140

2.2K 145 0
                                    

Correndo de volta para o ponto onde a gente tava, eu o vi se afastar. Na mesa hora, passei a mão pelos braços do moleque que patrulhava e dei um impulso pra puxar o corpo dele pra trás. Me partia o coração ver que ele não tinha morrido ainda, os olhos escuros arregalados e desesperados...

— Que Deus te que receba. — Sussurrei pra ele. — Tão novinho...

Passei a mão nos olhos do garoto, fechando-os. Eles não voltaram a se abrir. Fui na direção do que parecia um pouquinho mais velho e lhe roubei o fuzil, passando a bandoleira pelo meu pescoço e ajustando rapidamente a fivela pra ficar ideal pra mim. Testei as travas, era de um modelo diferente do meu, então... Peguei o revólver que ele tava na cintura dele, vendo o tambor rapidinho e notando que tava carregado

— E ai? — Perguntei pro Barbás assim que ele voltou. Ele já saiu me puxando pelo cotovelo rua adentro, num ritmo acelerado de passos. — Toma tua pistola.

— Fica com ela, o 38 é mais difícil de precisar. — Disse, botando a mão no cós da minha calça pra puxar o revólver, que ele colocou na parte de trás da calça. — Bota o fuzil na mão e abre o olho ai, a parte crítica vem agora.

A gente desceu pela vilazinha quase correndo, apesar de ir mais devagar pra não fazer barulho com os passos. A gente precisava sair dali o maior rápido possível. Daqui a pouco os corpos começariam a chamar a atenção de todo mundo. Se virassem na gente ali agora, a chance de nós cercarem era gigante. Por isso, nos afastamos com total pressa e à passos largos em direção à esquina. Felizmente a inclinação da rua era a nosso favor, nos ocultava pelo menos um pouco do pessoal que tava lá no alto da Dioneia.

— Toma a frente ai e me cobre. Eu vou falar com Russo. — Falou, pegando o telefone e discando o último número. Celular era bem mais silencioso que um rádio. Fui na frente com o fuzil apoiado no ombro e atenta á todos os cantos. — Tô chegando ai, toma a frente com os caras pra cobrir a gente aqui. Vamo sair na Parque agora. — Ouvi ele dizer pro meu irmão e desligar em seguida, sem tempo pra despedidas.

Estávamos já vendo a curva pra ladeira que ia dar na principal quando uma gritaria começou do lugar de onde tínhamos vindo. Grito. Choro. A frase "pra lá, pra lá"...

— Barbás! — Chamei na hora, olhando pra trás com os olhos arregalados.

— Caralho, puta que pariu. — Xingou, fazendo sinal pra frente com a cabeça. — Vai, vai, vai. Corre pra esquina que não pode deixar fecharem a gente aqui não.

A gente começou a correr de verdade... tipo, sebo nas canelas. Percorremos os últimos metrôs finais até a descida com os pés mal tocando o chão. Do outro lado, já conseguíamos ouvir o tiroteio recomeçando. Eu não sabia dizer se eram nossos homens ou inimigo caçando a gente...

— Para de abrir essa porra de guarda com a arma, Nina. Corre com o fuzil pronto pra atirar, porra. — Reclamou comigo, por eu perder a postura de combatr enquanto precisava correr daquele jeito.

— Esse fuzil é pesado, porra. — Rebati. De fato, aquele era um modelo de arma muito mais pesado do que o que eu tinha. — Não consigo.

— Então deixa eu ir na frente. — Diminui os passos pra deixar ele tomar a dianteira. Em poucos segundos depois, a gente chegou na descida pra principal da Dioneia. Barbás parou na curva e meteu a cara discretamente pra ver como tava.

— Tô vendo dois protegendo a esquina. Eles tão trocando tiro com o nosso pessoal lá, não vão ver a gente. Pega o que tá aqui perto da gente, que eu vou pegar o de trás. No meu sinal só metralha.

— Tranquilo. — Concordei com a cabeça, posicionando a arma direito pra atirar com rapidez. Um segundo depois, Barbás soltou pra fora do "seguro" apertando o dedo no gatilho com a arma apontada pro cara mais distante. Assim que eu o acompanhei, vi de cara um que tava quase de costas pra nós, há uns 10 metros ou menos. Ele tinha acabado de perceber a gente, então, uma só rajada foi o suficiente pra deitar ele que nem uma peneira no chão. O outro caiu ao mesmo tempo.

Barbás começou a descer a sua num ritmo rápido, colando na parede pra continuar dando tiro nos cara de lá. Ouvi barulhos nas nossas costas quando já tava no meio da descida. Como o Will tava tomando conta da gente, eu botei minha mira pra trás. Do lugar onde a gente saiu, uns homens com camisa do vasco apareceram forçando tiro em cima da gente. Um deles eu derrubei assim que meteu a cara, o outro já tava mais esperto e atirando por de trás da curva. Usando a posição mais alta em sua vantagem.

Em baixo, Barbás tava forçando a nossa passagem. O fato é que se não saíssemos dali agora, o tiro nas costas era certo... dos dois lados.

Felizmente ele conseguiu matar o que tava trocando tiro com ele e o otário que tava dando cobertura de cima de um telhado, com alguma dificuldade. Na hora que o segundo jogou uma bolinha metálica na gente, uma granada, ele me puxou pra trás com toda a força, pelos ombros, me ocultando atrás da parede da Parque. Assim, nós dobramos a esquina, entrando na Estrada da Gávea, que já era um bom meio termo.

Desceu tiro em cima da gente dos que tavam defendendo a área, vários metros a frente. Felizmente, os homem que estavam há pouca a distância de nós, nossos homens, mantiveram eles bem ocupados, devolvendo cada bala que eles jogavam em cima de nós.

Pelo cantinho, mais uma vez, eu e ele corremos meio abaixados, tendo como cobertura a arma dos amigos.

Amor na GuerraOnde histórias criam vida. Descubra agora