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— Tem? — Me fiz, só pra ver se era realmente o que eu tava pensando.

— Claro, porra. Ontem tu me deu uma volta, mas hoje tu vai nem que seja amarrada. Bora. — Disse, já indo lá pra fora e pegando a moto (dessa vez aquela que eu tinha quebrado os retrovisores. Ela tava toda bonita e inteirinha de novo. O seu Rogério da mecânica tinha arrumado direitinho). Subi na garupa e a Xica ficou pra fechar tudo lá antes de ir pra casa.

Subimos a favela pela principal até a 1° Rua, onde a clareira que eles juravam que era um campo de futebol, desci da moto e esperei por ele.

— A moto tá bonita de novo. — Comentei, dando uma risadinha e foi recebida por um olhar atravessado dele. — Ai, você não tem senso de humor.

— Vou lá na tua casa quebrar tuas coisas e depois rir da tua cara. — Respondeu, andando na direção do muro curto que tinha ali, onde ele pegou umas das 300 garrafas de cerveja que tinha a disposição ali.

— A única coisa que eu te deixo quebrar na minha casa é a minha cama. — Provoquei, aproveitando o embalo e ele parou de ajeitar as garrafas e olhou pra mim. — Que foi, ficou nervoso?

— Foca. — Mandou, voltando pra sua tarefa. Ele alinhou todas das garrafas e voltou pra perto de mim, tirando a pistola da minha cintura. — Aqui destrava. — Mostrou, puxando a parte de cima pra trás. — Aqui em baixo da empunhadura é o pente. — E puxou o treco, mostrando como estava cheio de bala lá dentro, antes de devolver pra posição onde tava. — Antes de qualquer coisa, tu verifica essas duas coisas: se a pistola tá carregada e se tá travada ou destravada. Não é pra meter saporra na cintura sem travar antes, pelo amor de Deus.

— Eu não sou idiota, beleza? — Semicerrei os olhos pra ele. — Eu não vou dar um tiro em mim mesma.

Ele não disse nada, mas pela cara que ele fez, eu notei que ele realmente não acreditava no que eu tinha falado. Eu odiava o fato dele me tratar como criança, me subestimar... Na boa, eu ia ser a melhor atiradora desse caralho de favela só pra esfregar na cara dele, isso era questão de honra agora. Tomei a arma da mão dele, testando a trava de segurança pra ter certeza de como funcionava. Depois, apontei pra primeira garrafa da fileira, fechando um olho pra poder mirar, e apertei o gatilho. A garrafa se espatifou de uma vez, mas eu tomei um susto com o coice da arma.

— Segura com as duas mãos, se não a arma vai voar na tua cara. — Falou, vindo pra trás de mim. — A Glock tem um recuo pesado pra pistola, então segura firme, direito. Tu mirou bem, o básico é isso ai. — Falou, dando um tapinha no meu braço, pra eu dar uma abaixada na altura deles. Me ajeitei antes de tentar de novo com a garrafa seguinte. Essa também foi fácil, fiquei uns minutinhos mirando antes de atirar e estourar essa também.

— Continua. Tenta não perder tanto tempo mirando, tem que ser jogo rápido. — Disse, saindo do meu lado e indo pegar mais garrafas, enquanto eu seguia o que ele dizia. Fui estourando as garrafas uma a uma, nas últimas, eu já tava confiante o suficiente pra não precisas ficar tanto tempo ajeitando a posição da pistola antes de apertar o gatilho. 1, 2, 3 e boom. Errei uma ou dois tiros, tentando pegar o jeito pra fazer aquilo no automático... bom, era prática. Prática não se conseguia em uma noite, mas era um começo.

Quando notei, Barbás tinha enchido as pontas do muro de garrafas. Essas estavam bem longe de mim, tipo... bem longe. Há vários metros mesmo.

— Agora vai ficar embaçado. — Neguei com a cabeça, tentando cartear e dar alguns passos à frente, mas William não deixou. Voltei a mirar com a pistola, acertando a primeiro que estava no muro. A segunda eu errei vergonhosamente e abaixei a arma pra tirar um tempo.

— Não é pra desistir não, fia. Quando errar, vai dando um atrás do outro naquela direção. Algum vai pegar. — Corrigiu. — Tu vai desistir de matar o alemão que tá atirando em você porque tu errou?

Não falei nada, só voltei a erguer o braço e fiz como ele disse, dei uns três tiros em sequência, o último acertou. Fui repetir com a 3° garrafa, que estava quase no outro canto do campo, muitos e muitos metros distante de mim, mas um barulho metálico seguiu e bala nenhuma saiu. Ele voltou pro meu lado e tirou um pente de bolso.

— Tira esse que tá ai e põe esse aqui. — Mandou e eu troquei um pelo outro na arma, dando o vazio na mão dele.

Voltei à minha tarefa de tentar acertar a garrafa. Não era assim tão difícil. Depois que ele mostrou que eu podia sentar o dedo pra tentar acertar alvos à distância, já melhorava muito a coisa pra mim. Ele só mandava eu parar um pouco quando eu errava um monte, porque tava mirando errado. Troquei o pente mais algumas vezes. Para os últimos desafios, ele subiu na estrutura de ferro que era o gol pra colocar as garrafas lá em cima.

— Agora sim, tu sobe o braço. Atira um pouco mais pra cima, porque o tiro desce um pouco se tu tiver longe. — Instruiu e eu confirmei com a cabeça. Era um pouco difícil ali, eu tive um problema puto até pegar o jeito e entender o que ele queria dizer com "atira pra cima". Demorei pra mirar, depois disparei em sequência pra alguns centímetros acima do corpo do alvo e um tempo depois, eu consegui acertar a diaba da garrafa.

— Ai sim. — Disse ao notar que eu tinha conseguido acertar. Virei de costas pra ver onde ele tava e notei o demônio organizando uns grupos de garrafa em pequenos triângulos em cima de uma caixa d'água virada que tinha ali.

— Hora da brincadeira de gente grande. Toma. — Falou, tirando o fuzil das costas. Arregalei os olhos quando ele entregou aquela coisa pra mim. Eu não sabia nem o que fazer com aquele trombolho.

Amor na GuerraOnde histórias criam vida. Descubra agora