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Eu tava nervosa. Cara, eu tava surtando além do normal, mas precisava ficar focada. Por isso, eu passei na boca pra ver como as coisas tavam lá antes de ir pra Vila Verde. Como eu imaginei, tava tudo corridasso. Tavam terminando de embalar a droga pra distribuir pros aviões e pra levar pros pontos de venda no baile. A Xica não demorou pra me notar ali.
— E ai, Ninão. Suave? Que que deu que tu não veio hoje?
— Eu vou ter que dar uma saída, pra resolver uns problemas ai. — Falei, olhando pros lados e querendo desviar do assunto. — Vim só ver como cês tavam.
— Aqui tá tranquilo. Tamo só esperando o Barbás dar sinal de vida, ele ficou de fazer uns negócios ai pra família e só liga dando ordem. — Ela deu de ombros. Pela maneira como falou, provavelmente nem ela sabia da cria dele.
— Saquei.
— Que que tu tem? Tá passando mal, nega? Vai pro baile hoje, né?! — Me jogou um bilhão de perguntar.
— Tô de boa. Acho que não vai dar pra eu ir hoje não, mas qualquer coisa eu te mando um whats. Tá dando a minha hora, até depois, Xica. — Dei um beijo na bochecha dela e marchei pra fora. Dali, eu fui andando pra entrada da Vila, querendo me comprar mais alguns minutos pra pensar.
Lá, parado num carro preto, um Fusion bonito, estacionado na lateral que dava pra autoestrada. Caburé abaixou o vidro insufilmado e me mandou entrar. Sentei em um dos bancos de trás, olhando para os homens que estavam lá dentro. De todos, eu só conhecia um rosto: Márcio... Mano, como o Márcio tava nessa?
— Seguinte, rapaziada. Essa ai é a Nina, ela quem vai fechar com vocês pra cumprir a missão lá. O motorista é o Misael, M7, meu gerente-geral. O carona é Sunda, meu segurança. Esse que tá aqui do teu lado é o Marciano, também meu fechado. Só tem irmão aqui, tem tudo pra dar certo. Vou ficar esperando aqui, cês vão me passando a visão do que tá rolando.
— Tranquilo.
— Eu trouxe um negócio pra tu. — O Caburé virou e pegou um fuzil que tava jogado em cima da mala, atrás do banco. — Teu.
Concordei com a cabeça, passando a mão no corpo preto e gelado da arma. Porra, agora eu tinha uma porra daquela só minha. Foda... Pelo menos agora eu sabia usar. Se fosse em outra hora, eu teria ficado felizassa e levaria aquilo quase como uma promoção. Agora... O Caburé bateu na mão de cada um que tava ali dentro e saiu do carro, dando duas porradas no lateria. Ai o motorista arrancou com o carro pra fora da favela.Márcio me olhou com um sorrisinho no rosto e apertou minha mão que tava no banco. Era bom ter um rosto conhecido ali, eu quase me sentia mais segura do lado dele.
— Vai dar bom, fica de boa. — Acho que ele notou que eu tava meio fora de órbita. Sorri pra ele da melhor maneira que pude, apertando a mão dele de volta.
— Como que a gente vai fazer? — Perguntei para os outros, que eu só conhecia de vista.
— Tu quem tem que me dizer. Caburé botou tu de frente da missão. — O motorista falou e eu respirei fundo. Bora, Nina! Tem que focar nessa porra, não dá pra dar errado.
— Como a gente vai encontrar os dois? O CR não falou nada pra mim, só disse que eu tinha que ir encontrar os caras. — Perguntei.
— O M7 tem um encontro marcado com esse cara hoje. — O Suda falou e foi cortado pelo Misael.
— Tamo indo levar dinheiro pro Siqueira, que nem o padrão de toda semana.
— O lance é botar ele no carro na encolha, sacou? — Foi a vez do Márcio falar.
— Ele e o filho? — Perguntei. — Não dá pra passar o cara no meio de rua e fazer o que o CR mandou. Vamos ter que levar os dois pra um lugar escondido. Onde?
Nenhum deles falou nada e eu comecei a ficar puta.
— Estrada da Canoa ali, subindo São Conrado. Dá? Para o carro no canteiro e arrasta os caras uns metros a dentro da trilha? A essa hora fica escuro lá.
— Dá. É assim então. — Concordou o motorista, dirigindo pelas ruas arborizadas de São Conrado. Minutos depois, ele parou o carro embaixo de uma porrada da árvores, numa rua silenciosa pra caralho, que dava pra umas casas chiques. O sol começava a se pôr no horizonte. O M7 saiu do carro e eu segui ele, os outros dois ficaram do lado de fora. Ele deu uma mala na minha mão.
— Vai lá atrair a atenção do cara. O carro dele é aquele branco ali. — Apontou para um carraço do outro lado da rua.
Agora era hora de usar da minha criatividade pra fazer um peixão morder a isca...
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Amor na Guerra
Romanceㅤㅤ ㅤ"Geral quer ser rei, conspiram pro tempo que não espera. Impérios caem com novos reis, os tempos passam a ser de guerra." MC Marechal ㅤㅤ ㅤO sonho do moleque é ser chefe, o do vapor, do gerente e do segurança também é. O sonho do chefe é sobreviv...