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— Obrigada pela oportunidade. — Agradeci, estalando as mãos na frente do corpo e assim, mantendo uma distância segura. — E pelo que você fez pelos meus irmãos. Agora nós somos sócios também. — E estendi a mão pra ele apertar.

— Somos. — Ele concordou com a cabeça, chacoalhando minha mão com seu aperto. — Que você tenha muito sucesso e tranquilidade no Paraguai, Nina. Que você encontre sua felicidade lá.

— Eu vou. — Afirmei. — Te ligo quando as primeiras remessas começarem a chegar. Até, Carlos. — Assim, eu reafirmei a minha conduta para com ele dali em diante. Negócios.

Rogier se despediu dos presentes também e depois, juntos, todos fomos de carro para a Rodoviária do Centro. Ali era onde os meus irmãos pegariam os ônibus deles. Na hora de dizer 'tchau' ao Wallace e a Dalila, eu simplesmente não consegui conter mais as lágrimas. Eu ia sentir muita, muita, muita a falta deles. Eles eram meus irmãos de alma e a nossa ligação ninguém nunca conseguiria apagar.

Abracei os dois juntos de novo, deixando um monte de gotas pingarem do meu rosto na roupa deles.

— A gente vai se ver muito antes do que você espera, Nina. — Disse o Wallace, bagunçando meu cabelo como ele fazia quando éramos crianças. — Quero uma ligação tua todas as noites pra dizer como tá o nosso neném.

— Eu vou, eu juro. — Prometi, apertando o casaco dele entre as mãos até amarrotar.

— Vou começar a juntar dinheiro desde já então. No dia do nascimento do nosso sobrinho, a gente vai estar lá com certeza. — Dalila prometeu. — Esse evento eu não perco por nada.

— Sobrinho e afilhado. — Falei, fazendo a Lila chorar ainda mais e o Russo sorrir. — Vocês tem que estar lá de qualquer maneira, já que vão batizar o meu filho.

— Não faz isso com meu coração, Nina. — Minha irmã choramingou, me apertando contra ela.

— Quando as coisas se firmarem, eu ainda vou levar vocês pra morar comigo lá em Foz. Primeiro, eu só tenho que conquistar aquele lugar. — Garanti.

— E você, Marina. Tu é boa em tudo o que dispõe a fazer, porque tu é corajosa e esforçada. Vai dar tudo certo, eu sei que vai. — Apertei ele também, me sentindo chorosa. Ouvimos o sinal sonoro do ônibus deles.

— Eu amo vocês e prometo ligar sempre sempre e sempre. 24h por dia no whatsapp. — Jurei, fazendo um sinal com os dedos que era só nossos. — A gente se vê logo.

— Logo, Ninão. — Russo confirmou, se separando de mim.

— Loguinho. — Lila disse, chorosa e sendo quase carregada pelo irmão pra longe. Fiquei assistindo eles se afastarem e subirem no ônibus pra Barra Mansa. Quando eles partiram, eu e o Rogier pegamos o nosso carro até o aeroporto.

Eu, pessoalmente, tive uma birra com o Rogier quando descobri que ele tava lá na noite que o Parma deu um golpe em todos nós. Ele, por outro lado, era um homem muito centrado e que era bom em seguir ordens. O que o Carlos mandasse ele fazer, ele faria. Eu não podia culpar ele por isso, apesar do meu coração ainda estar um pouco duro por causa do que aconteceu. A única coisa que eu era incapaz de esquecer, é que ele tinha salvado a minha vida uma vez. Ele tinha sido capaz de me escutar, quando ninguém nem quis ouvir, por isso, eu ainda mantinha o respeito que eu devia à ele.

Ele era um homem mais velho, uma década mais novo que o Carlos, mas que parecia ter experiência em todos os negócios do chefe dele, por isso, ele ia me acompanhar e me acomodar em Foz do Iguaçu. Conforme fazíamos o Check-in no aeroporto, ele ia me falando da cidade como se fôssemos amigos pra caralho.

— Lá é bonitão, tu vai gostar. Cidade tranquilinha, tem as cataratas lá, que é turistico, né?! Tem uns arco-íris e tudo. Meu plano é ir pra lá quando ficasse velho e tivesse dinheiro pra passar o resto da vida.

Fui ouvindo calada, concordando com a cabeça. Minha mente tava em outro lugar...

— A casa lá é pica, 4 quartos, toda de madeira, mó quintalzão do caralho. De bacana demais... — Foi falando. — E a nossa família é animada demais. Tu vai gostar, po. São velho, mas são experientes, vão te passar os bisu tudo... E vão ficar feliz de te conhecer. Po, quando eu falar que você é filha do Carlos...

Ele parou quando notou meu olhar grudado no vidro do salão de embarque. Eu tinha a sensação de que era a última vez que eu ia ver o Rio em muito tempo... Porra, eu acho que nunca tinha saído dali, nunca tinha nem ido além das barreiras do meu estado. Ir pra fronteira do Paraguai era um negócio muito louco pra mim. E eu ia sentir saudades da minha terrinha no período que eu ia ficar longe dela.

O Rio era pica, um lugar cheio de desigualdade, uma selva pra quem era pobre e favelado... mas era lindo e era a minha casa. O vista da minha laje era inigualável, nada nesse mundo conseguir comprar aquele pôr do sol laranja e rosa que a gente conseguia ver de lá. Nada ia conseguir comprar a sensação de mergulhar no mar de São Conrado, a visão das casas coloridas do Vidigal... dos nossos bailes. O Rio teria pra sempre uma parte do meu coração, por isso, enquanto eu não voltasse, eu não seria completa.

Além disso, não era só a minha casa que eu deixava pra casa. Eu tinha me despedido dos meus irmãos, da minha mãe... e não tinha conseguido nem dizer adeus pro meu marido. Se eu soubesse que seria a última noite que eu tinha conseguido dormir com ele, talvez eu tivesse feito tudo diferente. Talvez eu tivesse repetido que amava ele até que Barbás se cansasse de mim. Talvez... Com ele, eu deixava metade do meu coração, que ia pra trás das grades com ele. E eu só continuaria com a outra metade, porque em mim hoje vivia uma parte dele: o nosso bebê.

Amor na GuerraOnde histórias criam vida. Descubra agora