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— Isso aqui é pelo tapa. — E bati com a parte de baixo da pistola no retrovisor direito, quebrando ele. — Isso é por tu ser uma mal educada do caralho. — Fiz o mesmo com o espelho direito. — E isso porque eu não gosto de você. — E meti um chutão no corpo da moto, que caiu no chão, arranhando a lataria toda. — Esquece que eu existo, falou?

Ela levou uma mão à boca, visivelmente chocada. Os olhos arregalaram logo e ela virou-se pra mim... bom, ao menos eu achava que era pra mim e não para o verdadeiro alvo, uma pessoa descendo a rua bem atrás de mim.

— Legal te ver de novo, Sandrinha. — Deu um sorrisinho irônico e fui continuando o meu caminho. Nesse momento, uns moleques que tavam patrulhando a esquina se aproximaram e levantaram a mão pra mim, mandando eu parar.

— Não era minha moto, sua burra do caralho. — Mandou na lata, sem nem conseguir sorrir. Puta que pariu, o que eu tinha feito? De quem era a porra da moto? — Eu nem tenho dinheiro pra um negócio desses ai.

— A moto é minha. — Uma voz grave falou nas minhas costas e eu me virei devagarzinho pra encarar a pessoa. Caralho, eu já comecei a soar frio. Na favela, só quem tinha uma moto cara daquela era traficante... Ai meu cabelo, porra. Ele é tão bonito, demorei muitos anos pra deixar ele desse tamanho e agora eu já conseguia me enxergar careca.

— Oi. — Cumprimentei, mas minha voz saiu num sussurro. Eu tava num desespero doido, mano... MANO! O cara era alto, tinha o corpo todo definido e tatuado, era bonito pra porra. O rosto todo bem feitinho, a sobrancelha riscada e a cara de mal que eu gostava muito. Putz, eu tinha fodido a moto de um cara pra quem eu, provavelmente, daria mole num baile funk. Parei pra apreciar por um momento somente, antes dele se mover pra levantar a moto e ver o estrago que eu tinha feito.

— Tu tá de sacanagem, porra? Tu quebrou meu retrovisor, sua filha da puta? — Falou com raiva. — Tu sabe quanto custa as peças desse caralho aqui? — Perguntou de novo e eu me afastei alguns passos. Será que se eu pedisse alguém ligaria pro Wallace pra mim?

Ele se afastou uns centímetros, passando a mão no rosto, visivelmente nervoso. A piranha que tava ali fazendo show rapidinho vazou quando viu a merda feita e eu fiquei ali, no olho do furacão. Mano... eu realmente tinha que parar de ser tão impulsiva. Na verdade, eu fiquei até assustada que o maluco ainda não tinha vindo dar na minha cara. Ele me olhava em um misto de incredulidade e raiva, o ódio faiscando nas íris escuras.

— Namoral, mina. — Ele falou num tom controlado. — Tu tem duas opções. Ou tu vai pagar esse caralho aqui agora ou eu vou mandar te dar uma surra que tu nunca mais vai esquecer. — Falou, o olhar assassino em mim me fez recuar mais uns 3 passos. — Bora, qual vai ser?

Tossi de susto, tentando ganhar algum tempo pra eu pensar no que eu poderia fazer. Fiquei calada, sei lá, eu tava meio em choque com a merda que eu tinha feito, então, não consegui dizer nada.

— Beleza, então. Bora. — Falou, me pegando pelo braço e puxando rua abaixo da maneira mais humilhante possível. Mano, essa favela era mesmo o meu karma. Puta que pariu, eu me fodi por aqui a adolescência inteira e em todos esses anos, eu não tinha aprendido nada mesmo. Caralho. Por dentro eu estava rindo e chorando da situação.

— Pera, pera, pera. — Pedi meio no desespero, dando um pulinho pra frente pra tentar me livrar do aperto. E porra, ele apertava forte. — Quanto vai ficar o conserto? Eu pago, sério, eu pago.

Ele parou por um momento, olhando dentro da minha cara de novo. Qual era a dele? Segundo depois, ele assoviou e fez um gesto pra um menino que tava ali na esquina. — Menor pega essa moto ai e leva pra mim lá no Rogério. — Na mesma hora ele foi fazer o que o outro mandou, de modo que segundos depois ele passou com a moto verde toda arranhada ao nosso lado, virando a esquina e parando em algum lugar lá perto. Ai ele voltou a me puxar rua abaixo. Mano, se eu tropessasse naquela ladeira e caisse, eu nem levantava mais do chão.

— Ai, tá doendo, cacete. — Reclamei do apertão que ele dava no meu braço e me debati, tentando me soltar.

— Cala a boca. — Falou, nem olhando pra minha cara. Ele estava me tratando como se eu fosse uma criança birrenta que tinha feito merda e agora precisava ir pro cantinho na disciplina. Porra, o cara tinha uma presença do caralho, parecia que ele ia me explodir só com olhar. Aparentemente não só eu sentia essa pressão, já que todas as pessoas a quem ele se dirigia pareciam atender as ordens que ele dava sem nem pestanejar. Como eu disse, uma pessoa de presença.

Amor na GuerraOnde histórias criam vida. Descubra agora