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— Tá tranquilo, Barbás. Tu quem bota ela pra falar. — Parma concordou. — Por mim tá de boa.

O Peralta não teve jeito se não concordar e deixar as coisas como tava. Ele ficou me olhando esquisito depois e eu fiz questão de devolver o olhar de afronta dele. Podia ficar putinho o quanto quisesse, eu tava pouco me fodendo.

— Tá de boa pra você, Russo? — Fiz ele falar.

— Tá. — Respondeu baixo, mas respondeu.

— Então tá decidido. — Concordei com a cabeça. — Agora Russo, tu que sabe melhor que todo mundo aqui, conta o que tu sabe. — Disse, dando espaço pra ele falar. Voltei a sentar e esperei pra ver o que ia sair dali.

— A Marina foi lá negociar com o Mandarim em nosso nome. A gente tava tentando atrair a atenção dele pra nós e trazer ele pro nosso lado, não tava? Ela foi lá e fez, pronto, porra. Cês querem encarnar nela porque ela fez o trabalho que a gente tava correndo atrás? — Falou.

— Mas calma ai ô. Ela é das nossas aqui, entrou e saiu de favela de inimigo nosso tranquilo? Que folga é essa, cara? Isso não existe aqui não. Nem em aliado nosso é tranquilo assim. — Um dos que tavam presentes falou. Ela claro que tava mal contado a história, não dava pra explicar sem contar sobre tudo.

— Ela tem contato lá, porra. — Ele rebateu por cima e deixou todo mundo ainda mais com a pulga atrás da orelha. Porra...

— Como assim a mina é de nós aqui e tem contato com alemão, porra? — Peralta já cortou por cima puto da cara. — Irmão, tu não tá vendo que essa porra é X não, caralho?

Ele tava se complicado e complicando ela por querer passar nas bordas da história.

— Não, não é assim. Ela não tinha contato nenhum com os caras de lá até agora, isso eu comprovo pra vocês. É que ela é parente do Mandarim, tá ligado? — Falei, sem contar tudo. — Ele era daqui da Rocinha, a família toda do cara é daqui ainda e ela faz parte dessa família ai, por isso o contato dela com ele é mais simples do que se um de nós indo lá meter a cara. — Expliquei de um jeito melhor que o Russo tava fazendo. Nego nervoso só cagava no pau mesmo. — Ela vai explicar direito pra vocês, mas eu comprovo essa porra ai. Ela não tinha contato com o lado de lá até agora, que ela começou a correr atrás de uma maneira de falar com ele por causa do lance do Misael ai e tudo. Isso tá tudo mundo sabendo e de acordo, né? Ela tava envolvida nessa parada do Mandarim por causa disso. Essa é a parte que eu acompanhei.

— Ninguém disse pra gente que ela era da família dele não, ô Barbás. Como só vocês ai ficaram sabendo isso? — Parma perguntou.

— Irmão, isso é particular dela e da família dela. Tu sabe que se pegarem um cara mal intencionado, é fácil usar isso de desculpa pra foder ela, né não? Não tem porque sair espalhando isso, a lealdade da mina tava do nosso lado, ela tava usando isso em nosso favor e isso que importa. — Falei e ele pareceu satisfeito. Senti que eu tava conseguindo controlar a situação direito. Eles tavam putos ainda com o que ela tinha ido fazer lá, mas pelo menos já tinham alguma coisa pra se agarrar. Ia ficar mais fácil deles acreditarem no que ela ia dizer se eu fosse testemunha das coisas que eu sabia.

— Tava com a gente e foi lá passar dois diazinhos no favela dos parentezinhos dela que assim que tiverem a oportunidade vão subir aqui e metralhar a gente, né? Suave, po. — Peralta ainda tava inquieto e falando merda. Eu nem respondi, mas vi que os outros tavam comentando a mesma coisa no particular. Eu tinha que preparar o terreno pra ficar mais fácil depois. — Virou colônia de férias essa porra. Quando cês tomarem perdido nas costas vão reclamar, mas não tão vendo a merda feder debaixo do nariz de vocês.

— Peralta, fica na tua ai e deixa o Russo terminar nessa porra. — Cortei ele. — Coé, Russo. Que mais ela falou? Saiu o que dai?

— Ele disse que se a gente aceitar os termos que ele combinou com o Misael, ele vem pro nosso lado. — Explicou. — Teve uns caô entre os dois ai e o muro tá baixo. Ele pula pra cá, se a gente manter o acordo que ele tem o M7, tá ligado?

— E qual o acordo? — Perguntou o Parma.

— O M7 tá dando 20% na mão dele todo mês. A gente tem que cobrir isso ai, ou nada feito. — Falou.

O Peralta riu e o Parma negou com a cabeça. Eu passei a mão nos olhos, entendendo o porquê o nosso faturamento tinha caído nos últimos meses. Ele tinha que juntar a prata pra pagar a "amizade" de quem ajudou ele a tomar a favela. O pior é que a gente ia ter que continuar essa porra, se não continuasse...

— Tem condição não. 20% é coisa pra caralho, todo mundo aqui vai ter que pagar por isso. Os mano tão bolado com o M7 por ele estar extorquindo a gente pra caralho já...

— Ô Parma, se isso for verdade, a gente não tem escolha não. — Russo rebateu, falando por cima dele. — Se a gente não pagar, o M7 paga e ele vai massacrar todo mundo aqui com o Mandarim. A Marina confirmou, ele vai ajudar o Misael a pegar nós tudo se a gente não fechar com ele. — Todo mundo se calou quando ele falou isso. Imaginar que o cara ia vir, era diferente de realmente saber que ia acontecer. Os nossos dias tavam contados e agora todo mundo tava ligado nisso.

— Vamo pegar a menina lá agora. — Parma falou, meio abalado pela notícia que tinha recebido.

Amor na GuerraOnde histórias criam vida. Descubra agora