— Tão puto, mas não viram o corpo. Eu e o Russo mandamos tirar na encolha na madrugada de ontem quando chegou aqui perto. — Explicou pra todos. — Mas morre isso aqui pra não dar mais merda.
— Tá resolvido. O Parma botou eles nas pontas pra não resolverem causar, eu botei uns caras pra ficar de olho neles só pro caso, né?! Mas tá de boa. — Wallace quis me tranquilizar. — Eles vão participar com a gente, então tá fechado.
— Uhum. Tá de boa se algum deles me ver passando na rua então? — Insisti naquilo, já que o que falavam não tava me passando muita verdade.
— Não é assim também, o Peralta tá sumido pra eles, assim como tu também tava, e as coisas vão continuar assim até a gente tomar tudo e estabilizar a favela. Depois a gente fala o que aconteceu. — O outro se ratificou. — Até lá, não é muito de boa tu ficar dando a cara por ai não. Os ânimos de geral tão exaltados.
— Tô vendo. — Agora sim... A verdade. Novidade que a minha condição tava uma merda. Um pessimismo bizarro tava se elevando na minha mente, azedando meu humor. Uma angústia esquisita se prendia no meu peito e eu não conseguia entender, nem explicar aquela sensação. Não era medo e nem tristeza, não era ansiedade e nem nada. Só, uma angústia profunda. Presságio? Senti um arrepio percorrer o meu corpo, levantando todos os pelinhos do meu corpo.
— O que interessa de verdade é que essa porra vai acabar. — Barbás falou, erguendo o fuzil pra cima e olhando o início da favela com uma expressão satisfeita. O sol já estava raiando forte e clareando os céus. Seus raios despontavam discretamente entre as núvens que encobriam o azul sobre as nossas cabeças, aquecendo agradavelmente a pele.
— E não é que veio mesmo? — Parma riu, apontando com a cabeça pra frente. Eu me ergui nos braços, sentindo uma pontadinha no esquerdo por causa dos acontecimentos da noite passada. Levantei pra ver um monte de carros se reunindo pra entrar na favela, todos com os vidros pra baixo e em um ritmo lento. Russo fez um 'ok' pra um cara lá em baixo, que foi ajudando a estacionarem em fila ali na rua do comércio.
Do primeiro deles, saiu o Mandarim, cheio de seguranças em volta, como já esperado. Meu irmão e o Parma desceram na frente pra ir falar com ele, Barbás ficou do meu lado, me olhando com um olhar estranho.
— Tu tá bem mermo? — Perguntou de novo.
— Não sei, é só... sei lá, uma sensação meio ruim. — Neguei com a cabeça, querendo desconversar aquilo. Não tava afim de passar pra ele as minhas péssimas vibrações. — Deve ser fome, a gente não come desde ontem. Bora parar pra comer.
— Vamo comer com ele. — Apontou pro encontro casual que acontecia há alguns metros da gente. Os outros dois apertavam as mãos do homem moreno que tinha chegado como o reforço que a gente precisava. Os olhos escuros dele, porém, se focaram em mim.
— Vamo. — Concordei com a cabeça e nós descemos a rampa pra nos juntarmos aos outros.
Uma expressão que eu não consegui entender muito bem surgiu no rosto do Carlos quando meu viu ali, com o fuzil nas costas, rodeada de gente como ele. Era um sorriso genuíno pela minha presença e algo a mais... Ele apertou a mão do Barbás e pegou a minha, beijando o topo dela. Até quis abraçar ele, mas sabia que aquele gesto não cabia num momento como aquele. Deixei pra depois.
— Carlos, esse é o Parma, nosso amigo. — Apresentei. — O Russo, que é meu irmão... De criação. — Complementei ao notar o olhar de confusão dele. É claro, o Wallace era mais velho que eu e bem... eu tinha sido a primeira filha que ele teve com a minha mãe. Ri com a ideia dos pensamentos que tinham passado pela cabeça dele. — E esse é o Barbás. Meu marido. — Contei. Todo mundo.... Tipo... todo mundo que tava perto virou a cara pra gente na hora.
— Quê? — O Russo foi o primeiro a verbalizar o que tava todo mundo pensando. — Como assim marido?
— Sabia nem que tavam namorando. — O Parma tossiu, não conseguindo conter o riso.
— Nem eu, porra. E olha que eu moro com ela. — O Wallace se exaltou e o meu pai foi olhando de um pro outro. — Cês tão de caô, nem vem.
— Tu não comentou nada que era casada comigo. — Carlos falou, depois de um tempo.
— É, eu não era. — Dei de ombros. — Mas a gente casou. — Contei, mostrando o anel pra eles. O Wallace riu também, pegando minha mão e negando com a cabeça.
— Não, não. — Negou com a cabeça, achando graça.
— É sério, po. — Barbás confirmou.
— Quando foi isso? — Ele perguntou, piscando com a resposta do Barbás.

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Amor na Guerra
Romanceㅤㅤ ㅤ"Geral quer ser rei, conspiram pro tempo que não espera. Impérios caem com novos reis, os tempos passam a ser de guerra." MC Marechal ㅤㅤ ㅤO sonho do moleque é ser chefe, o do vapor, do gerente e do segurança também é. O sonho do chefe é sobreviv...