— Menor quanto?
— Uns 3, 4 anos no fechado. O semiaberto deve vim depois disso só...
— Meu Deus... É tempo demais.
— Nem tanto, Nina. Eu e tu já tiramos cadeia, a gente sabe que é sorte ficar só 4 anos na nossa situação. — Explicou. — Podia ser pior.
— Ele já foi pro presídio? Foi pra qual? — Perguntei, engolindo em seco. — Aliás, tu falou em advogado. Como que vai fazer?
— Ele tá lá no Gericinó. O nosso advogado eu tô pagando os honorários, mas não sei até quando vou ter grana pra isso. Ai eu vou recorrer aos nossos amigos. Túlio tá correndo atrás de manter uma base, agora que a Rocinha acabou pra gente. — Contou.
— Eu posso mandar o dinheiro do advogado. — Sussurrei, não sabendo nem de onde eu ia arrumar o money pra pagar a conta de um defensor. Ainda não pelo menos. — Eu vou ter que mandar pros meus irmãos e pra minha mãe mesmo. Eu faço questão.
— Para de ser burra, Nina. — Ela brigou comigo e eu me assustei com a explosão. — Tu não falou que ia sumir por uns tempos? Então some. Porra, se tu ficar mantendo laço aqui, pra mandar dinheiro, vão te rastrear nesse caralho. É melhor tu nem sair daqui se for pra ser assim, então. — Ela tava preocupada comigo? Eu não tinha entendido bem... — Fica na sua ai e protege seu filho, pra ele vir com muita saúde. O Túlio já falou que vai assumir a dívida, vai ficar tudo certo, o Barbás não vai ficar sozinho.
— Eu sei que não posso... — Parei, pressionando o nariz pra fazer aquela ardência parar. Era muito difícil me controlar naquele estado. Nessa hora, o meu vôo foi anunciado. — Eu vou... embarcar agora e vou dar um jeito de inutilizar esse chip. Por favor, olha pelo Barbás, não deixa ele se sentir sozinho.
— Ele não vai, a gente conhece ele bem o suficiente pra saber exatamente qual vai ser a reação dele do tempo que vai passar na tranca. — Raiva... Raiva dissimulada. — Mas eu vou olhar por ele sim. Você olhe pelo seu filho. Um dia, volta pra explicar o que aconteceu, quando todo mundo já tiver esquecido... O Barbás merece conhecer o filho de vocês quando sair da cadeia.— Eu sei disso e eu vou. Eu volto um dia. — Prometi.
— Boa sorte, Nina. — Ouvir aquilo da Larissa era muito louco. Eu tinha a impressão de que ela acreditava que eu não tinha nada a ver, mas como não tinha certeza, não ia me dar razão. Mesmo assim, ela teve empatia por mim... empatia de mãe. Eu nunca ia poder agradecer a ela o suficiente por isso.
— Obrigada. — Murmurei, desligando o telefone. Rogier me cutucou, dando um copo de café pra mim e apontando pro painel.
— Bora... a gente tem que embarcar agora.
— Vamos. — Concordei.
Andei, sem malas nem nada, pelo terminal até avião. Sentei na minha poltrona da janela e Rogier veio ao meu lado calado. Comigo, eu só tinha meu bebê e a roupa do meu corpo, todo o bem material que eu precisaria ia ser comprado só em Foz do Iguaçu. Tudo o que eu tinha, ficou na minha casa na Rocinha. Aquela cidade pra mim seria uma puta de um recomeço forçado. Pra lá eu tava indo sem nada, só com minhas angústias e minhas expectativas. A sensação que eu tinha era que tava deixando tudo pra trás... tudo.
Quando o avião decolou, eu consegui ver a cidade toda do alto. Ali, eu fiz uma promessa pra mim mesma e pro meu filho. Eu ia voltar. Quando chegasse a hora certa, eu ia dar um jeito de voltar pra minha casa. Quando eu voltasse, ia ser pra recuperar tudo o que eu tinha sido obrigada a deixar pra lá... Quando esse dia chegasse, todo mundo ia saber de mim.
Voltar não como a menina que as pessoas me enxergavam. Voltar como mulher, como mãe...
Voltar.
Foi com esse pensamento que eu me despedi do meu Rio de Janeiro.
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Amor na Guerra
Romanceㅤㅤ ㅤ"Geral quer ser rei, conspiram pro tempo que não espera. Impérios caem com novos reis, os tempos passam a ser de guerra." MC Marechal ㅤㅤ ㅤO sonho do moleque é ser chefe, o do vapor, do gerente e do segurança também é. O sonho do chefe é sobreviv...