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— Uhum. — Concordei com a cabeça. Era estranho conversar assim tão abertamente com ela... Na verdade, eu nem lembrava quando tinha deixado de sentir raiva dela, só tinha acontecido muito naturalmente. — Como o Barbás reagiu quando tu falou do Pedrinho? — Me arrisquei na pergunta.

— Ele ficou feliz, ué. Não acreditou muito de primeira, foi surpresa, mas ele ficou feliz. — Deu de ombros. — Tu não contou ainda?

— Descobri ontem. — Confessei.

— Ele vai reagir bem, relaxa. Barbás gosta de criança. — Me tranquilizou. — Vocês vão ser felizes com um filho.
Concordei com a cabeça, jogando minha cabeça pra trás. Era especialmente bom escutar aquilo de quem já tinha uma experiência concreta do assunto. Eu sabia que ele não ia ter uma explosão de raiva e nem nada do tipo, mas sabia que não ia poder exigir que ele ficasse feliz. E se ele não ficasse? Porra, eu ia ficar 2x mais infeliz.

— Foi difícil ficar longe do Pedro? Quando ele foi morar com a sua mãe?

— Barbás te contou como era? — Ela negou com a cabeça e eu acenei com a cabeça. — Foi difícil pra caralho, mas eu entendia que ele ficava melhor lá. Eu chorava que nem uma criança nas primeiras semanas e ficava indo o tempo todo no Vidigal ver ele, não é assim tão horrível. A gente sempre dá um jeitinho de ir ver o rostinho deles, não importa o quão cheia de coisa pra fazer a gente esteja. Quando as coisas acalmavam, eu trazia ele de volta.

Ri com ela. Eu conseguia imaginar bem como era, se eu precisasse viver longe do meu filho, como ela teve, eu faria a mesma coisa. Viveria escapulindo pra ver o meu bebê e negligenciando minhas responsabilidades. Agora, eu conseguia admirar aquela mulher que, um dia, eu já tinha visto como uma rival. Larissa era uma ótima mãe, eu via como ela orbitava o Pedro acima de tudo, e eu tinha que confessar que queria muito ser como ela era.

Nós avançamos pela Avenida das Américas com rapidez, já que a entrada da madrugada deixava as ruas mais vazias. Em poucos minutos a gente adentrou na rua do megacondomínio onde vivia o irmão do M7. Larissa abaixou os vidros, acendeu a luz interna e reduziu a velocidade pra passar na porteira, até quase parar em frente a cabine da entrada.

— Fala com ele ai, Nina.

O homem de meia idade saiu de dentro da sua salinha e veio na nossa direção.

— Boa noite, é pro 23. Apartamento 207. — Disse à ele, sabendo que ele identificaria a gente pelas rolos nos quais ele tava inserido. Ele fez um joinha com a mão e entrou pra pegar um negócio lá dentro. Entregou um chaveiro que parecia uma rodinha de plástico simples e não disse mais nada, só fez um gesto com a mão mandando a gente entrar e voltou pra dentro da cabine. Larissa voltou a andar com o veículo e eu fui lembrando ela onde a gente não podia passar. Ela deu uma puta de uma volta por dentro das ruas do lugar e parou próximo à entrada lateral, que dava pra uma rua cheia de árvore, escura pra cacete. Assim que paramos em frente ao portão dourado, vimos um carro preto piscar duas vezes pra nós. Eram eles.

Desci com o chaveiro na mão, olhando aquilo. A verdade é que eu tava esperando algo diferente que um trequinho de plástico e não fazia a menor ideia como aquilo funcionava... Examinei a lateral do portão e acabei achando uma maquininha que parecia um celular. Tinha uma tela toda preta com o mesmo símbolo da rodinha de plástico no centro. Aproximei o chaveiro da superfície e vi uma luz verde acender. Me assustei com um barulho dos trilhos do portão, enquanto ele se movia inteiramente pro lado. Barbás acelerou o carro pra dentro e um tempo depois, ele voltou a fechar.

— Tudo certo lá na frente? — Will abaixou o vidro do carro pra perguntar.

— Tudo.

— Então tranquilo. Fala pra Larissa estacionar perto do 23 lá, mas já na posição pra meter o pé. — Mandou, acelerando o carro e saindo do meu lado. Voltei pro outro automóvel e repassei o recado. Ela seguiu ele de perto e escolheu uma posição que ficasse mais próximo da ruazinha que levava a gente pro portão lateral de novo. Ai descemos as duas e nos aproximamos sorrateiramente da entrada, onde o Will e o Wallace já nos esperavam. Ficamos ali e aguardamos o 'ok' do Parma, que tava em contato com o porteiro quanto à "queda" no serviço de vigilância daquela parte do condomínio. Uns minutos depois, a confirmação veio.

Barbás entrou primeiro, verificando a luz da câmera que ficava no teto. Apagada. Nós seguimos ele, direto pelas escadas, já que o elevador também registraria a nossa entrada daquele lugar. A ideia era que passassemos invisíveis por ali, ninguém poderia notar que estivemos naquele lugar ou daqui há umas semanas, nossos rostos iam estar nos jornais. Até pra fazer merda, tem que fazer bem feito, né?!

Foram vários lances de escadas até o 2° andar, onde paramos de novo pra verificar o sistema de vigilância. Silenciosamente, eu fui na frente do grupo, com a pistola na mão, até a porta do 207. Mentalmente fui repassando o que eu tinha que fazer, depois, respirei profundamente e apertei a campainha, me ocultando na parede adjacente da porta. Aguardei a resposta pacientemente, junto os outros três. Ninguém ali mal respirava. Apertei de novo depois de alguns segundos e mais uma vez, nenhuma resposta nos momentos seguintes. Começamos a nos entreolhar, preocupados que ele pudesse não estar ali. Apertei uma terceira vez e nessa, logo que eu estiquei o meu braço e o primeiro sinal sonoro invadiu o ambiente, a porta se abriu bruscamente.

Amor na GuerraOnde histórias criam vida. Descubra agora