122

2.3K 169 0
                                    

Não era simples sair dali, ir lá pegar a Nina (sabe-se lá a reação que ela ia ter, porra) e depois trazer pra cá. A verdade é que esse barraco já tava muito cheio, a gente ia acabar chamando atenção e atraindo polícia. Então, pra evitar a bagunça, a gente dispensou quase todos os seguranças e parças de confiança. Ia ficar só a gente mesmo, mais alguns pra caso desse merda dar a cobertura pra gente poder ralar. Terminou que mudamos de espaço, pra evitar ficar muito tempo num mesmo lugar. Tudo estratégia pra ficarmos seguros enquanto a favela tava ocupada.

Trocamos pra uma casa com lage que servia de casa de endola da 1 antigamente, que ficava umas ruas mais abaixo. Terminou que a gente elegeu um grupo de moleque meio novo no corre, que a gente chamava de fiel, pra poder ir lá buscar a Nina. O problema é: ela não ia vir numa boa se não fosse alguém que ela confiasse. Eu e o Russo sabíamos disso, e bom... a gente não tava em condição de deixar ela fazer um show no meio da rua. O bagulho tinha que ser o mais discreto possível. Por isso, eu meio que decidi ir com eles. Botei um boné e um casaco escuro pra esconder as tatuagens, botei uma só pistola na cintura e saí pra ir até a casa dela.

Tava cedo, então a favela ainda tava movimentada, o que ajudava a fazer eu passar despercebido. De qualquer jeito, era até que perto do lugar onde eles tavam morando, em menos de 10 minutos de caminhada e nós tava lá. O Russo me deu a chave, então, eu consegui entrar com eles tranquilo. Fui direto pra casa de cima e dei de cara Dalila na cozinha.

— Que isso? — A mulher se assustou, dando um gritinho e pulando pra trás com a mão no coração.

— Sou eu, Dalila. — Levantei a mão em sinal da calma pra ela. Senti os moleques com a mão coçando no revólver, então, e mandei eles ficarem na deles também. — Eu quero só a Nina.

— Que isso, Barbás? — Ela repetiu, piscando várias vezes e olhando pros garotos. Por causa do falatório, a Nina despontou corredor, olhando pra nós de olhos franzidos. Os outros dois que tavam comigo foram direto e colaram nela, eu nem consegui controlar. Isso sim assustou a Dalila de vez, que levou as duas mãos a boca e fez que não com a cabeça, ela segurou meu casaco com força, não querendo me deixar ir até a Nina.

— Não, cara. O que tu tá fazendo, Barbás? Que isso? Cadê o Russo? Cadê meu irmão? Barbás. — Ele ficou repetindo, total nervosa, me agarrando.

— Ou, ou, ou. — Segurei ela pela braço e puxei pra um canto. — Confia em mim, porra.

— Barbás, a Nina é doida assim, você sabe, mas tu sabe que ela... — A voz morreu e ela me olhou muito infeliz. — É a Nina.

— Eu sei, irmão. — Respondi ela num tom baixo.

— Barbás, não. — Ela falou. — Pra onde tu vai levar ela? É por causa do negócio do..

— Eu não vou deixar ninguém machucar ela. — Ela continuou negando com a cabeça, com a expressão de choro no rosto. — Eu não vou deixar. — Prometi pra ela, soltando as mãos dela da minha roupa e olhando ela com firmeza, pra ela entender que eu tava falando a verdade. Depois, dei meia volta e fui corredor a dentro, onde os moleques estavam forçando a Marina contra a parede pelos braços. Ela tava meio puta pra afronta do moleque de querer ficar mostrando a arma pra ela... fazer o quê? Menino novo, era precoce assim mesmo. Não adiantava falar que ela pra ficar namoral.

— Ou. — Chamei ela, que parou de se debater na mesma hora e olhou pra mim, franzindo a testa e fazendo um biquinho com a boca. Eu conhecia bem o suficiente pra saber que ela tava magoada pra caralho de me ver ali. Tanto que eu vi um reflexo das lágrimas se formando nos seus olhos, enquanto ela olhava pra mim com tristeza. Porra... Ficava foda de fazer minha missão com ela me olhando desse jeito. — Vem comigo. Na boa.

Ela arregalou os olhos, depois engoliu em seco e desviou os olhos de mim.

— Você tá achando que eu... — Começou, parou e riu. Depois voltou a me olhar, limpando rápido uma lágrima que escorreu. — Tu tá desconfiado de mim.

— Não, mas outros tão. — Falei de uma vez. — Então tu vai ir lá e contar tudo pros irmão. Só isso.

Ela negou com a cabeça com mais veemência.

— Não é só isso. — Ela se debateu de novo e eles apertaram mais ela. A expressão mudou pra raiva e rebelião. — Eu não acredito que você...

— A gente só vai conversar, Nina. Numa boa, se tu colaborar a gente resolver isso rápido. — Tentei fazer ela voltar pra razão.

— Eu sei bem as conversas que tu tem. Tu esquece que eu vivo contigo, porra. — Ela bateu o pé com força, grunindo de raiva. — Quer conversar comigo do jeito que tu conversou com o Siqueira. Eu sei, Barbás. Eu sabia que isso ia acontecer, eu só pensei que você...

— Olha o que tu tá falando, sua maluca do caralho. — Reclamei. Porra, até eu tinha ficado magoado agora. Caralho, como ela podia sequer pensar que eu ia fazer um bagulho desses com ela... Fiquei puto. Irmão, ela simplesmente tinha 0 confiança em mim nessa porra. — Namoral, cala a boca e vem com a gente na boa que é o melhor que tu faz agora. — Falei, tomando a frente. — E sem escândalo, Nina. Seja mulher pra assumir as porras que tu faz. Não foi lá na puta que pariu fazer as coisas do teu jeito? Então vem resolver.

Amor na GuerraOnde histórias criam vida. Descubra agora