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— Nina, assim que ele chegar, tu tem que mostrar isso aqui pra ele. — E os colocou no meu colo. — É uma passagem de ônibus pro Uruguai e uma pra Argentina pra semana que vem. Tão no nome do irmão dele, que já tem uma participação confirmada no congresso do trabalho dele, então, não vai ser ele a embarcar. Só pode ser pro Misael, a gente já sabe que esse merdinha tá se escondendo atrás da família dele, agora ele vai sair do país com a identidade do irmão. Se ele embarcar nisso aqui... — E bateu o dedo sobre os papéis. — A gente perde ele pra sempre, ele nunca vai pagar pelo que fez com o meu filho.

— E com meu irmão... — Pisquei, sussurrando pra mim mesma.

— É. E ele tem que pagar com a porra da vida dele por isso. — Ela falou, fechando as mãos em punhos. O celular dele vibrou no seu bolso e ela desligou. — Eu tenho que voltar mesmo, mas por favor, não deixa essa informação vazar daqui. Fala pra ele e só pra ele. Quanto menos gente sabendo, mais difícil vai ser pro M7 fugir.

— Prometo. — Concordei com a cabeça.

— Obrigada. — Ela disse, se levantando. Levei a Larissa até a porta e ela seguiu num ritmo apressado dali em diante. Voltei pra dentro de casa e passei a analisar o que ela tinha me entregado com cuidado. Ele ia fugir... o corno do Misael não ia ficar pra segurar o rojão dele. A gente tinha que chegar nele agora ou ia ser tarde demais. O tempo tava correndo outra vez, e contra nós como de costume.


[...]


Dei as cópias das passagens na mão do Barbás assim que ele pisou em casa e contei tudo o que a Larissa tinha me falado. Ele ligou pra ela pra perguntar as dúvidas dele depois e eu fiquei ali, tensa como sempre. A perspectiva de que ela escorregar por entre os nossos dedos me fazia sair de órbita. Passei tanto nervoso que minha cabeça tava explodindo, eu não tinha conseguido comer porra nenhuma.

— E ai? — Perguntei assim que ele desligou.

— Ele esperou a poeira baixar e a polícia parar de marcar em cima dele, pro irmão mexer os pauzinhos pra tirar ele do país. Filho da puta. — Ele disse, estalando os dedos das mãos. — A gente tem que pegar ele até o final da semana que vem, o papo era deixar pra segurar ele a hora que ele desentocasse pra fugir. Pra ter certeza que ele ia estar no lugar...

— Que? — Não entendi de primeira. — Pera, tu sabe onde ele tá? Aquele endereço lá do Mandarim...

— É de um condomínio ali da Barra, é. É um apartamento do cunhado dele, viram movimentação do irmão lá. Então... É onde eu acho que ele tá. — Confirmou as minhas suspeitas e as do Túlio. — É onde o Mandarim acha também. Mandei um cara neutro pra ir lá checar essa porra pra mim.

— Como? Não vai acabar assustando ele, Barbás?

— Não, po, eu sei o que eu tô fazendo. Ele vai pegar uma roupa de entregador de iFood e bater lá na porta pra ver o que dá. Vai sondar os porteiros. Nos próximos dias, eu vou ter certeza se é lá que ele tá entocado ou não.

Concordei com a cabeça, me levantando pra futricar no armário do banheiro em busca de algum remédio. Eu queria conseguir parar de pensar naquilo, me deixava ansiosa, então que não queria nem mais conversar sobre o assunto. Tava confiante que o Will saberia o que fazer.

— Tu fez comida? — Ele veio me encontrar na porta do banheiro de baixo.

— Fiz não, desculpa. Não tava com muita fome, mas eu posso ligar pro restaurante da tia ali e pedir pra entregarem aqui. — Comentei, revirando as cartelas até achar um dipirona.

— Tu não comeu nada? — Questionou, me olhando meio preocupada.

— Não, eu não tô muito legal hoje. Esses assuntos ai me deixam nervosa, ansiosa, me enjoa legal. — Respondi, pegando o comprimido e indo até a cozinha pegar um copo de água. — Quer que eu peça a comida?

— Não, eu vou arranjar alguma coisa pra comer aqui. Vai deitar se tu tá passando mal. — Mandou e eu fiquei olhando ele pelas costas. É... Barbás não levava jeito nenhum pra cozinhar. — E eu vou fazer um suco pra você. Porra é essa de ficar sem comer, Nina...

— Uau, que homem dedicado. — Ri, terminando o meu copo e colocando na pia. — Vou ficar esperando meu suco no quarto. — Brinquei, dando as costas pra ele. Eu não queria realmente um suco, eu tava de boa sem comer nada por enquanto, mas ia ser divertido ver como ele ia virar.

Fazia parte da nossa rotina de casal, a qual eu tinha aprendido a gostar todos os detalhes. Will era um homem cheio de lados, de nuances, tinha os seus altos e baixos... mas era muito bom pra mim, eu não tinha do que reclamar. Até pelos seus defeitos eu sentia algo além do tolerância, eu gostava até do que me irritava. Ali, na minha casa, tudo era bonança. Até mesmo as tempestades...

Amor na GuerraOnde histórias criam vida. Descubra agora