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[WILLIAM]

— E ai, irmão? — Perguntei pro menino que a gente deu uma nota pra ir procurar a Nina. Era foda mobilizar uma quantidade decente de gente com a favela dominada e a gente escondido. Reuni os caras ali no galpão, sabendo que era um lugar discreto, pra gente fazer a porra da encenação que a gente tinha combinado.

Cinco da tarde e ela não tinha aparecido ali, tava começando a ficar boladão com isso. Irmão, o proceder era simples: tu tinha uma missão, tu ia lá e cumpria ela. Não tinha esse negócio de chegar atrasado não. Tinha gente te esperando ali, gente contando contigo, ela tava vacilando pra caralho.

— Não tá na casa dela não, tio. Nem de cima. Nem na casa do senhor. — Falou.

— Onde ela tá então, porra? — Perguntou o Russo. Eu tava começando a ficar inquieto. A Nina nunca tinha feito um negócio desses, tomado um chá de sumiço desse jeito. Começei a ficar preocupado de que não fosse só vacilação dela.

— Ai, pivete, chega ai. Vai lá na casa da mãe dela, é a casa debaixo, e avisa que a filha dela sumiu. Vê se ela sabe, se não souber, avisa e manda ela procurar. — Disse pra ele. — E avisa pra ela onde a gente tá. Se tiver notícia é pra colar aqui, mas com cuidado pra não ser seguida, entendeu?

Ele confirmou com a cabeça e saiu de novo.

— Tá estranho isso, parceiro. E se ela tiver sido presa de novo? — Wallace questinou, começando a andar em círculos pelo galpão comigo.

— Não, irmão. A Nina é espera, ela sabe que tá ocupado, não vai dar mole de andar armada por ai. — Rebati. — Ainda mais que a ficha dela não tem mais nada pendente. Eles não tem porque levar ela presa. — Conclui que aquela era uma opção praticamente descartada. — E nem ia se meter lá pra cima onde tá o M7.

— Tá onde então? — Ele tava começando a ficar nervoso. Eu botei na minha mente que ela só tinha ido dar um rolé e daqui a pouco voltava. Era bem a cara dela sair no meio da porra toda pra tomar um ar na cara na praia.

— Ele deve ter ido lá no asfalto, sei lá, irmão. Daqui a pouco ela tá ali. — Disse mais pra mim do que pra ele.

— A gente tinha o bagulho marcado aqui, cara. — Só olhei pra ele e não disse nada. Perder a linha ali sem ter certeza de nada era maluquisse. Ela ia aparecer...

[...]


Mais tarde naquele dia, quando a noite caiu, a gente ouviu uns barulho na portão de cima e na hora eu e o Russo nos olhamos. Como a já tinhamos mandado os outros embora, acabou ficando só nós dois ali. Peguei a pistola e destravei, me posicionando na parede do corredor que dava pro portão, fiquei ali na vigia pro caso de ser a polícia.

Quando a pessoa moveu o portão e entrou, eu fui pra cima direto e apontei a arma. Olhei pras duas mulheres por uns segundos, antes de perceber que tava tudo de boa. Era a Dalila e Cláudia, mãe da Nina.

— Acharam a Marina? — Perguntei e a Dalila negou a cabeça. Bufei. — Fecha ai e desce aqui. — Mandei, dando meia volta e travando a arma de novo. Desci pelo beco de novo e me enfiei na parte debaixo.

Lá, eu me escorei na parede e fiquei esperando por elas.

— E ai? — Perguntei, já meio afoito.

— Quando foi a última vez que tu falou com ela, Barbás? — Perguntou a Dalila, com uma clara preocupação carregando ela.

— Ontem a tarde lá na sua casa, po.

— Por celular.

— Muito tempo. Ninguém escondido dá mole de ficar usando celular pra te rastrearem não, bicho. — Falei. — Meu celular tá nem aqui, tá lá na minha casa.

— A gente tinha a esperança de que alguém tivesse falado com ela hoje ainda. — Confessou a Dalila em choramingo.

— Ela tava em casa até a madrugada de hoje. Se saiu, saiu quando o dia amanheceu. — Falou a mãe dela, que tava estranhamente quieta ali.

— Tu sabe de alguma coisa, Cláudia? — Perguntou o Russo, que parecia ter tido a mesma impressão que eu. Ela tava se retraindo.

Amor na GuerraOnde histórias criam vida. Descubra agora