87

2.7K 190 0
                                    


— Cara, pelo amor de Deus. Você não tá pensando direito, não faz merda. — Pedi. — Fazer as coisas de cabeça quente vai te matar, Barbás. Agora a gente tem que pensar no Pedrinho. — Falei, tentando chamar ele de volta, mas aquele homem já estava muito longe de mim.

— Eu vou quebrar as pernas dele hoje e do meu jeito. — Falou, me jogando pro lado de novo e continuando a marcha com os homens dele. Engoli em seco, sentindo o ardor do meu braço se misturando o ardor dos meus olhos.

— William... — Choraminguei, passando as mãos no olhos em desespero. Meu pensamento oscilava entre ele, completamente maluco, e o Pedro, que era só um menino. Aquilo era um mergulho no lago de enxofre. Eu corri atrás deles. No final da rampa da Vila Verde, um grupo pequeno estava reunido e às vistas, distraídos ao falar no telefone. Ao subirem pela encosta, os homens da Barcelos não deram na vista que estavam se aproximando. Como predadores...

Estavam de costas, quando Will saiu sozinho de uma viela, na frente de todos os subordinados dele. Os quatro só se deram conta de quem os espreitava quando já era tarde demais. Barbás tava com a Glock com a modificação de pente, que a transformava numa sub, então, custou muito pouco pra ele soltar uma só em cima deles. Sem defesa nenhuma pela surpresa, ele derrubou os três primeiro na primeira rajada, o quarto, que estava na outra ponta e não foi baleado, ele deu uma coronhada com o pente na mandíbula, derrubando no chão e finalizou com um tiro na cabeça. Foi tão rápido e brutal, que eu senti que perdi a metade quando pisquei, imagino pra quem estava lá... Não deviam nem ter raciocinado o que tava acontecendo. Um a um, ele foi finalizando, ou apenas garantindo que estavam mortos mesmo, com um tiro no rosto. Não no pescoço, no peito, nem mesmo na testa, todos no rosto e à queima-roupa. Eu senti que ele queria dar um velório indigno pra todos aqueles homens, uma demonstração muito clara do ódio que o envenenava de dentro pra fora. Ninguém se intrometeu, nem se mexeu pra ajudar ele à acabar com aqueles homens... Era o direito dele descarregar a raiva nos causadores dela. Eu me juntei aos homens e apertei o braço no TK, me sentindo tão angustiada que chegava a sufocar.

Barbás sempre teve todos os seus defeitos... era insensível, calculista e fechado. Eu estava acostumada com a sua tranquilidade inabalável e a máscara de frieza. Ele sempre sabia o que fazer, sempre pensava 10x em um espaço de segundos e não dava um passo antes de ter certeza de que era o melhor.

Aquele homem que eu estava assistindo numa cega selvageria, eu não conhecia. Ele tinha olhos, mas não conseguia enxergar. Não pensava em nada, mas sentia o cheiro de sangue. Um Barbás impulsivo e sem controle, esse eu nunca tinha visto. Eu já o tinha visto matar muitas vezes, mas era a primeira onde eu o via sentir prazer em fazer aquilo. No fundo, eu sabia que ele estava desesperado, sofrendo todos os seus piores pesadelos, ele estava ferido... e não me deixava chegar perto.

— Cadê o resto dos teus parceiros, irmão? — Perguntou ele para o último dos vivos, enquanto pisava na garganta dele. — Correram?

— Barbás! — Chamou o TK, olhando fixamente para um ponto mais afastado e próximo da mata. Ele não o ouviu.

— Tem gente ali, Tulio. — Falei, saindo do meu lugar e percorrendo alguns metros escorada nos barracos.

Eu e ele seguimos discretamente naquela direção, onde eu apontei pra ele. Com armas nas mãos, a gente se posicionou mais adiante e esperou. Se tivesse alguém por ali, como eu tinha tido a impressão, ele dar a cara numa posição onde a gente ia poder derrubar rápido. Isso na teoria, na vida real não dava pra ter certeza de nada. Foi um momento tenso pra cacete, a gente se preparava pra meter bala em alguém, enquanto o Barbás simplesmente dava as costas dele de graça e brutalizava com o cara.

— Ele tá maluco, Tulio. — Lamentei, desviando os meus olhos por um segundo para ele. — Ele vai se matar assim. Quando o Misael souber o que rolou aqui... — Não consegui terminar. Eu não queria ver ele morrer. Eu não queria ver o Pedro morrer. Porra!

— Abre o olho, Nina. — Ele negou com cabeça. — Isso ai é ele cortando relação com o vagabundo do M7. Ele não teria passado os caras dele assim, se não fosse certo já.

— Ele passou os caras porque ele não tá pensando, porra. — Falei, olhando pra ele de novo.

— Ele tá sim, só tá puto e bolado com o filho dele. — Disse. — Ele mandou chamar teu irmão, o Parma tá descendo, o Peralta já tá ai. Já deu já, Nina, tá feito já. — Avisou. — Eu não sei o que ele quis fazer, mas ele deu tiro em uma criança que não tinha nada a ver com nada. Ele vai ser cobrado por isso, parceiro.

— Faço questão de botar esse merda de quatro. — Falei, sentindo a raiva aquecer minhas bochechas. — Pra onde levaram o Pedro, TK? Ele tava bem? Como ele tava? — Perguntei, sabendo que ele tinha sido um dos últimos a ver o garoto.

— Ele tava com um furo de bala do lado da barriga, não sei se a bala atravessou, se ficou, mas o sangramento não tava muito forte não. Vai dar tempo de levar ele pra UPA.

— Mas ele tava bem, tipo, bem, bem? — Falei por cima dele. Era só o que eu queria saber... se ele ia ficar bem.

— Bem ninguém tá bom um tiro nas costas, mas ele tava namoral. Tava chorando e tudo... até a hora que o Barbás colocou ele no carro, ele tava começando a ficar com sono, mas tava acordado. — Contou.

A verdade é que a resposta do Tulio não tinha ajudado em nada. Eu continua sem saber o estado do menino... ele tava baleado, acordado, com sono... Caos.

Eu fui tirada dos meus devaneios por um tiro. Do beco de frente pra gente e da laje do prédio da frente, os restante dos homens de confiança do M7 apareceram. Eram mais 4, um dele tinha sido do bonde do Caburé antes, o Suda. Eu vi o rosto dele ali, no meio daquele homens, traindo a lealdade daquele que tinha começado a carreira dele no corre, exatamente como o Misael tinha feito. Traição parecia lei e regra naquele maldito lugar. Era difícil saber em quem se podia confiar no meio de tanta podridão.

Amor na GuerraOnde histórias criam vida. Descubra agora