— Não, Will, para de falar essas coisas, cacete. — Eu bati nele. — Você não vai morrer, eu não vou aceitar viver desse jeito. — Rebati mais uma vez. — Você ia ficar de boa e aceitar a minha morte também? — Perguntei, querendo fazer ele provar do próprio remédio.
— Não. — Sua voz não saiu mais que um sussurro.
— Então para. — Neguei com a cabeça, sentindo um soluço me balançar o corpo. — Eu não quero... Eu não...
Ele suspirou pesadamente, piscando repetidas vezes. Acho que ele mesmo estava ficando emotivo por minha causa. Do nada, ele puxou as minhas mãos, que estavam entre as suas, colocando-as em seus ombros. Depois, William envolveu minha cintura com seus braços, me apertando contra si. Sentei no colo dele, envolvendo-o com as minhas pernas e os meus braços e a gente ficou ali, daquela maneira, sentindo e compartilhando toda a melancolia que a perspectiva da morte nos dava. Era agonizante, uma dor excruciante, um medo que parecia paralisar a mente... Um cansaço mental que dava vontade de nem tentar. Era um sentimento absurdo e opressor, que chegava a fazer o meu peito doer. Eu chorei, só chorei todas as minhas pitangas ali, enquanto eu tinha ele nos meus braços. A ideia que eu pudesse nunca mais ter a oportunidade de fazer isso me rasgava em duas...
Tudo o que eu gostaria de fazer com ele, eu devia fazer hoje, agora, naquele momento. Talvez o amanhã não chegasse pra gente, talvez... talvez... Se aquela fosse a nossa última noite, o que eu faria?
— Will? — Chamei, com a cabeça dele ainda enterrada no meu pescoço. Ele estava me cheirando, parecia guardar o meu cheiro na memória.
— Hm?
— Quer casar comigo? — Perguntei, sem pensar muito sobre o assunto?
— O quê? — Ele riu, desconfiava que sem humor nenhum.
— Casar. Quer casar comigo? Ser meu marido? — Perguntei, me separando alguns centímetro pra olhar nos olhos dele. — Se a gente morrer amanhã, eu queria que fosse com a gente unido pra sempre... num vínculo sagrado que nem o casamento.
— Nina... — Ele sorriu, meio descrente das coisas que eu tava dizendo. No rosto dele, eu consegui ver transparecer um sentimento único, pela primeira vez... Amor. Eu vi amor nos olhos deles, por mim. — Caso. — Ele concordou com a cabeça. — Como eu vou dizer não pra você?
Sorri, beijando a mão dele.
— Mas se a gente viver, nós vamos ter que pensar sobre isso direito. Tudo o que eu te disse antes... — Interrompi ele no meio.
— Para com isso, porra. Você pode tentar de novo e ver se dá certo dessa vez. Comigo! — Rebati, olhando muito seriamente pra ele. — Tu não pode me negar isso.
— Eu tô te avisando que eu não consigo manter minha família junta. — Ele deu de ombros. — Se tu me quer mesmo assim, então é por tua conta e risco.
— Isso ai, é problema meu. — Cruzei os braços sobre o peito. — Eu aguento, eu sou forte.
— Eu sei. — Ele sorriu de novo, passando o indicador sobre o meu dedo anelar esquerdo.
— Tá, vamos casar agora. — Me sentei sobre as pernas dele. — Você sabe as juras de casamento, né?
— Agora? — Ele continuou rindo, dessa vez ele tava bem mais leve. Parecia verdadeiro. — Sem padre? Sem juiz de paz? Nenhuma autoridade pra abençoar?
— Que padre, Barbás? Tu tá vendo algum aqui agora? A gente nem pode sair daqui. — Falei como se fosse óbvios. — Deus vai abençoar a nossa união. Só ele mesmo. Espero que ele esteja olhando pra gente agora, porque ele vai ser o padre e o testemunha. — Apontei pro céu.
— Muito bem. — Ele beijou a palma da minha mão. — Vem cá. — Me derrubou no chão e se levantou, me chamando pra seguir ele. Fomos até o outro quarto e ele começou a abrir as gavetas de novo, revirando uns potes pequenos, virando tudo de cabeça pra baixo. Eu vi o que ele tava separando naquela bagunça... eram anéis.
— São seus? Você não é do tipo que usa anel.
— Não, mas meu irmão era e minha mãe também. — Ele pegou um pequeno e prateado, simples, que servia nele e voltou comigo pro quarto dos pais dele. Lá, ele foi até os pertences da mãe, vasculhando nas suas bijuterias algo pra mim. Achei um pouco igualmente prateado, que tinha uma única pedrinha colada na superfície. Era tão bem feitinho que eu fiquei encantada.
— Gostei desse, acho que cabe em mim. — Falei pra ele, mostrando. Ele o avaliou por um segundo e concordou com a cabeça.
Voltamos pra onde estávamos, debaixo da janela, escorados na parede entre a cama e o guarda-roupas. Ali, aconchegados juntos num cantinho muito nosso, eu e ele, só nós dois. Nós, contra o mundo. Sempre!
Colocamos os dois anéis juntos e ficamos nos olhando por um tempão.
— A gente devia treinar antes? — Perguntei. — Pra não fazer feio?
— Não... Ninguém vai ver, só nós dois. Não tem problema se a gente errar. — Murmurou, passando os seus dedos sobre a minha palma com delicadeza.
— Vou começar então. — Ajeitei minha postura. — Ainda bem que essa blusa aqui é branca. Eu sempre quis casar de branco.
— Vai em frente. — Ele disse, olhando pro meu corpo por um momento. — Você tá linda de qualquer jeito.
Peguei a mão esquerda dele entre a minha, mantendo ela entre as minhas duas. Percebi que eu tremia um pouco, talvez pela emoção e antecipação do momento, o que fazia os meus dedos e lábios ficarem um pouco trêmulos.
— Eu, Marina, aceito você, William, como meu legítimo esposo, pra amar e respeitar, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, na riqueza e na pobreza, por todos os dias da minha vida, enquanto nós dois vivamos pra amar. E até que a morte nos separe. Sob os olhos de Deus, que é nossa testemunha e confidente, e sob a sua santa vontade, eu te comprometo. — Disse num tom de voz firme, por mais que eu vacilasse algumas vezes por causa do choro, que me embargava a voz. Peguei o anel que ele tinha separado pra si e deslizei muito vagarosamente pelo seu dedo anelar esquerdo. Eu tava tremendo tanto que demorei pra acertar o buraco e ele riu de mim. Cachorro!
Ai, foi a vez dele pegar a minha mão entre as suas. Com o polegar, ele suavemente acariciou a minha pele.
— Eu, William, aceito você, Marina, como minha legítima esposa, pra amar e respeitar, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, na riqueza e na pobreza, por todos os dias da minha vida, enquanto nós dois vivamos pra amar e até que a morte nos separe. Sob os olhos de Deus, que é nossa testemunha, e sob a sua vontade, eu te comprometo. — Ele disse num tom baixo, recheado de ternura, em nuances que pra mim era novas dele. A suavidade com a que ele colocou o anel da mãe dele, e que agora era a nossa aliança, no meu dedo me arrancou muitos suspiros emocionados. Caralho!
— Eu nos declaro marido e mulher. — Sussurrei, segurando as nossas mãos juntas. O brilho metálico reluziu entre nós, lembrando o laço sagrado que fazia de nós dois um só dali em diante. — E o noivo pode beijar a noiva. — Ri, envolvendo seus ombros com meus braços.
Nos beijamos apaixonadamente, profundamente, eternamente. Agora ele era meu, mesmo que tudo acabasse amanhã, eu ainda ia viver a sensação de ter ele pra mim e só pra mim legitimamente. Como meu marido...

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Amor na Guerra
Romanceㅤㅤ ㅤ"Geral quer ser rei, conspiram pro tempo que não espera. Impérios caem com novos reis, os tempos passam a ser de guerra." MC Marechal ㅤㅤ ㅤO sonho do moleque é ser chefe, o do vapor, do gerente e do segurança também é. O sonho do chefe é sobreviv...