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[NINA]

▷ DOIS MESES DEPOIS ◁

Um celular tocou, me despertando do sono. Era bem cedo de manhã e era sábado. A gente só precisava descer pra boca a tarde, então, eu decidi ignorar o 'trin trin' irritante daquela coisa. Bom... isso foi nos primeiros segundos, depois o barulho me irritou e ai eu rolei por cima do Barbás pra pegar o meu celular que tava em algum lugar do chão do quarto.

— Que foi, porra? — Perguntou ele com a voz rouca e sonolenta. Os olhos só meio abertos, me olhando esquisito.

— Meu celular tá tocando, ué. Não tenho culpa. — Rebati, pulando pra fora da cama dele. Peguei o aparelho e atendi a ligação insistente, sem nem ver quem era. Eu tava morrendo de sono, na boa. Essa madrugada eu não tinha dormido nada, até porque eu tinha dado até cansar e não ter forças nem mais pra esticar a perna.

— Alô? — Falei baixo, indo pro banheiro pra não acordar o William. Se ele viesse de tititi pra cima de mim, a gente ia brigar feio. Eu com sono era um bicho, ele era pior ainda.

— Quem tá falando? — Uma voz feminina que eu reconheci perguntou.

— Tu me liga e não sabe quem eu sou? — Rebati, de mal humor. Eu queria voltar pra cama... — Passa trote pra puta de tua mãe, falou? — Eu ia desligar, quando a outra falou uma coisa que chamou minha atenção.

— Que? Tá maluca, piranha? — Respondeu no mesmo tom irritado que eu. — Desde quando esse número é teu?

— Hã?

— Escuta, foda-se quem tu é. Não esquento a minha cabeça com as putinhas que o Barbás come. — Senti minha cara ficar quente de ódio. Pus no viva voz e parei pra olhar a capa do celular... porra, não era o meu aparelho. No visor tava o nome Larissa e a foto da mina que eu sabia ser a ex do William. — Agora vai lá e bota ele no telefone. Preciso falar com ele.

— Que? Com quem tu acha que tá falando pra dar ordem assim, puta? — Rebati raivosa. Cadela ignorando do caralho. — Escuta aqui você, eu não sou tua empregadinha não. Vai tomar no seu cu, se tu quiser falar com ele, se vira. — E desliguei.

Eu já ia voltar pro quarto quando ela ligou de novo e o Barbás gritou um: "desliga essa porra ai" pra mim. De novo, eu atendi.

— Cara, aqui é a Larissa. Dá pra falar isso pra ele? — O tom era mais ameno, mais humilde. — Fala que o filho dele tá com febre e eu preciso falar com ele urgente, cacete.

— Filho? — Meu coração palpitou na hora e eu me deu um apagão do cacete. Filho? Que?

— É, porra. Ele não deve ter te falado, mas ele tem um filho que precisa dele. Fala com ele. — Ela parecia desesperada e eu estava ficando mais ainda.

— Tá, ele vai retornar. — Garanti, desligando o celular e sentando sobre a tampa da privada meio sem chão. Caralho, porque ele não tinha falado nada? Mano, a gente se via todo dia nesses últimos meses (e transava quase na mesma frequência... é). Sei lá, essas semanas foram simplesmente normais na nossa vida. A gente trampava, ele me treinava em tiro quase todos os dias (e agora o Russo me ajudava também) e eu tinha entrado na academia pra fazer muay thai, pra saber alguma coisa de luta corpo-a-corpo. Eu e ele tinhamos ficado puta próximos, tanto que já rotina eu olhar pra cara dele. A única coisa que diferia a gente de um casal de namoradinhos é que a gente nunca assumiu nada e nem deixava ninguém saber. Na verdade, era um acordo silencioso entre a gente, até porque o que ninguém sabia, ninguém estragava... Então por que porras eles não me contou que tinha um filho?

Fiquei ali, tentando controlar o ódio que eu tava sentindo dele, quando a porta do banheiro abriu de repente.

— Qual foi? Vai voltar pra cama não? — Ele perguntou. — Não quero ficar sozinho lá, vem dormir comigo, Nina.

— Não é o cacete do meu celular que tá tocando. — Quase joguei o celular nele e eu vi o rosto dele endurecer por causa do meu comportamento. Beleza, que se foda. Eu tava puta e não me importava se ele ficasse putinho também. — Tua mulherzinha tá te chamando, vai ver o que ela quer. — Falei com amargor, virando as costas pra ele e começando a catar minhas roupas pelo quarto.

— Minha mulher? Que tu tá falando, porra? — Ele perguntou com o tom de voz mais alto.

— Teu filho tá doente. Teu filho. — Demarquei bem as palavras. — Aquele que tu nunca se deu a trabalho de dizer que existia? Então.

Ele parou por um momento, olhando pra minha cara meio descrente, meio chocado.

— Meu filho? Tá doente? — Ele falou meio afoito, pegando o celular e olhando alguma coisa lá.

— É. Sua mulher ligou avisando. — Nessa hora eu já tava colocando minhas roupas de novo. Eu odiava usar uma roupa duas vezes, mas eu não tinha muita opção, então, só engoli em seco e me vesti pra sair dali antes que eu socasse a cara do Barbás e ele resolvesse mandar me darem uma surra.

Ele veio pro meu lado, pegando no meu braço com força. Eu olhei pra ele transbordando de raiva.

— Não é minha mulher, porra. Eu já te falei isso uma porrada de vezes.

— Parece que é. Como foi que ela me chamou mesmo? Ah é, eu sou uma das putinhas que tu trepa. — Falei, me sentindo humilhada. Na boa? Eu não ficava com homem casado por esses motivos mesmo. 1) Eu tinha dignidade. 2) Ninguém merecia ser traído e 3) Eu não tinha paciência pra corna (ou pseudo corna nesse caso) afetada. Deu um tapa na mão dele e coloquei minha blusa, prendendo meu cabelo em um coque improvisado ali na hora. Ele tava todo emaranhado e eu não queria ficar ali por mais tempo só pra pentear ele.

— Como é que é? Que que ela falou pra tu mesmo? — Perguntou, mas eu não tava afim de papo e fui me adiantando. — Pera ai, porra. — Eu ia saindo, quando ele me puxou pra dentro do quarto de novo e fechou a porta, me prensando na parede.

— Me larga, eu vou te bater, cacete.

— Para de show, porra. — Ele me sacudiu. — Fala o que ela te falou.

— Que o teu filho tá com febre, vai procurar ele. — Levei um segundo para me acalmar um pouco, antes de falar de uma vez. De repente me bateu um cansaço danado e uma humilhante vontade de chorar. Sei lá, eu me sentia quase traída por ele não ter me contado algo tão vital na vida de uma pessoa quanto um filho.

— Não tô falando sobre ele, eu quero saber o que ela falou pra você, que te deixou tão surtada.

— Não é o que ela falou. — Deu um soco no peito dele com a parte de baixo da mão, mas que parecia não ter feito nem cosquinha. Que ódio. — É tu nunca ter falado nada pra mim sobre ele e olha que tu teve uma porrada de chance de ter dito. Sabe o que é pior? É que ela falou como se já soubesse que tu não ia falar nada e insinuou como se eu fosse qualquer uma e olha só... tu sabe porque ela insinuou isso? Porque tu me trata como uma qualquer. — Empurrei ele com força pra me libertar do aperto dele e conseguir abrir a porta. — Vai atrás do teu moleque, sabe lá o que ele pode ter. — Falei.

Ele já estava com o celular na mão, ligando para aquela mulher pra saber o que tinha acontecido e eu estava ali, quase em choque e com uma raiva borbulhante dentro de mim. Era sempre assim, sempre que ela aparecia, parecia que eu ficava em segundo plano sempre e isso começava a me irritar. E dai que ele não tinha nada oficial comigo? Ele me devia respeito, porra. Era o mínimo. Fui andando pra casa, aproveitando o clima nublado e o meu humor de merda, pra poder pensar um pouco e botar as ideias em ordem. Fui direto pro chuveiro tomar um banho e tentar dormir um pouco. Mais tarde, eu tinha que ir até a 1 encontrar o Caburé por motivos que só ele sabia. Ontem ele tinha mandando uma mensagem mandando eu ir lá, sem dizer a porra do motivo, então, eu só podia imaginar o que caralhos ele ia querer comigo.

Amor na GuerraOnde histórias criam vida. Descubra agora