sonho do chefe é sobreviv...