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— Eles vão lá fazer dar certo. — E apontou pros caras. — E tu vai ficar aqui esperando a hora de ir cobrir eles.

— Não, porra, eu vou. — Resolvi discutir com ele no meio da hora H. Era muito tiro do nosso lado, às vezes ficava foda de ouvir. Os outros começaram a ficar impacientes, a gente via. Não era bem uma boa hora pra ter piti de casal. — O plano é meu, é justo, porra.

— Quem manda nessa porra aqui sou eu, Marina. — Respondeu por cima e eu afastei ele com o corpo da arma, quando tentou pegar em mim de novo. — E eu tô falando que tu vai ficar aqui. Ou ninguém vai.

— Eu vou. — Respondi puta com a incompreensão dele, dando as cotas e passando pelos caras que ficaram parados esperando pela instrução dele. — E vou sozinha nesse caralho, se é assim que você quer.

Fui até o final e virei pra ver ele, estalando o punho com raiva e fazendo um sinal com a mão pros outros irem. Eles se juntaram a mim e todos nós nos esgueiramos pelos becos apertados que era os do Lajão ali, saíndo numa viela mais larga que dava quase de frente pra tabacaria. Ali eles me botaram pra trás deles.

— Fica na frente não, Índia. Tamo pedindo na boa, se alguma acontecer contigo aqui vai ser uma merda. — Um deles falou comigo, apontando o fuzil pro alto. — Aqui vai ser pica.

— Tô ligada. — Ergui o meu também. Fiquei no meio deles, fomos devagarinho pelo canto, até sair na lateral do prédio. Lá, o último passou um rádio mudo pro Barbás. Ai... Foi só localizar os caras. Apontei onde tava cada um, informação que eu tinha gravado bem do ponto onde eu tava anteriormente. A hora que a gente começou a abrir fogo contra eles, na hora a maior parte deles foi atingido. Os que não tinham deitado, desviaram a arma pra gente, fazendo todo mundo recuar pra caralho ali. O primeiro da linha tomou um no antebraço. Pouco tempo depois, a visão que a gente teve na rua, foi o Barbás e o Túlio vindo na frente, dando muito tiro nas últimas lajes. Realmente, a gente tinha aberto uma passagem, a qual eles não perderam tempo pra aproveitar. Assim, a gente tinha tomado a curva, que era o problema até então. O resto da rua só se seguiu de maneira espontânea, abrindo as portas da Gávea* pra gente.

Nós nos juntamos ao grupo principal um tempo depois, onde deram uma força pro amigo que tinha tido o braço comprometido. Barbás estava me olhando com um misto de raiva e alívio nos olhos lá na frente.

— Já dá pra sair? — Perguntei, ligeiramente bem humorada por ter conseguido o que eu pretendia, apesar dos apesares.

— Nunca mais faz isso, irmão. — Brigou, estreitando os olhos pra mim.

— Deu certo, não deu?

— Foda-se, eu mandei tu ficar. Aqui ou tu me escuta, ou tu vaza, é assim que funciona. Não dá pra ficar batendo boca na pista não. — E ele tava puto. Novidade...

— Tá, desculpa, mas tu tem que me dar mais liberdade, porra. Você tá me tratando diferente dentro da sua tropa e isso tá errado. — Rebati, parando do lado dele sem soltar a arma. Sempre em postura de combate, mesmo que nada mais tivesse acontecendo por ali. — Eu não sou diferente dos outros, mano.

— Aham, valeu. — Ele rebateu, andando uns metros à frente pra verificar como tava a Gávea. — O dia que qualquer um deles tiver dormindo comigo, na minha cama, tu repete isso ai que tu falou.

Eu ia rebater, mas o Barbás pegou o rádio pra pegar informação dos outros. Até então tava tudo de boa, o povo que vinha pela principal já tava quase alcançando a gente. Tudo 10. Marcamos posição pra gente e por eles ali. Quando chegassem, era terminar de correr a Rua 3. Naquele momento, porém, um negócio estranho chamou minha atenção do nada...

Meus ouvidos tavam atentos pra qualquer sinal de tiro nas redondezas. Todos estavam vindo da nossa esquerda, dava até pra ver alguns traçantes passando pra lá. De certa forma, quase todos os focos de tiro estavam próximos, ou numa mesma linha, já que todo mundo tava avançando junto, pra não abrir brecha pra ninguém ser fechado pelos alemão. O que eu notei, por outro lado, foi uma rajada longe. Nas nossas costas.

Franzi o cenho, achando estranho, mas eu me convenci de que era só uma impressão. A briga era ali na frente, não lá trás. Não tinha nem sentido isso... Me mantive na posição ali, tentando tirar aquilo da cabeça. Era só paranóia minha que tava preocupada com a minha família. Só. Estávamos ali, esperando a ordem de seguir, quando eu ouvi de novo as rajadas longe. Recuei alguns metros pra trás, pra ter certeza que tava vindo dali mesmo, já que era fácil se enganar num ambiente como aquele, onde tinha foco de tiro em quase todo lugar. Porém, não, eu não tava alucinando. Ficou mais claro, quando voltei pra Nova. Eu tava ouvindo fogo vindo de trás.

Meu coração disparou e eu voltei correndo pra perto do Barbás.

— Will, tá ouvindo? — Perguntei, agarrando o braço dele, que me olhou esquisito. — Tiro.

— Óbvio que eu tô ouvindo tiro. — Ele deu de ombros, como se não entendesse o que eu tava tentando dizer. Os barulhos que eu tava ouvindo vindo da baixa cessaram por um momento, me fazendo parecer louca.

— Não, cara. Tiro nas nossas costas. Vem cá e presta atenção. — Puxei ele um pouco mais pra dentro da curva e esperei. Um tempo depois, mais uma rajada foi ouvida. Uma única corrente de tiro e parou de novo.

— Que porra é essa?! — Ele pareceu surpreso também. — Calma ai.

Amor na GuerraOnde histórias criam vida. Descubra agora