86

2.7K 198 0
                                    


TK e Xica desceram a rua e chegaram nessa hora, olhando para a situação completamente fora de controle. Em outros pontos da favela, a gente conseguiu ouvir mais tiros.

— Que aconteceu? — Perguntou a Xica, com as mãos na boca.

— Não sei, mas balearam o Pedro. — Falei e o TK levou a mão na cabeça na hora. Nós três olhamos pro William colocando o menino no banco de trás do carro.

— Shirley, o Barbás não pode ir com o garoto não. Vai tu que não tem problema com o Estado. — Mandou, puxando ela pelo pulso pra direção do automóvel do outro lado de rua. Eu vi o conflito começar, porque o TK não quis deixar o pai entrar no carro junto com o menino, ao invés disso, a Xica foi no banco de trás e eu não consegui ver mais nada. Virei pra trás, vendo a Larica grunindo de dor. Pra ela hospital era só um último caso, até porque a chance de ela sair de lá presa era grande demais. Ela segurava o ombro e eu desconfiei que aquele fosse o seu único ferimento... a dor não era do tiro, eu tinha certeza. De longe, mais e mais tiros, de muitos pontos da favela. Eu tava olhando diretamente pro inferno e ainda não tinha me dado conta.

— De onde veio esses tiros? Fala de uma vez, Marcos. — Perguntei pro Marcos, tentando tirar a mulher do carro. — Sai daí, Larica, pelo amor de Deus.

Eu pisquei e quando eu me dei conta, Barbás estava de volta, as mãos sujas de sangue e os olhos denunciando um descontrole no qual eu nunca tinha visto antes. Bruto, ele segurou Marcos pela gola da blusa e o apertou contra o carro, enquanto eu conseguia tirar a Larissa dali.

— Agora tu vai me falar o que aconteceu. — Eu sentia a adrenalina deixar os meus dedos frios, enquanto o TK passava um rádio chamando os soldados da Barcelos inteira. Aquilo não tava desenrolando bem. Eu tava nervosa, muito nervosa. Senti o pulso tremendo, enquanto eu tentava aparar a mãe do Pedro e fazia uma prece silenciosa. Meu Deus, o Pedro... Que o Senhor protegesse ele, que era só um menino e ainda não tinha visto nada da vida. — Bora, irmão. — Ele pressionou o Marcos, que estava full estático no lugar, tão em choque quanto eu. Quando eu o vi colocar um das mãos no pescoço do outro, eu corri pra agarrar o braço dele.

— Calma ai, Will. Deixa ele falar. — Pedi, recebendo um empurrão dele na mesma hora.

— Fica na tua ai, caralho. — Falou num tom igualmente agressivo. Ele nunca tinha falado assim comigo antes. Que inferno.

— Pera, cara. Calma ai, eu não tenho nada a ver tava só vigiando a entrada aqui.

— Mas tu viu quem foi? — E pressionou ainda mais o outro contra o carro.

— E cadê eles?

— Subiram pra Vila Verde, eu acho. Não sei... — Disse, gaguejando no final.

Barbás largou ele na hora, da maneira mais estúpida que ele podia e chamou o TK com a mão.

— Liga pro teu irmão e manda ele descer com os caras dele agora, Marina. — Mandou, saindo na frente com o TK e os meninos da Barcelos.

Neguei com a cabeça, gritei o nome dele algumas vezes e nada. Ele não ia recuar e tava indo pra fazer merda, muita merda. Ele estava em surto total e completo, eu quase conseguia ver a sede de sangue através das orbes castanhas dele.

— O M7 vai matar ele, mano. — Levei as mãos à cabeça.

— Não adianta falar nada. — Larica falou, com a voz terrivelmente grave. — Ele não vai escutar nada, ele é assim. Eu quero o meu filho.

— Ele vai ficar bem. Se Deus é justo, ele vai ficar bem. — Falei, limpando a lágrima solitária que escorreu pelo meu rosto. Eu tinha sido forte até ali e precisaria ser muito mais... Eu hesitei em fazer o que o Barbás tinha me pedido, mas era melhor que todos eles tivessem juntos, do que separados. Eu tinha certeza que ele ia atrás dos caras, certeza absoluta. Era melhor que o Russo tivesse junto. Liguei pro meu irmão e falei o que tinha acontecido ali resumidamente, passei o recado do Barbás pra ele e na mesma hora, ele confirmou que ai, avisando que ia dar um toque no Parma e no Peralta.

Larica continuava ofegante do meu lado e eu queria ficar com ela ali, mas sabia que precisava ir atrás do Barbás também. Não que eu confiasse que eu tinha um super poder que pudesse trazer ele de volta à realidade, mas eu não queria deixar ele sozinho naquela hora, mesmo que eu devesse...

— Marcos, cuida dela. Ela tá baleada, mas não parece ser grave, só... cuida dela ai. — Pedi pro Marciano, puxando minha pistola da cintura e correndo rua acima pra Vila Verde. Correndo por entre os becos, eu ainda consegui chegar até o grupo, onde o Barbás liderava na frente deles. Os olhos opacos de ódio...

— Barbás, calma ai. Espera! — Gritei, sendo solenemente ignorada. Corri e parei na frente dele, colocando as duas mãos no seu peito.

Amor na GuerraOnde histórias criam vida. Descubra agora