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[...]

[NINA]

A semana estava sendo puta esquisita. Eu quase não tinha visto o Barbás, nos últimos dias ele mal dava as caras na boca e quem tava fazendo o trabalho dele era o TK. Eu quis saber o que tava pegando, mas ele não me disse nada. Eu sei que eu não devia, mas eu fiquei puta pra caralho. Na favela, o clima tava dos piores mesmo. Parecia que tava todo mundo com o cu na mão, já que o Caburé tinha chamado geral e avisado que tava todo mundo de vigilância e que era pra ficar alerta o tempo todo. A gente tava guerra, mas não sabia contra quem.

Me preocupava o Barbás estar sumido logo agora, eu tinha medo dele estar envolvido em alguma coisa. De qualquer maneira, já era sábado e, como sempre, a gente tava na correria pra fechar a boca ali e ir pro baile. Tinha que levar a droga que a gente tinha no depósito direto pra quadra e tinha que estar pronta pra vender já. Final de tarde, todo mundo já tava na preparação. Assim, logo a gente conseguiu fazer tudo o que precisava e nos liberarmos. Xica falava animada em ir pra casa e se arrumar. Eu e o TK nos olhávamos com cara de preocupação. O plano dos caras era entrar na favela hoje, mas como o Siqueira tinha caído, a gente não tinha mais certeza de ia rolar. Pelo mal ou pelo bem, não era um dia bom pra sair pra encher a cara.

— O dia tá feio, Xica. Melhor tu ficar em casa hoje. — Falei pra ela, como quem não quer nada.

— E perder o baile? Ai, nem fodendo.

— Vai ter outro baile, Shirley. Fica em casa. — Insisti, sabendo que era melhor não falar nada.

— Cês tão sabendo de algo que eu não tô? — Perguntou com desconfiança.

— Nem é nada demais, a gente só acha melhor ficar em casa hoje. Tô pedindo, Xica. — Foi o TK quem se pronunciou.

— Cês dois tão ficando velho. Tá foda. — Ela cruzou os braços e entrou pra dentro da casa, pra trancar as coisas.

— Teve notícia do Barbás, Tulio? Desde ontem que eu não consigo falar com ele. — Perguntei, sentindo o coração apertar de preocupação.

— Não, mas relaxa. Ele tá de boa, tá fazendo um negócio pro Caburé só.

— A semana toda?

— É, ué. Relaxa, tá tudo sob controle, Nina.

Eu não falei nada, mas não acreditava no que ele tinha me dito. O clima falava por si só, o ar cheirava preocupação e o humor do CR tava cada vez pior. Era foda, ele tava acuado, eu sabia.

Eu subi pra minha casa e tomei um banho, ficando jogada por ali mesmo na sala, de pijamas. O Russo tava ali com a Dalila e parecia meio tenso também, no final, ele acabou ficando com a gente por pouco tempo, já que ele tinha que ir no baile. Era a vez dele de gerenciar os vapor que iam ficar pela festa, então, a responsabilidade tava chamando. Eu e a minha irmã de coração ficamos vendo TV e comendo sorvete... tanto que eu quase esqueci qie estava prestes a surtar de nervoso.

É claro que não ia durar muito a calmaria. Umas 2 horas depois, o CR me ligou, mandando eu ir pro baile, eu até perguntei o motivo por ele me chamar assim do nada, mas ele nem respondeu. Mandou eu ir e desligou. Eu fui, né? Com meu cu na mão, mas fui. Subi, me troquei e peguei um mototáxi até a concentração do baile. Pra mim, o Caburé tava com medo de começar uma invasão e ter algum cara dele dormindo em casa, enquanto a merda tava dando. Foi por isso que ele tinha chamado a gente.

Botei o bico do fuzil pra cima pra poder passar por entre aquele mar de gente e chegar até a casa que os caras faziam de camarote. Subi pra lage e achei o CR lá no canto, cercado de segurança. Hoje parecia que todos os envolvidos tavam ali, orbitando o Caburé enquanto a música alta botava o grave pra tremer a gente.

— Senta ai, indiazinha. Bebe com a gente ai. — Chamou, dando um copo na minha mão, ao qual ele encheu de cerveja.

— Valeu. — Agradeci, estranhando o apelido que ele tinha me dado. Só uma pessoa me chamava de indiazinha e esse era meu pai, quando eu tinha uns 5~6 anos no máximo. Antes dele ir comprar cigarro e nunca mais voltar. É... a vida tem dessas. — Por que índia?

— Tu tem cara de índia. — Ele respondeu, rindo e batendo o copo dele contra o meu.

Eu não tava muito com saco pra dançar e curtir a noite, acho que nem o pessoal que tava ali junto com a gente. Apesar de poucos saberem que realmente queriam invadir a favela naquela noite, pelo que o Caburé mandou durante a semana, todo mundo tava na expectativa de dar merda.

E deu... por volta das 2h da manhã, os estompidos de tiros começaram na parte baixa da favela.

Amor na GuerraOnde histórias criam vida. Descubra agora