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O dia amanheceu cinza como o meu humor. Eu estava na sala, vestindo só a camisa do Barbás e com olheiras enormes. Olhei ao redor, procurando o dono da casa, mas ninguém a casa parecia vazia. Parecia... O barulho que havia me acordado vinha da trinca da porta da frente persistiu e eu me sentei de sobressalto. Passei a mão nos olhos e relaxei, achando que era o William voltando de comprar pão ou algo do tipo. Engano meu, obviamente. Só ele ter cuidado de mim ontem devia ter estourado a cota de gentilezas dele... A luz invadiu a casa pela fresta da porta e eu demorei pra focalizar a pessoa que estava lá.
Era a mulher meio loira com suas tatuagens... Por um momento, eu pisquei pra ter certeza de que era ela mesmo. Mano? Sério? Eu nem me dei um trabalho de levantar, eu cruzei minhas pernas no sofá, passando a mão nos olhos e tirando os cabelos do rosto. Se pá era um pesadelo igual aos vários que eu tinha tido essa noite.
— Cadê o Barbás? — Perguntou a mulher, cruzando os braços na frente do peito.
— Sei não. — Falei, olhando ao redor.
— Como não sabe, minha filha?
— Quer ver se tá no meu bolso? — Perguntei, com a voz carregada de deboche, enquanto me levantava e ia na direção na escada. Foi quando eu vi o molequinho quase escondido atrás das pernas dela. E ele parecia o Barbás. Eu paralisei no lugar e fiquei olhando pra criança. Meu pai do céu...
Nessa hora, uma senhora, de uns 50 anos e pouco, apareceu na porta também com uma bolsa no colo. Eu fiquei observando aquela cena com um mal humor do caralho. Na minha cabeça, eu ainda ficava revendo tudo o que tinha acontecido ontem e aquilo minava toda a vontade de ficar em pé que eu tinha. Era uma merda... Eu tava virada no diabo.
— Madalena, graças a Deus, porra. Toma o Pedro. — Ela empurrou o menino suavemente pelas costas na direção da mulher. — Eu vou ter que sair por uns dias pra resolver uns bagulhos. Cadê o pai dele?
— Eu vi ele mais cedo, dona Larissa. Ele tava com uns caras esquisitos ai. — Falou a moça. — De arma. — Ele foi pro trabalho? Mas não era nossa folga, mano?
— Mas é Domingo, caralho. — Falou a loira.
Elas ficaram ali conversando como se fossem velhas conhecidas e eu, como tava sobrando pra cacete, subi pro quarto pra pegar meu celular e pedir um SOS pra Dalila. Subi rapidão os degraus e disquei o número dela.— Lila, se liga, pega uma muda de roupa pra mim e trás aqui pra mim. — Pedi, indo pro banheiro do Barbás tomar um banho e escovar os dentes com os dedos, já que era o tinha pra hoje.
— Graças à Deus, hein? Vou ficar sabendo onde tu tá passando as noites, safada? Quem é o namorado?
— O namorado é ninguém não, mas tu pode trazer roupa pra mim aqui na casa do Barbás, por favor.
— DO BARBÁS? — Ela gritou do outro lado da linha e eu deu um tapa na testa.
— É, mano. Não faz escândalo e nem fala pra ninguém, tô te esperando aqui. Não demora, na boa, nunca te pedi nada. — Falei, me despedindo e desligando. Quanto menos eu ficasse ali, melhor pra minha sanidade mental. Aquela mulher me tirava do sério, na boa, mané. Ainda mais hoje que eu não tava boa, a paciência tava curta. Eu tinha acabado de sair do banheiro, depois de uma ducha e enrolada num roupão, quando encontrei a vaca loira me esperando.
— Tenho que bater um papo contigo antes de eu ir. — Falou e eu semicerrei os olhos, dando a volta nela e ficando de costas pra cama, perto o suficiente da minha pistola... só pra caso eu precisasse mesmo. Cruzei os braços que nem ela e me aproximei vários centímetros dela, com a mesma postura intimidadora dele. Foda-se. — É pra ficar longe do meu filho, entendeu? Seja a comidinha do pai dele o quanto tu quiser, mas não é nem pra olhar pro nosso...
— Olha como tu tá falando comigo. Tá maluca, piranha? Não sou tua amiguinha não. — Falei num tom muito mais baixo que o dela, com a ameaça marcando cada palavra da frase. — Se eu falar com teu filho, tu vai fazer o quê, cachorra? Vai me bater? Tu pode tentar.
— Se põe no teu lugar. — Ela falou, ameaçando vir pra cima de mim.
— Se põe você no teu lugar, porra. Tá achando que eu tenho medo de você? — Respondi, puta da vida já. Eu já tava começando a ver tudo vermelho e tava vendo a hora que eu ia enfiar a mão na cara dela. Tentei mentalizar que tinha uma criança na casa e que eu não podia merda.
Ele me deu um empurrão no caralho e me xingou uma última vez, virando as costas pra ir embora e eu agradeci pela ideia de ter a minha pistola na mão. Passei a mão na arma e agarrei ela pela cabelo bem quando ia descer as escadas.
— Escuta aqui, eu não sei quem tu é e nem quero saber, mas da próxima vez que cê vim de marra pra cima de mim, tentando me botar medo, eu vou te dar tanta porrada que tu vai esquecer o teu nome. — Ameacei em um sussurro no ouvido dela, segurando ela forte pelo cabelo, emaranhado na minha mão. — E eu só não vou fazer isso agora porque seu filho tá aqui, então me respeita, caralho. Agora mete o pé logo. — Mandei, largando ela e botando a 2° mão na pistola. Se pá ela ia tentar alguma coisa, mas viu que eu tava armada e desistiu. O tempo todo meu olho tava na cintura dela, onde um .38 tava reluzindo com a luz. Se ela se mexesse muito naquela direção, eu ia atirar naquela puta sem pensar duas vezes. Tava de saco cheio já.
Pra nossa sorte, ela só meteu o pé e saiu batendo a porta, então, ninguém presenciou tiroteio nenhum naquela manhã.
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Amor na Guerra
Romanceㅤㅤ ㅤ"Geral quer ser rei, conspiram pro tempo que não espera. Impérios caem com novos reis, os tempos passam a ser de guerra." MC Marechal ㅤㅤ ㅤO sonho do moleque é ser chefe, o do vapor, do gerente e do segurança também é. O sonho do chefe é sobreviv...