— Eu sei ser grata, Caburé. — Peguei meu "instrumento de trabalho" e sorri para o homem na minha frente. — Valeu, po.
— Tu pega 500 por semana. O extra fica por conta do teu gerente, se ele quiser te dar. E ô, faz o bagulho direito que aqui a chance é uma só, hein? O dinheiro do teu advogado a gente vai vendo como vai ficar ao longo desses dias, mas fica sabendo que eu vou cobrar.
— Tranquilo. — Concordei, acenando com a cabeça. — Onde é a boca? Quando eu começo?
— É na Barcelos, uma das melhores, hein porra?! Tu começa amanhã, brota lá as 8h. Vou falar com o gerente hoje sobre tu. — Explicou.
— Obrigadão, Salvador. Eu nem sei o que eu tu não fosse tão firmeza.
— Firmeza contigo. — Afirmou dando ênfase no "contigo". Ele se levantou pra abrir a porta do escritório pra mim sair, mas antes de me deixar passar, agarrou meu rosto e deu um beijo perto da minha boca. Eu entendi as intenções dele, mas tentei abstrair e meter logo o pé. Desci as escadas rapidão, notando como o Márcio já tinha ralado dali e eu nem tinha notado. Guardei a pistola na cintura e fui descendo a rua de boa.
Eu tava meio perdida, com um aço incomodando minha cintura. Cara, agora sim eu botei pra foder de verdade. Se antes eu peguei 12 anos por transportar um negocinho, imagina agora que eu tinha me envolvido de verdade. Puta que pariu, o que eu tinha na cabeça? Foda. Suspirei, lembrando da minha mãe. Dona Cláudia devia me odiar muito agora, eu esperava que nunca topasse com ela nas ruas por ai, não queria envergonhar a coroa mais uma vez passeando com uma arma pra cima e pra baixo no bairro. Na verdade, eu queria muito me esconder da minha família toda... Como eu ia explicar pros meus moleques que eu trampava numa boca agora? E meus irmãos... cacete, eles deviam estar muito grandes agora. Eu não sabia mais, fazia mais de 3 anos que eu não via nenhum deles.
Longe nos meus pensamentos, eu nem vi uma mina vindo na minha direção. Eu bati de frente com ela, ombro com ombro, e nós duas caímos com o impacto. Levantei meio cambaleando e já ia pedir desculpas quando a garota resolveu me dar um empurrão e me derrubar no chão de novo.
— Qual foi, sua piranha? Tá me vendo não? — Falou com uma voz rançosa.
— Foi sem querer, porra. Tá maluca? — Perguntei boladona já. Que abusada do caralho.
Mostrar a lista de pessoas que avaliaram — Tô maluca sim, mas pra te quebrar. Tu tava olhando pro meu homem que eu vi. — Levantei e ela já veio crescendo pra cima de mim. Eu revirei os olhos, lembrando o quanto essas putinhas da favela eram afetadas por absolutamente nada. Certeza que ela devia achar que eu me distraí olhando pra um macho doido ai. Foda...
— Tu tá doida, deixa eu vazar daqui antes que dê merda pro teu lado. Dá licença, minha filha. — Fiz um gesto com a mão pra ela sair da frente e me deixar continuar andando de volta pra casa. Eu não queria muito papinho com esse pessoal por enquanto, eu tinha acabado de voltar e não tinha mais saco pra comprar briguinha porque fulaninha tinha olhado torto pra mim. Eu já não era mais adolescente.
— Não, vaca. Tu vai me pedir desculpas aqui e eu vou ficar de olho em tu, se eu te falando com o William por ai, eu vou te quebrar, tu tá entendendo? — E meteu o dedo na minha cara. Ah não...
— Vai sair por bem não, querida? Eu te tiro. — E agarrei ela pelos pulsos e empurrei pro lado. Na mesma hora, ela deu um puxão no meu cabelo e um tapa no rosto. Cacete, na hora eu fiquei atônita e olhando pro risinho de infeliz dela. Mano, como eu queria socar a cara dela até virar geleia. Me ajuda ai, Deus... Não tô podendo mais pegar processo na polícia. — Lembra de mim não, amorzinho? Eu sou a Sandrinha, estudei na tua escola.
Pera, o quê? Na hora eu sorri também, reconhecendo a peça. Sabia que eu ia poder tirar uma com a cara dela. Porra, eu tava fervilhando de raiva, mas eu não ia ficar puta sozinha. Aquela ali eu já conhecia há muitos anos a gente tinha um passado juntas, por isso, eu tinha umas cartas na manga contra aquelazinha. Pelo visto ela ainda estava ressentida pelas coisas que fiz quando eramos adolescentes...
— Geralmente eu não guardo na minha mente umas vadiazinhas afetadas não, mas até que você, eu fiz o favor de vasculhar na mente e lembrar. Foi você de quem eu roubei um namorado? O Marcinho, né? Viu como ele tá bonito agora? Ele sempre foi, né?! Gostou de ser corna, amorzinho? — Ri com a mão no rosto e os olhos grudados nela, a mão coçando pra ir na pistola. Sabia que a provocação ia surtir efeito, já que a menina ficou roxa de ódio e veio pra cima de mim.
Ai sim eu passei a mão no cano e apontei pra ela. Legitima defesa, foda-se. Ela parou quando viu a arma e olhou pra mim indignada, como se não acreditasse que eu tava fazendo aquilo.
— Tá assustada, amor? — Brinquei, olhando pra Kawasaki verde onde ela estava apoiada. — Essa ai é tua moto?
De um empurrão nela com o ombro pra tirar ela de perto. Era uma santa moto a dela, bonita pra caralho, devia ser o modelo do ano passado. Poxa, eu até fiquei com pena do que eu estava prestes a fazer.

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Amor na Guerra
Romanceㅤㅤ ㅤ"Geral quer ser rei, conspiram pro tempo que não espera. Impérios caem com novos reis, os tempos passam a ser de guerra." MC Marechal ㅤㅤ ㅤO sonho do moleque é ser chefe, o do vapor, do gerente e do segurança também é. O sonho do chefe é sobreviv...