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Ela ficou calada por um tempo, só olhando pra mim. Eu sustentei o olhar dela, determinada a vencer aquilo na conversa com ela e não ter que fazer as coisas da pior maneira.

— Ele não tá mais com o número que eu tenho, muda sempre pra dar perdido na justiça. — Disse. — Me dá uma semana que eu vou conseguir arrumar o contato dele pra você. Vou tentar os braços dele, a irmã...

— Eu não sei se eu tenho uma semana. — Rebati. — Se aparecer tropa dele aqui na nossa porta, a gente tá morto.

— É só o que eu posso fazer, Nina. — Disse com seriedade e eu não tive outra opção a não ser aceitar. Já era uma grande coisa aquilo.

— Tá bom, eu vou tentar ganhar tempo. Começa a correr atrás disso pra ontem. — Pedi, me levantando pra dar um beijo na bochecha dela dela. — Tenta dormir, vocês tão seguros aqui agora, pelo menos.

Ela concordou com a cabeça e me levou até a porta. Eu sentia que ela não tava em paz e nem eu. De qualquer maneira, era melhor que a gente conseguisse descansar um pouco agora. Assim, eu deixei ela ir e fui voltando pra casa do Russo. Sentei na sala dele, ainda sem sono nenhum e meu pensamento foi direto pro Barbás. Ele não tinha falado comigo depois do que rolou mais cedo e eu me afastei também, precisava ficar em paz com minhas angústias um pouco. A verdade é que, por mais que eu amasse aquele homem, o comportamento dele nos últimos dias tava sendo puta assustador pra mim, a coisa com o Pedrinho só piorou tudo umas 10x. Me decepcionei com as coisas que ele me disse, com o jeito meio distante dele... tudo isso quebrou o meu coração pra caralho. A gente tava ficando tão fissurados com o tanto de coisa pra fazer, com a nossa missão, que acabamos nos perdendo no meio de tudo isso.

E eu ainda estava aqui, triste, magoada e pouco disposta a correr atrás dele pra acertar as coisas.

De alguma maneira, porém, ele parecia estar com os pensamentos conectados aos meus. Vários quilômetros acima, eu também estava na cabeça dele... foi o que eu notei quando meu celular tocou no meio daquela madrugada fria e o nome dele apareceu na tela. Atendi e não falei uma palavra sequer, sentindo o meu coração pesar no peito. Ele também não falou nada no início, então, eu fiquei ouvindo sua respiração do outro lado.

— Acordei você? — Perguntou com um tom diferente na voz... ela era baixa, mas não com o mesmo vigor de sempre.

— Não consegui dormir. — Confessei, respirando profundamente e me encolhendo no sofá branco do Wallace.

— Nem eu. — Disse. Um silêncio sepulcral se seguiu, de novo, ninguém se pronunciou. Mesmo assim, não era um silêncio esquisito... era só... confortável. Acho que nenhum de nós tinha realmente algo pra dizer, ou então não sabíamos como dizer.

— Você... me ligou pra dizer boa noite? — Perguntei, deitando a cabeça no estofado. Eu estava cansada, esgotada... Só de ouvir a voz dele, meus olhos se encheram de lágrimas.

Ele demorou a responder e bufei, virando de frente, passei a mão livre pelo meu braço e parei ela sobre o peito. Barbás não era assim, muito pelo contrário, ele costumava ser um homem bem objetivo (e por isso até um pouco insensível). Ele só dizia o que queria bem na lata, os outros que dessem um jeito de não se magoar com o jeito dele de lidar com a vida.

— Não. — Murmurou. — Eu liguei porque... — E mais uma pausa de alguns bons segundos se seguiu. — Eu menti, Nina.

— Que?

— Quando eu disse que não precisava de ninguém, eu menti. — Confessou e eu ouviu a voz dele vacilar. Junto, o meu coração pulou uma batida. — Eu preciso de você. Muito. — Sussurrou. O fungar que se seguiu me fez entender muito bem o quão abalado ele tava. A lágrima que eu tava segurando rolou pela minha bochecha e eu levei uma mão aos olhos, enquanto o choro me calava de uma vez pro todas. E ai eu ouvi ele chorar também.

Aquilo era muito chocante pra mim. Talvez porque ele não demonstrava o que tava sentindo, não deixava a dor transparecer e se transformar em lágrimas como acontecia muito comigo. Por ser tão fechado era difícil saber o quão as coisas que estavam acontecendo acabavam mexendo com ele, Barbás não me deixava saber o que realmente acontecia dentro do seu coração. Por isso, quando ele quebrou, ele me quebrou duas vezes mais. Eu não conseguia nem imaginar a agonia que ele sentia por dentro por causa do filho, dos amigos que morreram sob o comando dele... Eu tava sofrendo, agora sabia que ele também e talvez muito mais do que eu.

— Me desculpa. — Sussurrou.

— Will... — Disse o nome dele, muito chorosa. — O que houve?

— Eu preciso de você. — Repetiu com pressa, como se a vida dele dependesse disso.

— Agora?

Amor na GuerraOnde histórias criam vida. Descubra agora