— Quê? — Ele pareceu não entender.
— Quer tentar ter uma família de novo? Comigo? — Perguntei seriamente, sentindo umas lágrimas chatas se acumulando nos cantos dos olhos.
— Tu ouviu tudo o que eu acabei de falar? — Ele realmente achou que eu tava debochando dele, ou que não tinha compreendido... A verdade é que eu tinha sim entendido, mas eu amava ele de qualquer jeito. A vida é foda, tinha sido especialmente cruel com ele, convertido um menino de 15 num assassino e impregnado a mente dele com desconfiança e uma auto estima duvidosa. Ele tinha tido seus motivos, no lugar dele, eu teria feito a mesma coisa.
— Ouvi... — E não me liga, era o que eu ia dizer. O assobio de um celular interrompeu nossa conversa no meio.
— Que isso? Tu não desligou o celular, Marina? — Ele reclamou, levantando na hora e subindo as escadas. Eu fui atrás, querendo me explicar.
— Desliguei o seu, o meu eu só desativei a internet e o GPS, ô. Eu não tenho como desligar, o Carlos tá pra passar SMS com instruções. — Expliquei.
— Puta que pariu, hein?! — Reclamou, pegando o celular dele e verificando, depois, pegou o meu deu na minha mão. — Vamo ligar pro Russo e ver como tá a situação. Vai do seu, aproveita que já tá ligado.
— Beleza. — Concordei, indo até a janela pro sinal ficar melhor e discando o número do meu irmão.
— Dá aqui pra eu falar. — Pediu e eu devolvi o telefone. Ele veio pro meu lado e colocou a coisa no viva voz pra nós dois escutarmos.
— Nina, graças à Deus, porra. Quer me matar do coração, filha da puta? — Ele parecia muito desesperado. Eu era uma irmã péssima. — O que que houve, Marina? Porra, todo mundo atrás de você.
— Russo, sou eu, irmão. Ela tá comigo, fica de boa. — Falou de uma vez. — Como que tá ai?
— Tá foda, porra. Tá tudo mundo perdido aqui, sem saber o que rolou. Tão rodando o morro atrás de achar ela e o Peralta. Eu cheguei lá e vi o sangue na casa, eu achei que o Peralta tivesse feito alguma maldade com ela... Parceiro... — Ele suspirou aliviado e eu fiquei com meu coração pequeno por causa do sofrimento dele. Eu só imaginava minha família infartando com a cena de terror que estava a casa onde eu tinha ficado.
— Tu tá sozinho, irmão? Se não tiver, vai pra casa e a gente troca uma ideia depois. — Falou, nós sentamos na cama pra continuar acompanhando.
— Tô em casa, vou só mandar a Dalila ir avisar pra mãe da Marina que ela bem ali, segura. — E a gente ouviu ele gritar com a pessoa que provavelmente era a Lila. Ficamos em silêncio esperando.
— Russo como tá o negócio com o Parma ai? E o pessoal do Peralta?
— Po, cara, tá todo mundo tenso pra caralho aqui. Porque, é aquilo, ou passaram o Peralta, ou o Peralta passou a mina. Isso é o que geral tá na cabeça, de qualquer jeito, vai dar merda. Por isso mesmo que tá geral com medo e tão caçando vocês todos. Quando eu e o Parma não achamos você, a gente já ficou pensando no caô que tinha dado. — Explicou. — O Peralta tá morto?
— Tá, irmão. — Contou.— Ele tentou matar a Nina, eu entrei, ele tentou me matar, eu só me defendi. — Alterou um pouco a história, me oferecendo um olhar cúmplice. Agora a história era assim. — Não queria ter matado ele não, porra, mas era eu ou ele. Por mim, antes chorasse a mãe dele.
— Tô ligado. — Ele concordou com a cabeça. — Agora, os cara dele vão ficar putos. Vai rachar a gente, Barbás, certeza. Já tão boladão já, quando ficarem sabendo, capaz até de subir lá e entregar pro M7 a força deles. — Falou. O Barbás passou a mão no rosto de novo, nervoso.
— Irmão, nada disso vai importar amanhã. Nós vamos descer lá e juntar nossas forças com os caras do Mandarim, foda-se se os caras do Peralta não vão estar junto, nada disso vai impedir a gente de ganhar, mas pro nosso bem, o Parma tem que estar do nosso lado. — Falou. — Então, irmão, vai lá, explica pra ele, negocia com ele, fala que tá tudo certo e que ele tem que acompanhar a gente, com o Peralta ou sem o Peralta. Com a tropa do Mandarim do nosso lado, a gente vai fechar tudo aqui.
— Vou dar um jeito, parceiro. O Parma é mais cabeça, ele vai sacar que o melhor é ficar com a gente mesmo. A Nina confirmou que o negócio com o pai dela lá é 100%? — Perguntou e eu me inclinei pra falar mais perto do microfone.
— É 100%. Se eu tiver lá amanhã, os homens do Carlos são nossos. A gente vai subir pra tomar a parte alta. Vai ser tipo um elemento surpresa,o M7 vai achar que é tropa pra ajudar ele, mas não é. Porra, é a melhor chance que a gente vai ter. Tem tudo pra dar certo, Wallace. — Expliquei. — Eu garanto, mano, de verdade.
— Convence o Parma, Russo. Se ele não tiver do nosso lado vai ficar tudo muito mais difícil. — Pediu o Barbás.
— Pode deixar. Eu não vou te dar certeza, mas é o que eu te falei, o Parma é cabeça, ele sabe ler a situação, ele vai vim pro nosso lado com certeza. A gente só vai ter que dar um jeito de manter as tropas do Peralta em controle até amanhã.
— Qualquer coisa, dá um toque no TK. Ele vai te ajudar com o que for do pessoal da Barcelos. Leva ele no meu lugar pra falar com o Parma. Só se liga numa coisa, não deixa a informação da morte do Peralta vazar não, deixa a dúvida no ar ai. Eu desovei o corpo no valão, vai demorar um pouco pra acharem ainda, então a gente vai ter um tempo. — Explicou e eu finalmente entendi o motivo dele não ter largado o cara jogado lá. Porra, o Barbás pensava em tudo mesmo... Que homem!
— Boa, parceiro. — Ele concordou. — Vou dar meus pelos aqui, vou tentar resolver isso ainda hoje, porque ô... tá uma zona. A gente tá perdendo território já, irmão. Os caras da alta tão vindo puto, a gente tá retesando pra caramba. A culpa é disso ai, o Peralta sumiu, tu também, tá geral meio perdido, o comando ficou meio fraco.
— Irmão, aguenta essa noite só. Passa essa visão pro Parma e tomem as rédeas ai. Vocês só tem que segurar a onda até amanhecer, fala isso pra tropa. — Me encolhi. Ia ser uma noite infernal do caralho...
— Vou dar um jeito. — Repetiu, com determinação na voz. O Russo ia segurar as pontas lá hoje, ele tinha. Só isso separava a gente da vitória. Uma só noite, uma só manhã.
— Beleza então, vai correr atrás disso. Só vou te pedir outro favor, irmão, vai me passando os limites onde estão os homens do Misael e os nossos. Até pra eu poder sair daqui onde eu tô com a Nina. — Falou. Ele não quis comentar onde era o lugar, pra preservar a gente, e o Russo nem perguntou, talvez tendo o mesmo pensamento.
— De 2 em 2 horas eu vou ligando pra passar a planta pra você, tranquilo?
— Tranquilo. Valeu ai, Russo, de coração mermo. Tu é meu fechamento, tu sabe? — Barbás se despediu dele.
— Vai ligando pra gente na encolha, irmão. — Pedi pra ele. — E eu te amo, te amo muito. Vai dar tudo certo.
— Eu também te amo, Ninão. — Ele riu, se despedindo e desligando o telefone.

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Amor na Guerra
Romantikㅤㅤ ㅤ"Geral quer ser rei, conspiram pro tempo que não espera. Impérios caem com novos reis, os tempos passam a ser de guerra." MC Marechal ㅤㅤ ㅤO sonho do moleque é ser chefe, o do vapor, do gerente e do segurança também é. O sonho do chefe é sobreviv...