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Descemos a rua nos trancos e barrancos, até o lugar onde tinham parado a moto. Notei ser uma oficina...

— Coe, Rogério. Chega aqui e dá uma olhada na minha moto. Essa piranha aqui fez o favor de foder a lataria dela toda. — Falou pro senhor que estava deitado debaixo de um carro. Ele saiu de lá com alguma dificuldade por causa da idade e veio ver o que ele tinha falado. Deu uma boa examinada em tudo e voltou com um bloquinho nas mãos, anotando todos os defeitos.

— Os dois retrovisores estão quebrados, o vidro do painel trincou e a lataria da esquerda tá arranhada, deve ter que trocar essa peça toda aqui. — Passou a mão na placa central. — Parece que você deixou a mocinha bem chateada. Foi outra mulher, menina? — E riu. — A minha esposa já fez o mesmo comigo.

— Que? — Perguntou, negando com a cabeça de nervoso.

— Nem. Eu nem conheço essa doida ai. — Ele largou meu braço e foi pro lado do senhor. Passei a mão no lugar que antes ele estava apertando. Babaca!

Discretamente, peguei meu celular no bolso e foi mandando uma mensagem no whatsapp pro Wallace. "Wall, tô aqui na Mecânica do Rogério, perto da 1. Me ajuda aqui, pelo amor de Deus. É urgente!" E mandei um monte de exclamações e placas de perigo. Aproveitei e liguei pra chamar a atenção dele.

— Vai dar quanto o conserto ai? — Perguntou o tatuado e eu me tremi na base.

— As peças devem ficar em torno de 800, a minha mão de obra 300. 1100 no todo. — Explicou com calma, mostrando o preço de cada uma das coisas. Só de ouvir o valor obsceno, eu soube que eu estava muito, mas muito fodida mesmo. Agora além de dever o Caburé, eu devia também mais de 1000 reais pra um maluco tatuado e o meu saldo atual de dinheiro era exatamente 0 reais.

— Dá o orçamento pra ela ai, seu Rogério. Ela quem vai pagar. — O tatuado apontou pra mim.

— Muito bem. Aqui, mocinha. Eu peço 50% do valor como sinal pra começar o serviço. — E sinal significava dinheiro a vista, ali e agora.

— Ér... — Passei a mão no pescoço, soando frio e respirando com pesar. — Você parcela?

— No cartão? — Perguntou o senhorzinho, já indo pegar a maquininha.

— Na confiança. — Rebati, não conseguindo mais segurar o riso nervoso que se degringolava no meu peito. Porra, porra, porra! Não consegui encarar os olhos do homem bonito, nessa hora eu precisava admitir que estava com medo do que me podia acontecer.

— Não é assim que funciona, menina. Nada acontece aqui sem pagamento. — Ele falou sério comigo, apesar de manter o tom doce. Pelo visto estava com pena de mim.

— E ai, porra? Como que vai ficar? — Me pressionou, andando na minha direção. Eu fui recuando até me bater contra a parede, onde o homem me prensou. As duas mãos dele foram parar nos lados da minha cabeça e eu fui me encolhendo o máximo que pude. Cara, eu ia apanhar muito e já estava me preparando pra isso. — Você acha que eu estou brincando? Eu não tenho tempo pra ficar perdendo com joguinho, vai lá e busca a porra do dinheiro.

— Escuta. — Suspirei, levantando as duas mãos em sinal de rendição. — Eu não tenho essa grana.

— Dá teu jeito e arruma, porra. Vai lá no banco, se vira.

— Não dá, as minhas contas bancárias estão todas bloqueadas pela justiça. — Falei a verdade meio sem pensar, eu já não conseguia mais enrolar para ganhar tempo. Eu tava na fossa de verdade. — A minha única opção seria o Caburé, mas eu também tô devendo dinheiro pra ele. — Contei de um jeito cômico, quase me engasgando nas palavras. Fodida com f maiúsculo.

O homem tinha uma expressão impassível no rosto, não se alterando um milímetro pelas coisas que eu tinha dito pra ele. Ele não disse nada, absolutamente nada. Nem um piu se quer. Ficou apenas me intimidando com o olhar intenso, com uma chama raivosa brilhando no meio do castanho. Eu sentia como se ele fosse me dar um tapa a qualquer momento, mas não sabia direito, já que ele não se movia.

Ai as coisas começaram a embaçar. Ele saiu sem falar nada e pegou o rádio da cintura. Peguei meu celular e olhei se o Wallace tinha prestado atenção nas coisas que eu tinha dito pra ele, mas eu estava sendo solenemente ignorada.

— Menina? Liga pra sua família. — O senhorzinho voltou, dizendo pra mim após verificar que estávamos sozinhos. Um calafrio subiu pela minha espinha. — Avisa que tu tá aqui. Eu dito pra eles pra onde você foi.

— Eu não tenho família não, seu Rogério. — Disse pra ele com um risinho meio xoxo. — E fugir não adianta, né?! — Ele negou com a cabeça só por ter pensado num negócio desses. Se eu corresse dali e conseguisse sair da coisa toda, eles iam me procurar até achar e ai as coisas iam ficar ruins de verdade. E eu ainda ia acabar envolvendo o Wallace nessa merda toda, imagina uns caras entrando na casa da irmã dele de um jeito nem um pouco amigável? O circo ia estar armado legal... — O senhor conhece o Russo? — Perguntei, recebendo um aceno de cabeça dele. — Só avisa pra ele, se ele passar por aqui.

Amor na GuerraOnde histórias criam vida. Descubra agora